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Produção de doces e geléias
(Capítulo 4 do Módulo 3 da apostila do Curso de Agricultura Natural)
A produção de doces e
geléias (jams)
é uma alternativa não apenas para agregar valor à produção da
machamba mas também uma forma de conseguir preservar parte de nossas
colheitas. Se bem conduzida,
a produção de doces, geléias, licores, etc. implica em redução
de parte do teor de água de muitos dos nossos alimentos e também da
introdução de açúcar que, ao aumentar a pressão
osmótica do
nosso alimento processado, reduz a ação de microrganismos
degradadores. Já para o caso dos produtos fermentados como os
licores, o teor de álcool no final do processo é que irá
desempenhar esse papel de preservação. Mas cuidado! Não existe
magia nesse tipo de processamento e todos os cuidados com
higienização, preparo do ambiente de trabalho, cuidado com a
escolha dos alimentos nos pontos de maturação corretos e a própria
técnica de fabrico são fundamentais para garantir a qualidade dos
produtos finais e consequentemente alcançar os rendimentos desejados
bem como os tempos de preservação possíveis para cada caso.
Existem vários tipos de
doces. Como exemplo podemos citar as frutas cristalizadas, os doces
em caldas, também chamados de compotas, os doces pastosos e as
geléias. As variações nas receitas são quase infinitas, se
lembrarmos que muitos doces podem ser combinações de dois ou mais
ingredientes como no caso do doce de abóbora com coco ou ainda as
compotas mistas de de papaia e manga, e muitos outros.
Preparo dos frascos de
vidro para armazenamento dos doces e geléias
Tão importante quanto
preparar corretamente nossos doces e geléias é o cuidado que
devemos ter com a higienização dos materiais com os quais iremos
cozinhar. E além disso, será fundamental conseguirmos esterilizar
corretamente os frascos de vidro nos quais iremos armazenar nossos
produtos.
O ideal é que sejam usados
frascos novos, com tampas metálicas. Entretanto, é sabido que em
muitas regiões esses materiais não estão prontamente disponíveis,
principalmente no interior das províncias de muitos países
africanos. Sendo assim, ao escolher algum frasco de vidro que tenha
sido usado anteriormente, assegure-se de que não tenha armazenado
nenhum tipo de produto perigoso à saúde como venenos, detergentes,
combustíveis, etc.
O processo de esterilização
dos frascos é relativamente simples de se fazer. Basta ter um grande
caldeirão com água fervente e deixar os materiais nesse processo
por pelo menos 5 (cinco) minutos. Isso inclui tanto os frascos como
as tampas metálicas. Dessa forma, todo e qualquer resíduo de
material orgânico onde eventualmente possa ter crescido e
desenvolvido algum tipo de microrganismo prejudicial à saúde, irá
ser retirado e os microrganismos mortos.
Os frascos esterilizados dessa
maneira não podem mais ser lavados em água corrente e devem ser
guardados tampados com todo o cuidado até o momento do uso.
Recomenda-se que eles sejam armazenados numa caixa plástica com
tampa para não mais serem contaminados com materiais estranhos. A
sua manipulação tembám precisará ser feita com o auxílio de
luvas limpas ou mesmo algum tipo de pegador ou pinça. Se estes
cuidados não forem tomados, todo o processo de esterilização
deverá ser repetido antes dos frascos serem utilizados.
Doce de abóbora
O cultivo das abóboras pode
ser tornar um negócio bem rentável para o agricultor camponês.
Além de ser um alimento muito nutritivo e saboroso, sua
versatilidade culinária pode agregar considerável valor à cadeia
de produção agroecológica da propriedade camponesa. Assim, as
abóboras podem ser usadas em cremes e sopas, além de vários tipos
de doces e geléias. Vale ressaltar que todas as partes do fruto são
comestíveis e nutritivos e, na medida do possível, será muito
interessante aproveitá-lo integralmente. As sementes podem, por
exemplo, ser torradas e depois consumidas inteiras ou ainda
trituradas e misturadas em produtos de panificação; as cascas podem
ser fritas como batatas ou ainda cozidas e usadas como ingredientes
de sopas; o miolo, aquela “rede” que prende as sementes no
interior do fruto, pode ser usada até como uma espécie de
espagueti. Contudo, para a produção de doces, o mais comum é
usarmos a polpa que deverá estar bem madura. A seguir vamos dar, a
título de exemplo, uma receita típica de doce de abóbora com coco.
Mas atenção! Esta receita não é única e nem imutável. Tenha em
mente que sua criatividade e talento na cozinha poderão fazer a
diferença na hora de se produzirem verdadeiras iguarias que
certamente irão atrair muitos clientes e compradores ocasionais de
seus produtos.
