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sexta-feira, 27 de junho de 2014
Apostila do Curso de Agricultura Natural - Módulo 3
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quinta-feira, 26 de junho de 2014
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
MANIFESTO SOBRE O FUTURO DA ALIMENTAÇÃO
Comitê Internacional para o Futuro da Alimentação e da Agricultura
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"Este Manifesto é o resultado de um esforço conjunto de participantes das reuniões do Comitê Internacional para o Futuro da Alimentação durante o fim de 2002 e o início de 2003, na Toscana, Itália. O governo da região Toscana participou ativamente e apoiou o trabalho do Comitê. O Manifesto procura ser a síntese do trabalho realizado e das idéias expostas por centenas de organizações de todo o mundo, e por milhares de indivíduos, que buscam ativamente reverter a alarmante tendência atual para a industrialização e a globalização alimentar. Simultaneamente, o Manifesto inclui uma crítica sobre os perigosos direcionamentos do presente e, principalmente, organiza a visão pratica, as idéias e os programas voltados para assegurar que a alimentação e a agricultura se tornem mais sustentáveis social e ecologicamente, mais acessíveis, e para colocar a qualidade alimentar, a segurança alimentar e a saúde pública acima de vantagens empresariais. Esperamos que este manifesto sirva como um catalisador para unificar e fortalecer o movimento em prol da Agricultura Sustentável, da soberania alimentar, da biodiversidade e da diversidade agrícola e que ele ajude assim a reduzir a fome e a pobreza do mundo. Precisamos urgentemente de pessoas e comunidades que o traduzam e o utilizem, apropriadamente para as suas necessidades, e para disseminar os princípios e idéias que ele contém, de todas as maneiras possíveis."
Comitê Internacional para o Futuro da Alimentação e da Agricultura
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"Este Manifesto é o resultado de um esforço conjunto de participantes das reuniões do Comitê Internacional para o Futuro da Alimentação durante o fim de 2002 e o início de 2003, na Toscana, Itália. O governo da região Toscana participou ativamente e apoiou o trabalho do Comitê. O Manifesto procura ser a síntese do trabalho realizado e das idéias expostas por centenas de organizações de todo o mundo, e por milhares de indivíduos, que buscam ativamente reverter a alarmante tendência atual para a industrialização e a globalização alimentar. Simultaneamente, o Manifesto inclui uma crítica sobre os perigosos direcionamentos do presente e, principalmente, organiza a visão pratica, as idéias e os programas voltados para assegurar que a alimentação e a agricultura se tornem mais sustentáveis social e ecologicamente, mais acessíveis, e para colocar a qualidade alimentar, a segurança alimentar e a saúde pública acima de vantagens empresariais. Esperamos que este manifesto sirva como um catalisador para unificar e fortalecer o movimento em prol da Agricultura Sustentável, da soberania alimentar, da biodiversidade e da diversidade agrícola e que ele ajude assim a reduzir a fome e a pobreza do mundo. Precisamos urgentemente de pessoas e comunidades que o traduzam e o utilizem, apropriadamente para as suas necessidades, e para disseminar os princípios e idéias que ele contém, de todas as maneiras possíveis."
terça-feira, 24 de junho de 2014
AULA 18: Produção de doces e geléias
4.
Produção de doces e geléias
(Capítulo 4 do Módulo 3 da apostila do Curso de Agricultura Natural)
A produção de doces e
geléias (jams)
é uma alternativa não apenas para agregar valor à produção da
machamba mas também uma forma de conseguir preservar parte de nossas
colheitas. Se bem conduzida,
a produção de doces, geléias, licores, etc. implica em redução
de parte do teor de água de muitos dos nossos alimentos e também da
introdução de açúcar que, ao aumentar a pressão
osmótica do
nosso alimento processado, reduz a ação de microrganismos
degradadores. Já para o caso dos produtos fermentados como os
licores, o teor de álcool no final do processo é que irá
desempenhar esse papel de preservação. Mas cuidado! Não existe
magia nesse tipo de processamento e todos os cuidados com
higienização, preparo do ambiente de trabalho, cuidado com a
escolha dos alimentos nos pontos de maturação corretos e a própria
técnica de fabrico são fundamentais para garantir a qualidade dos
produtos finais e consequentemente alcançar os rendimentos desejados
bem como os tempos de preservação possíveis para cada caso.
