sexta-feira, 3 de outubro de 2014

EXPERIÊNCIAS E SUCESSOS COM O CURSO DE AGRICULTURA NATURAL EM MOÇAMBIQUE


ELSA NHELETI CHISSANO
Funcionária administrativa

Meu nome é Elsa Nheleti Chissano, sou funcionária administrativa da Woodmart, empresa que trabalha com madeira; sou formada em Turismo e Gestão de Empresas Turísticas.

Tomei conhecimento do Curso de Agricultura Natural através de uma prima que é membro da Igreja Messiânica Mundial de Moçambique, mana Angélica. Fiquei curiosa, pois o nome do curso sugeria algo diferente.

De agricultura conhecia muito pouco. Agora sei que quase nada mesmo! Os meus avós paternos sempre foram grandes agricultores (machambeiros) e talvez por isso tivesse em mim algum conhecimento geral, hábitos e costumes sobre agricultura. O meu pai trabalha com botânica e plantas medicinais mas mesmo assim tudo que aprendi nesse curso foi uma grande descoberta para mim. Foi uma grande novidade!

A curiosidade por algo diferente, a necessidade de preencher os tempos vagos com algo divertido, o quebrar da rotina, tudo isso, aliado à curiosidade natural por culturas, hábitos e costumes diferentes dos meus levou-me a grandes mudanças de comportamento. Levou-me, sobretudo, a ver o mundo com outros olhos, a saber ver no escuro, a pensar de forma diferente e finalmente a saber respeitar a Natureza, mãe de todos nós.

Graças a esse curso hoje sinto-me uma pessoa diferente. Existe mais harmonia na família, aprendi a ser paciente e tolerante, aprendi que tudo na vida e uma questão de carinho, amor e respeito pela natureza.

As diferenças me fascinam, gosto de experimentar e aprender algo diferente e aparentemente o curso tinha muito de diferente!

Cresci a saber que sempre devia plantar algo que servisse não so para o consumo de casa mas que pudesse também ser moeda de troca para adqurir outros tipos de produtos. Durante o curso essa percepção mudou, passei a ver a machamba não apenas como uma fonte de alimentação em casa mas também como fonte de harmonia dentro das famílias, como um equilíbrio, um dos pilares basilares da mesma. Agricultura Natural é muito mais do que plantar e colher, vender e comer; Agricultura Natural é o equilíbrio da própria Natureza, e saúde, harmonia, amor e bem-estar.

Comecei a implementar o conhecimento obtido durante as aulas (sim, de facto nossas aulas eram verdadeiras doações de conhecimentos por parte de nossos professores) e aos poucos fui ganhando as minhas próprias experiências.

As primeiras sementes lancadas no quintal da casa dos meus pais, onde resido, foram-me oferecidas carinhosamente pela colega Olga durante as aulas (sementes de couve tronchuda). Hoje não só produzo as minhas próprias sementes como também as distribuo por entre amigos e familiares.














Nesse curso aprendi que o importante não é apenas conhecer técnicas e implementá-las, mas também saber agradecer e compartilhar!

No principio foi um pouco difícil pois as pessoas com quem vivo, principalmente minha mãe e funcionários domésticos, nasceram e cresceram em ambientes de machambas. Portanto conheciam muito bem as suas técnicas e por isso se recusavam a aceitar as diferenças entre a agricultura convencional e a Agricultura Natural. Que agricultura pode não ser natural? Essa era a pergunta que não parava de soar nos meus ouvidos.

Se antes deitavam água com restos de vegetais (tomate, pepino, pimentos), hoje todo mundo colabora na hora de proteger os canteiros, na recolha e aprovisionamento de capim e folhas secas para elaboração de composto, que é a matéria usada para fertilização do solo dos canteiros. Inclusive há disputa para a rega dos mesmos! Se antes eu disputava espaço para montar os canteiros, pois nossa casa esta em obras, hoje a obra tende a adaptar-se aos espaços entre os canteiros.

A parte que mais gostei do curso foi a de hortas caseiras e jardins produtivos, pois abriu-me a possibilidade de criar novas formas de canteiros, diversificação de cores, melhorando a beleza do meu ambiente e assim mudar a minha própria vida.


 










(Jardim produtivo em implantação na residência de Elsa)
 
 
Consegui produzir rabanetes, morangos, erva-doce, coentro e outros no meio de pedras numa tentativa de criar um jardim produtivo porque acreditei que tudo era uma questão de amor, e paciência. Sobretudo acredita que era uma questão de gratidão.

As primeiras mudas de morangueiros para iniciar a famosa experiência de jardim produtivo recebi da colega Amélia. Melita, como carinhosamente a chamamos, é quem mais tarde viria a ser uma das grandes companheiras numa dedicação de caracter social, num centro de acolhimento de crianças portadoras de deficiências mantido pela missão católica “Dom Orione”, onde conjuntamente com as outras colegas de curso Angélica e Filomena, começamos um processo de remodelação de uma horta caseira, implementando tudo o que aprendemos durantes as aulas: beleza, criatividade e utilidade.

(Horta da Missão Dom Orione de Moçambique que está a ser reformulada por Elsa e mais algumas alunas do Curso de Agriculrura Natural)

Após a magnifica experiência com os morangueiros em casa, aprendi que não valia a pena disputar espaço para os meus canteiros, de modo que fui me encaixando, muito agradecida, entre os espaços que sobravam da obra. Porém, hoje o “dono da obra”, e meu pai, sugere que termine a montagem do meu jardim produtivo para, de acordo com os espaços que sobrarem, encaixar as pequenas infra-estruturas que lhe faltam construir. Sem dúvida foi uma vitória para mim, mas ainda há muito por se fazer.











(Morangueiros em produção no jardim Produtivo)


A parte relacionada a alimentação também foi muito importante. Aprendi a saber o que comer, como comer, e sobretudo a ter verdadeiro prazer em comer. Para os próximos cursos, sugiro que haja a componente nutrição, informação básica para uma boa alimentação e alguns exemplos claros dos elementos obtidos na hortas que produzimos.

Agradecer aos professores, especialmente a professora Juliana que me ensinou a ter essa paciência e sobretudo me deu coragem suficiente para matar a minha curiosidade, fazendo as minhas próprias experiências. Professora, como plantar maçã? E o gengibre? Perguntava eu muitas vezes e a resposta da professora Juliana era incansavelmente a mesma: Não sei, Elsa. Experimenta!























Pois de experiência em experiência descobri que era uma questão de sentimento. Tudo o que eu precisava era de um pouco de carinho, curiosidade e fé. A Natureza me dava o resto.

Agradecer aos colegas e familiares que nesse momento têm me ajudado a melhorar esse jardim que se tornou minha vida.

Com esse curso aprendi a olhar diferente para o meio em que vivo. Por exemplo, se meu vizinho deita as garrafas plásticas no lixo porque ele vê nelas algo sem valor, eu já vejo em cada garrafa uma oportunidade de criar algo diferente, um novo vaso por exemplo, uma experiência, uma nova vida.

A todos, espero e conto com vosso apoio. Vamos todos juntos construir jardins produtivos nas nossas vidas!


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