RECEITA
- 1 kg de abóbora sem casca e cortada em pedaços médios
- 2 chávenas de chá de açucar castanho
- 1 canela (cinamomo) em pau
- 3 cravos da índia
- Coco ralado fresco a gosto
- Em uma panela grande colocar a abóbora, o açúcar, a canela e os cravos. Levar para cozinhar em lume brando com a panela tampada. Mexer sempre e amassar com uma colher de pau para desmanchar a abóbora. Quando ela estiver bem cozida, retirar a canela e os cravos e juntar o coco. Deixar apurar mais um pouco e desligar o lume. O doce não pode ficar seco, tem que ficar bem úmido.
O armazenamento
do doce de abóbora deverá ser feito em frascos de vidro previamente
esterilizados. Coloque o doce no vidro aos poucos, certificando-se de
que não fiquem bolhas de ar no interior da massa. Isso pode ser
conseguido usando-se um garfo metálico limpo para mexer levemente o
doce no interior do vidro e ainda com algumas batidas leves no fundo
do frasco. Em seguida, colocar a tampa no vidro de modo a não
fechá-la totalmente. Levar o conjunto de vidro para um caldeirão de
alumínio e cuidadosamente adicionar água até que esta fique na
metade da altura dos vidros. Acender o lume e deixar ferver por 20
(vinte) minutos. Com muito cuidado, retirar os vidros segurando pelas
tampas semi-rosqueadas e imediatemente fechá-las bem. Pronto! Seu
doce poderá ser conservado por meses antes do frasco ser aberto.
Porém, assim que abrir o frasco, o consumo do doce (ou geléia)
deverá ocorrer em poucos dias, se forem mantidos em geleiras.
Geléia de massala (jam de
massala)
A massala (monkey
fruit) pode
ser uma excepcional fonte de renda para os agricultores. Normalmente
na região de Maputo, os agricultores se limitam a vender apenas os
frutos maduros, recolhidos das matas e machambas onde essa fruta
nasce de forma espontânea. Contudo, pelas suas propriedades
nutricionais e sabor característico, a massala tem um grande
potencial econômico e estratégico para o desenvolvimento econômico
de famílias de agricultores camponeses.
O processamento da massala
passa pelo seu despolpamento. Uma forma bem caseira de se conseguir
isso é usando um processador caseiro como mostrado na foto abaixo. O
uso de alguns acessórios fáceis de serem encontrados nesse tipo de
equipamento ajuda muito na hora de separar a polpa da massala das
sementes. O despolpamento manual também pode ser feito, mas nesse
caso o tempo e o rendimento do trabalho serão bem menores. Outra
alternativa é usar uma peneira de aço, com abertura de
aproximadamente 5 mm, e raspar a polpa recém retirada do fruto em
sua superfície.
Porem, tenha em mente que operações manuais como estas devem ser
precedidas dos devidos cuidados com a higiene pessoal, como já foi
discutido anteriormente.
(Processador caseiro usado
para despolpar a massala.)
Uma vez obtida a polpa da
massala podemos processá-la imediatamente ou ainda congelá-la,
preservando-a assim por vários meses. Isso pode ser muito
interessante, pois o produtor que dispuser de um pequeno freezer
(arca) poderá conservar polpas de frutas para serem oferecidas no
mercado em épocas onde normalmente já não estão
disponíveis nos mercados. Além disso, o agricultor também pode
gerenciar melhor sua própria produção, escalonando o processamento
à medida que for tendo demanda pelos seus produtos ou ainda de
acordo com as próprias instalações de processamento que ele
possuir.
A geléia
de massala é
um dos produtos mais simples que podem ser obtidos com a polpa,
congelada ou não. Na sua receita entram apenas dois ingredientes, a
polpa de massala e o açúcar castanho (preferencialmente). Pode ser
usada uma proporção de 2:1 entre a polpa e o açúcar. Por exemplo,
para cada 0,5 kg de polpa de massala, usamos 250 g de acúcar
castanho. Essa proporção poderá ser modificada, mas atenção para
o uso do açúcar. É bom evitar os excessos e dessa forma aumentar a
proporção de acúcar na mistura não só deixará o produto
demasiadamente doce como também poderá causar eventuais problemas
para quem os consumir em maiores quantidades. O ideal, portanto, é
usar uma quantidade mínima de açúcar para garantir a preservação
do doce sem transformá-lo numa “bomba calórica”, e ainda
fazendo com que os sabores das frutas se sobressaiam ao sabor do
próprio açúcar.
RECEITA
- 500 g de polpa de massala
- 250 g de açúcar
- Misturar os ingredientes numa panela e levar ao lume brando. Deixar levantar fervura e mexer com um colher de pau suavemente e de forma constante, evitando que se forme um crosta no fundo da penela, por 20 minutos. Retirar do lume e transferir para um recipiente limpo, preferencialmente de vidro, e deixar esfriar. Servir com bolachas, pão ou ainda como cobertura ou recheio de bolos.
O armazenamento da geléia de
massala deverá ser feito exatamente como no caso do doce de abóbora.
Geléia de morango
Como veremos mais adiante no
nosso Curso de Agricultura Natural, o cultivo de morangos pela
Agricultura Natural vem sendo um sucesso na região de Maputo. Porém,
um dos pontos críticos no sistema global de produção é a
preservação dos frutos maduros que, via de regra, necessitam de um
ambiente refrigerado e, como não usamos nenhum tipo de conservante,
um curto espaço de tempo entre a colheita e a sua comercialização.