Existem vários tipos de
doces. Como exemplo podemos citar as frutas cristalizadas, os doces
em caldas, também chamados de compotas, os doces pastosos e as
geléias. As variações nas receitas são quase infinitas, se
lembrarmos que muitos doces podem ser combinações de dois ou mais
ingredientes como no caso do doce de abóbora com coco ou ainda as
compotas mistas de de papaia e manga, e muitos outros.
Preparo dos frascos de
vidro para armazenamento dos doces e geléias
Tão importante quanto
preparar corretamente nossos doces e geléias é o cuidado que
devemos ter com a higienização dos materiais com os quais iremos
cozinhar. E além disso, será fundamental conseguirmos esterilizar
corretamente os frascos de vidro nos quais iremos armazenar nossos
produtos.
O ideal é que sejam usados
frascos novos, com tampas metálicas. Entretanto, é sabido que em
muitas regiões esses materiais não estão prontamente disponíveis,
principalmente no interior das províncias de muitos países
africanos. Sendo assim, ao escolher algum frasco de vidro que tenha
sido usado anteriormente, assegure-se de que não tenha armazenado
nenhum tipo de produto perigoso à saúde como venenos, detergentes,
combustíveis, etc.
O processo de esterilização
dos frascos é relativamente simples de se fazer. Basta ter um grande
caldeirão com água fervente e deixar os materiais nesse processo
por pelo menos 5 (cinco) minutos. Isso inclui tanto os frascos como
as tampas metálicas. Dessa forma, todo e qualquer resíduo de
material orgânico onde eventualmente possa ter crescido e
desenvolvido algum tipo de microrganismo prejudicial à saúde, irá
ser retirado e os microrganismos mortos.
Os frascos esterilizados dessa
maneira não podem mais ser lavados em água corrente e devem ser
guardados tampados com todo o cuidado até o momento do uso.
Recomenda-se que eles sejam armazenados numa caixa plástica com
tampa para não mais serem contaminados com materiais estranhos. A
sua manipulação tembám precisará ser feita com o auxílio de
luvas limpas ou mesmo algum tipo de pegador ou pinça. Se estes
cuidados não forem tomados, todo o processo de esterilização
deverá ser repetido antes dos frascos serem utilizados.
Doce de abóbora
O cultivo das abóboras pode
ser tornar um negócio bem rentável para o agricultor camponês.
Além de ser um alimento muito nutritivo e saboroso, sua
versatilidade culinária pode agregar considerável valor à cadeia
de produção agroecológica da propriedade camponesa. Assim, as
abóboras podem ser usadas em cremes e sopas, além de vários tipos
de doces e geléias. Vale ressaltar que todas as partes do fruto são
comestíveis e nutritivos e, na medida do possível, será muito
interessante aproveitá-lo integralmente. As sementes podem, por
exemplo, ser torradas e depois consumidas inteiras ou ainda
trituradas e misturadas em produtos de panificação; as cascas podem
ser fritas como batatas ou ainda cozidas e usadas como ingredientes
de sopas; o miolo, aquela “rede” que prende as sementes no
interior do fruto, pode ser usada até como uma espécie de
espagueti. Contudo, para a produção de doces, o mais comum é
usarmos a polpa que deverá estar bem madura. A seguir vamos dar, a
título de exemplo, uma receita típica de doce de abóbora com coco.
Mas atenção! Esta receita não é única e nem imutável. Tenha em
mente que sua criatividade e talento na cozinha poderão fazer a
diferença na hora de se produzirem verdadeiras iguarias que
certamente irão atrair muitos clientes e compradores ocasionais de
seus produtos.
RECEITA
- 1 kg de abóbora sem casca e cortada em pedaços médios
- 2 chávenas de chá de açucar castanho
- 1 canela (cinamomo) em pau
- 3 cravos da índia
- Coco ralado fresco a gosto
- Em uma panela grande colocar a abóbora, o açúcar, a canela e os cravos. Levar para cozinhar em lume brando com a panela tampada. Mexer sempre e amassar com uma colher de pau para desmanchar a abóbora. Quando ela estiver bem cozida, retirar a canela e os cravos e juntar o coco. Deixar apurar mais um pouco e desligar o lume. O doce não pode ficar seco, tem que ficar bem úmido.
O armazenamento
do doce de abóbora deverá ser feito em frascos de vidro previamente
esterilizados. Coloque o doce no vidro aos poucos, certificando-se de
que não fiquem bolhas de ar no interior da massa. Isso pode ser
conseguido usando-se um garfo metálico limpo para mexer levemente o
doce no interior do vidro e ainda com algumas batidas leves no fundo
do frasco. Em seguida, colocar a tampa no vidro de modo a não
fechá-la totalmente. Levar o conjunto de vidro para um caldeirão de
alumínio e cuidadosamente adicionar água até que esta fique na
metade da altura dos vidros. Acender o lume e deixar ferver por 20
(vinte) minutos. Com muito cuidado, retirar os vidros segurando pelas
tampas semi-rosqueadas e imediatemente fechá-las bem. Pronto! Seu
doce poderá ser conservado por meses antes do frasco ser aberto.
Porém, assim que abrir o frasco, o consumo do doce (ou geléia)
deverá ocorrer em poucos dias, se forem mantidos em geleiras.
Geléia de massala (jam de
massala)
A massala (monkey
fruit) pode
ser uma excepcional fonte de renda para os agricultores. Normalmente
na região de Maputo, os agricultores se limitam a vender apenas os
frutos maduros, recolhidos das matas e machambas onde essa fruta
nasce de forma espontânea. Contudo, pelas suas propriedades
nutricionais e sabor característico, a massala tem um grande
potencial econômico e estratégico para o desenvolvimento econômico
de famílias de agricultores camponeses.
O processamento da massala
passa pelo seu despolpamento. Uma forma bem caseira de se conseguir
isso é usando um processador caseiro como mostrado na foto abaixo. O
uso de alguns acessórios fáceis de serem encontrados nesse tipo de
equipamento ajuda muito na hora de separar a polpa da massala das
sementes. O despolpamento manual também pode ser feito, mas nesse
caso o tempo e o rendimento do trabalho serão bem menores. Outra
alternativa é usar uma peneira de aço, com abertura de
aproximadamente 5 mm, e raspar a polpa recém retirada do fruto em
sua superfície.
Porem, tenha em mente que operações manuais como estas devem ser
precedidas dos devidos cuidados com a higiene pessoal, como já foi
discutido anteriormente.
(Processador caseiro usado
para despolpar a massala.)
Uma vez obtida a polpa da
massala podemos processá-la imediatamente ou ainda congelá-la,
preservando-a assim por vários meses. Isso pode ser muito
interessante, pois o produtor que dispuser de um pequeno freezer
(arca) poderá conservar polpas de frutas para serem oferecidas no
mercado em épocas onde normalmente já não estão
disponíveis nos mercados. Além disso, o agricultor também pode
gerenciar melhor sua própria produção, escalonando o processamento
à medida que for tendo demanda pelos seus produtos ou ainda de
acordo com as próprias instalações de processamento que ele
possuir.