Portanto, a produção de geléias é uma das alternativas de mais
baixo custo ao produtor camponês para conservar sua produção de
morangos diante das condições que muitas vezes se verificam de
falta de logística de armazenamento e transporte dos produtos
frescos.
Diferentemente do caso das
massalas, os morangos não precisam ser despolpados, o que falicita
em muito a produção de geléias e doces. Contudo, é necessário
lavar bem os frutos e retirar as folhas da base do fruto antes de
processá-lo. Isto significa, mais uma vez, cuidados adicionais com a
higiene pessoal, do local de trabalho e dos utensílios que serão
utilizados durante o trabalho.
Basicamente podemos
desenvolver dois tipos de geléias de morango. O primeiro tipo é
obtido com os frutos inteiros e a geléia assim obtida é própria
para acompanhar sorvetes, coberturas e recheios de bolos, etc. O
segundo tipo é feito com os frutos triturados e produzirá uma
geléia mais uniforme, sem pedaços de frutas que será ideal para
passar no pão ou em bolachas. Esse tipo de geleia mais pastosa é o
padrão usado por muitos restaurantes e hotéis, que poderão ser um
interessante mercado consumidor para esse produto.
RECEITA
- 600 g de morangos maduros (inteiros ou triturados)
- 380 g de açucar castanho
- 1 colher de sumo de limão fresco
- Colocar todos os ingredientes numa panela e, sob lume brando, deixar cozinhar por cerca de 35 minutos, mexendo de vez em quando para não deixar grudar no fundo. Não é necessário adicionar água pois o sumo dos frutos irá ser liberado rapidamente, facilitando o cozimento da mistura. Transferir para frascos de vidro previamente limpos e esterilizados ainda quente. Tampar e deixar esfriar antes de consumir.
O armazenamento da geléia de
morango deverá ser feito exatamente como no caso do doce de abóbora.
Licor de Laranja
(Cointreau)
Os licores também são uma
excelente alternativa para agregar valor na produção agrícola
camponesa. Praticamente podemos obter bons licores de quase todas as
frutas de nossa machamba. Contudo, para cada tipo de fruta, ou parte
dela, existe uma forma específica de praparar as infusões que
produzirão os licores. Licores de frutas como a laranja, a tangerina
e o ananás, por exemplo, são produzidos a partir das cascas. Já no
caso de jambalões e outros frutos similares, os licores são obtidos
pela infusão dos frutos inteiros.
No caso do licor de laranja e
de tangerina, precisamos preparar as cascas antes de promover a
infusão. Dessa forma, selecionamos os melhores frutos com as cascas
mais uniformes
e bonitas. Estas cascas, depois de retiradas, são deixadas a secar à
sombra por pelo menos uma semana. Dessa forma, extraímos a maior
parte de substâncias voláteis que poderiam conferir um sabor
demasiado
forte ao nosso licor. Depois de secas, as cascas são transferidas
para um vidro de boca larga (e tampa) e em seguida adicionamos açúcar
fino e álcool de cereais ou vodka.
O açúcar fino é preferível
ao açúcar cristal pois facilitará o processo de dissolução
natural e o consequente aumento do grau alcoólico do licor. Na
medida do possível, devemos evitar o consumo do açúcar refinado
industrialmente, pois no seu processamento global são acrescidos
diversos químicos que, com um consumo constante, podem levar a
alguns problemas sérios de saúde. A forma mais simples de obter
açúcar fino em casa é batendo uma quantidade de açúcar cristal
marrom no liqüidificador. Contudo, se não tiver um liqüidificador,
pode usar o açúcar cristal marrom diretamente no preparo do licor.
RECEITA
- Cascas de 6 frutos de laranja (ou tangerina) limpas e secas
- 1 kg de açúcar fino (ou açúcar cristal marrom, preferencialmente).
- 1 litro de álcool de cereais (próprio para produção de licor), vodka ou aguardente.
- Coloque todos os ingredientes num vidro com tampa larga. Deixe descansar à sombra e em local limpo por pelo menos 1 (uma) semana (quando provavelmente todo o açúcar irá se dissolver). Com a ajuda de uma colher de aço inoxidável e uma peneira, separar as cascas de laranja e deitá-las fora. Retornar o líquido para o vidro e tampá-lo bem. O ideal é deixar o licor descansar por pelo menos 1 (um) mês antes de ser consumido.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES!
1) Como estamos trabalhando
com a Agricultura Natural, não temos preocupações com a presença
de químicos tóxicos oriundos de pulverizações em nossos pomares
de frutas. Por isso, utilizamos as cascas de laranja (e tangerina)
sem esse tipo de preocupação.
2) O álcool etílico (etanol)
vendido em farmácias e supermercados não pode ser usado para fins
alimentícios, pois ele contém traços de metanol, um poderoso
químico que causa complicações à saúde, em especial aos olhos.
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