A geléia
de massala é
um dos produtos mais simples que podem ser obtidos com a polpa,
congelada ou não. Na sua receita entram apenas dois ingredientes, a
polpa de massala e o açúcar castanho (preferencialmente). Pode ser
usada uma proporção de 2:1 entre a polpa e o açúcar. Por exemplo,
para cada 0,5 kg de polpa de massala, usamos 250 g de acúcar
castanho. Essa proporção poderá ser modificada, mas atenção para
o uso do açúcar. É bom evitar os excessos e dessa forma aumentar a
proporção de acúcar na mistura não só deixará o produto
demasiadamente doce como também poderá causar eventuais problemas
para quem os consumir em maiores quantidades. O ideal, portanto, é
usar uma quantidade mínima de açúcar para garantir a preservação
do doce sem transformá-lo numa “bomba calórica”, e ainda
fazendo com que os sabores das frutas se sobressaiam ao sabor do
próprio açúcar.
RECEITA
- 500 g de polpa de massala
- 250 g de açúcar
- Misturar os ingredientes numa panela e levar ao lume brando. Deixar levantar fervura e mexer com um colher de pau suavemente e de forma constante, evitando que se forme um crosta no fundo da penela, por 20 minutos. Retirar do lume e transferir para um recipiente limpo, preferencialmente de vidro, e deixar esfriar. Servir com bolachas, pão ou ainda como cobertura ou recheio de bolos.
O armazenamento da geléia de
massala deverá ser feito exatamente como no caso do doce de abóbora.
Geléia de morango
Como veremos mais adiante no
nosso Curso de Agricultura Natural, o cultivo de morangos pela
Agricultura Natural vem sendo um sucesso na região de Maputo. Porém,
um dos pontos críticos no sistema global de produção é a
preservação dos frutos maduros que, via de regra, necessitam de um
ambiente refrigerado e, como não usamos nenhum tipo de conservante,
um curto espaço de tempo entre a colheita e a sua comercialização.
Portanto, a produção de geléias é uma das alternativas de mais
baixo custo ao produtor camponês para conservar sua produção de
morangos diante das condições que muitas vezes se verificam de
falta de logística de armazenamento e transporte dos produtos
frescos.
Diferentemente do caso das
massalas, os morangos não precisam ser despolpados, o que falicita
em muito a produção de geléias e doces. Contudo, é necessário
lavar bem os frutos e retirar as folhas da base do fruto antes de
processá-lo. Isto significa, mais uma vez, cuidados adicionais com a
higiene pessoal, do local de trabalho e dos utensílios que serão
utilizados durante o trabalho.
Basicamente podemos
desenvolver dois tipos de geléias de morango. O primeiro tipo é
obtido com os frutos inteiros e a geléia assim obtida é própria
para acompanhar sorvetes, coberturas e recheios de bolos, etc. O
segundo tipo é feito com os frutos triturados e produzirá uma
geléia mais uniforme, sem pedaços de frutas que será ideal para
passar no pão ou em bolachas. Esse tipo de geleia mais pastosa é o
padrão usado por muitos restaurantes e hotéis, que poderão ser um
interessante mercado consumidor para esse produto.
RECEITA
- 600 g de morangos maduros (inteiros ou triturados)
- 380 g de açucar castanho
- 1 colher de sumo de limão fresco
- Colocar todos os ingredientes numa panela e, sob lume brando, deixar cozinhar por cerca de 35 minutos, mexendo de vez em quando para não deixar grudar no fundo. Não é necessário adicionar água pois o sumo dos frutos irá ser liberado rapidamente, facilitando o cozimento da mistura. Transferir para frascos de vidro previamente limpos e esterilizados ainda quente. Tampar e deixar esfriar antes de consumir.
O armazenamento da geléia de
morango deverá ser feito exatamente como no caso do doce de abóbora.
Licor de Laranja
(Cointreau)
Os licores também são uma
excelente alternativa para agregar valor na produção agrícola
camponesa. Praticamente podemos obter bons licores de quase todas as
frutas de nossa machamba. Contudo, para cada tipo de fruta, ou parte
dela, existe uma forma específica de praparar as infusões que
produzirão os licores. Licores de frutas como a laranja, a tangerina
e o ananás, por exemplo, são produzidos a partir das cascas. Já no
caso de jambalões e outros frutos similares, os licores são obtidos
pela infusão dos frutos inteiros.
No caso do licor de laranja e
de tangerina, precisamos preparar as cascas antes de promover a
infusão. Dessa forma, selecionamos os melhores frutos com as cascas
mais uniformes
e bonitas. Estas cascas, depois de retiradas, são deixadas a secar à
sombra por pelo menos uma semana. Dessa forma, extraímos a maior
parte de substâncias voláteis que poderiam conferir um sabor
demasiado
forte ao nosso licor. Depois de secas, as cascas são transferidas
para um vidro de boca larga (e tampa) e em seguida adicionamos açúcar
fino e álcool de cereais ou vodka.
O açúcar fino é preferível
ao açúcar cristal pois facilitará o processo de dissolução
natural e o consequente aumento do grau alcoólico do licor. Na
medida do possível, devemos evitar o consumo do açúcar refinado
industrialmente, pois no seu processamento global são acrescidos
diversos químicos que, com um consumo constante, podem levar a
alguns problemas sérios de saúde. A forma mais simples de obter
açúcar fino em casa é batendo uma quantidade de açúcar cristal
marrom no liqüidificador. Contudo, se não tiver um liqüidificador,
pode usar o açúcar cristal marrom diretamente no preparo do licor.
RECEITA
- Cascas de 6 frutos de laranja (ou tangerina) limpas e secas
- 1 kg de açúcar fino (ou açúcar cristal marrom, preferencialmente).
- 1 litro de álcool de cereais (próprio para produção de licor), vodka ou aguardente.
- Coloque todos os ingredientes num vidro com tampa larga. Deixe descansar à sombra e em local limpo por pelo menos 1 (uma) semana (quando provavelmente todo o açúcar irá se dissolver). Com a ajuda de uma colher de aço inoxidável e uma peneira, separar as cascas de laranja e deitá-las fora. Retornar o líquido para o vidro e tampá-lo bem. O ideal é deixar o licor descansar por pelo menos 1 (um) mês antes de ser consumido.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES!
1) Como estamos trabalhando
com a Agricultura Natural, não temos preocupações com a presença
de químicos tóxicos oriundos de pulverizações em nossos pomares
de frutas. Por isso, utilizamos as cascas de laranja (e tangerina)
sem esse tipo de preocupação.
2) O álcool etílico (etanol)
vendido em farmácias e supermercados não pode ser usado para fins
alimentícios, pois ele contém traços de metanol, um poderoso
químico que causa complicações à saúde, em especial aos olhos.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
AULA 17: Texto de apoio
3.
Processamento mínimo e embalagem
(Capítulo 3 do Módulo 3 da apostila do Curso de Agricultura Natural)
Após a etapa de higienização
dos nossos produtos agrícolas vem o processamento e embalagem. O
processamento pode se dar em vários níveis, dependendo do grau de
investimento possível e desejado bem como da capacidade do próprio
agricultor em elaborar produtos como geléias, doces, licores, etc.
Contudo, uma forma bem simples
de iniciar nas atividades de processamento é o chamado processamento
mínimo. Essa é uma operação comparativamente mais simples que
aquela verificada na obtenção de produtos mais elaborados, mas
também pode agregar imenso valor na produção agrícola.
Um exemplo de processamento
mínimo é quando picamos as folhas de couve e as embalamos em
bandejas adequadas. Dessa forma, oferecemos produtos prontos para uso
e isso acaba por conferir um considerável aumento no valor de venda
final, já que foram agregados os valores relativos ao trabalho de
lavar, selecionar, picar e embalar as folhas de couve. Contudo, é
evidente que para que tenhamos sucesso nesse tipo de produto, os
cuidados com a higienização e manipulação deverão ser muito
maiores e as operações deverão ser executadas em ambientes
satisfatórios sob pena dos produtos não conseguirem se manter
viáveis, mesmo dentro das embalagens.
Mix de verduras e legumes
Essa é uma alternativa muito
interessante para melhor aproveitamento dos produtos. Ao
selecionarmos, por exemplo, cenouras, rabanetes, etc., é comum
deixarmos aquelas raízes tortas ou mesmo quebradas de lado. Esses
produtos são igualmente nutritivos e saborosos, razão pela qual não
devemos, em hipótese nenhuma, desperdiçá-los. Por outro lado,
nosso mercado consumidor, de uma maneira geral, ainda é refém de
uma cultura midiática e tende a desmerecer e desvalorizar produtos
com esse tipo de apresentação. Portanto, uma maneira de
conseguirmos aproveitar melhor nossos produtos da machamba ao mesmo
tempo em que vamos reeducando o paladar de nosso público consumidor,
é conseguindo apresentar melhor esses mesmos produtos.
Uma forma de fazê-lo é
preparando misturas (ou mix)
de diversas folhas e legumes, devidamente limpos e picados, e
embalando em bandejas revestidas com filme plástico. Dessa forma,
também promovemos uma maior preservação dos produtos e facilitamos
seu transporte por parte dos consumidores.
(Mix de verduras e legumes da
Agricultura Natural prontos para serem comercializados)
O uso de embalagens plásticas,
na medida do possível, devem ser evitadas. Claro que não faria
sentido, a essa altura dos nossos estudos, fazer apologia ao uso de
materiais não-biodegradáveis e que estimulam toda uma cadeia da
indústria química. Mas por outro lado, temos por princípio o bom
senso e o
pragmatismo.
Por vezes, a fim de chamar a atenção para o alto valor nutritivo de
muitos de nossos alimentos, principalmente aqueles tradicionais e
locais, temos de lançar mão de alguns caminhos e estratégias,
ainda que por um tempo definido. Por outro lado, alguns produtos
precisam ser adequadamente envasados sob pena de não suportarem nem
mesmo o seu transporte da feira até o lar, como é o caso dos
morangos que não conseguem se manter inteiros e frescos se forem
colocados num saco de papel. O mesmo vai acontecer com os mix
de verduras e legumes ou ainda no caso de sumos, doces e geléias.
Contudo, a maioria dos materiais usados nesse tipo de embalagens
podem ser reciclados e reutilizados. Claro que nosso "sonho de
consumo" se realiza quando nossos clientes trazem de casa seus
próprios vasilhames e estimulamos nossos agricultores parceiros que
também fiquem atentos para esse tipo de prática ao formarem suas
próprias redes de consumidores.
Contudo, pode ser o caso dos
produtores conseguirem acordos comerciais interessantes junto a
supermercados ou mesmo lojas especializadas em produtos biológicos,
como muitas vezes são chamados os produtos da Agricultura Natural em
vários países. De fato, temos postulado ao longo dos anos que o
setor da agricultura familiar pode e deve ser inserido no mercado
formal como uma alternativa interessante para levar alimentos
verdadeiramente mais saudáveis à sociedade e também como uma das
formas de buscar a dignidade do produtor camponês através do seu
desenvolvimento econômico. No caso do fornecimento de produtos a
redes de lojas ou supermercados, quando for o caso, serão
necessários cuidados adicionais no que diz respeito à higienização
e embalagem dos alimentos, razão pela qual introduzimos essa
discussão no presente curso.
Valorização do alimento
local e tradicional
Vamos adiantar um pouco uma
discussão que será abordada futuramente no nosso curso, que são os
produtos agrícolas tradicionais e locais. No Módulo 5, vamos
aprofundar nesse tema, mas por hora gostaríamos de chamar a atenção
paras as imagens seguintes:
(Alguns alimentos tradicionais
vendidos nas feiras de rua em Maputo. O mau acondicionamento e a
falta de higiene de muitos desses locais pode prejudicar a qualidade
do alimento, que naturalmente costuma ser muito nutritivo)
As imagens anteriores mostram
um pouco da realidade da maioria dos mercados de rua na cidade de
Maputo e esta cena se repete pelo interior do país e de praticamente
todo o continente africano, com algumas exceções, claro.
Um fato que sempre nos chamou
a atenção é a procura que determinados produtos agrícolas têm
nesses mercados informais. Porém, quase sempre os preços praticados
são baixos e quase não cobrem os custos nem do transporte do campo
para o mercado, e talvez por isso os próprios agricultores acabam
não valorizando devidamente suas respectivas lavouras, apesar da
maioria desses alimentos, como veremos futuramente, possuírem
valores nutricionais muito acima da média daqueles produtos
agrícolas clássicos vendidos nos supermercados.
Também pelas imagens fica
claro os potenciais problemas à saúde ocasionados pela falta de
higiene bem como pela manipulação inadequada desses alimentos. Foi
pensando nisso que, há alguns anos, introduzimos nos nossos cursos e
treinamentos, esse módulo de estudo da higienização e embalagem
dos produtos agrícolas. Para nossa surpresa, descobrimos que a
maioria desses produtos tradicionais, quando devidamente apresentados
ao publico consumidor, são os primeiros a se esgotarem em nossas
bancas de feiras ou mesmo no sistema de encomendas, que também vamos
discutir mais detalhadamente no futuro.
Usamos a expressão tirar
os produtos do chão
como uma das formas de mostrar seu verdadeiro valor e muitos desses
vegetais, inclusive, fazem parte de sofisticados e elaborados
ingredientes culinários na Europa, Ásia e América, mais uma razão
para os agricultores e consumidores moçambicanos ficarem ainda mais
atentos às suas preciosidades locais. Exemplos disso são as plantas
da família dos amarantos, que recebem vulgarmente o nome de tsec; a
vinagreira, cujos frutos em conservas são exportados para o mundo
todo a partir da Alemanha; a mexoeira, a partir da qual pode ser
produzido um "leite vegetal" de excepcionais propriedades
nutricionais, etc. Além desses a lista segue com a cacana, a
nhangana, a dledlele, a mboa e muitos outros.
(As folhas de vinagreira podem
ser consumidas cruas em saladas ou refogadas. As flores são usadas
em chás e os frutos como conserva. Machamba-modelo da Agriultura
Natural de Marracuene)
Acondicionar e apresentar
melhor os nossos produtos da machamba
Um melhor acondicionamento dos
nossos produtos agrícolas, como vimos, além de promover sua maior
preservação também ajuda a valorizá-los. A exposição dos
produtos no momento da venda bem como a simpatia e cortesia por parte
do agricultor são fatores que irão contribuir ainda mais para o
sucesso do empreendimento. Já tivemos a oportunidade de dizer, ao
longo do nosso estudo até aqui, que a Agricultura Natural pode ser
comparada a um estilo próprio de vida. De fato, o amor, a alegria e
o carinho com que cuidamos da terra, preparamos nossas mudas e
cultivamos nossas culturas também precisam estar presentes no
momento em que esses alimentos irão ser entregues aos seus
consumidores finais. O ciclo precisa ser fechado pois quanto mais os
produtos da Agricultura Natural venham a ser distribuídos ou
comercializados, maior será o numero de pessoas que irão se
alimentar melhor e maior ainda será a procura por tais produtos, o
que certamente estimulará ainda mais a sua produção e o número de
agricultores que sejam defensores e praticantes dessa filosofia de
vida e de trabalho.
Portanto, os próprios
agricultores são responsáveis por realimentar a cadeia produtiva
natural e quanto mais o fizerem, mais pessoas irão ter contato com
os frutos desse trabalho. Nossa experiência tem mostrado que quanto
mais ensinamos e compartilhamos nossos aprendizados, mais pessoas nos
trazem novos e preciosos saberes e tudo entra numa espécie de
turbilhão de forças positivas, com resultados benéficos para
todos.
Em Maputo, nossa equipa da
Africarte vem promovendo, desde junho de 2011, nossa feira semanal de
produtos da Agricultura Natural como forma de divulgar os resultados
dessa forma de trabalhar a terra. Desde o início dessa atividade
estimulamos nossos colaboradores a procurarem realçar o máximo
possível as qualidades superiores dos alimentos produzidos de forma
natural, isentos de contaminantes químicos e com sabores originais.
Ao longo desse tempo já promovemos diversas oficinas e cursos
rápidos com dezenas de agricultores e também pessoas interessadas
em promover a Agricultura Natural em suas machambas e até mesmo
quintais, através das Hortas Caseiras.
(Feira de produtos da
Agricultura Natural em Maputo)
Dessa forma, esperamos
incentivar ainda mais um número cada vez maior de agricultores a
praticarem o cultivo através da Agricultura Natural e terem um
modelo de comercialização de seus produtos que leve à viabilização
econômica de suas respectivas atividades agrícolas além, é claro,
do oferecimento à sociedade de produtos verdadeiramente saudáveis,
o objetivo maior de nosso trabalho.
(Produtos da Agricultura
Natural oferecidos pela Africarte em Moçambique)
NOTA: Nosso mercado consumidor
é refém daquilo que a mídia nos força a consumir. Nossos
alimentos agrícolas, por exemplo, são forçadamente padronizados,
introduzindo cada vez mais artificialização nos campos agrícolas,
e nisso reside um dos maiores obstáculos no combate à fome em todo
o mundo. Desde cedo somos educados a comprarmos alimentos com um
mesmo tipo de formato e tamanho, mesmo que o sabor nem de longe
lembre mais o daqueles produzidos de forma natural. Normalmente as
pessoas ficam encantadas com frases do tipo "produto
selecionado", "sumo produzido com frutas selecionadas",
etc. Porém, em muitos lugares estima-se que cerca de 30% de tudo o
que se produz no campo seja descartado por não estar dentro dos
padrões de qualidade exigidos pelo mercado consumidor ao não
possuir o aspecto ideal, muitas vezes independentemente da sua
verdadeira qualidade nutricional. Ou seja, muitas vezes os
consumidores ficam muito mais presos ao aspecto externo de um produto
ao invés de se preocuparem realmente com eventuais presenças de
resíduos de agrotóxicos ou ainda nas pressões que os métodos
convencionais de agricultura, necessários para esse tipo de produção
padronizada, venham a causar no meio ambiente. Produtos agroecológicos e
naturalmente produzidos dificilmente apresentam forma padronizada e
definida. Aliás, essa é justamente uma das características que
muitos consumidores mais conscientes e conhecedores das formas
naturais de produção de alimentos usam para reconhecê-los nos
mercados especializados. No nosso trabalho com a Agricultura Natural
estaremos sempre valorizando a diversidade de produtos bem como de
suas formas e até cores, reconhecendo nisso a ação da própria
Natureza.
terça-feira, 17 de junho de 2014
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA - Codex Alimentarius
terça-feira, 10 de junho de 2014
AULA 16: Texto de apoio
2.
Higienização
(Capítulo 2 do Módulo 3 da apostila do Curso de Agricultura Natural)
Introdução
Ao longo dos anos, percebemos
muitas vezes que algumas pessoas, ao se referirem aos produtos
agrícolas produzidos pela Agricultura Natural, que via de regra não
recomenda nenhum tipo de defensivo químico ou mesmo resíduos de
origem animal que não tenham sido previamente tratados, acabam por
menosprezar os cuidados necessários com a higiene de tais produtos.
De fato, se forem produzidos conforme os fundamentos e premissas
básicas, os produtos da Agricultura Natural terão uma grande chance
de não conterem contaminantes, sejam eles de origem química ou
microbiológica. Mas por que ainda terão a possibilidade de estarem
contaminados?
A resposta a essa pergunta
pode ser muito complexa. Embora não entrem no manejo ecológico
proposto do solo, muitos químicos agrícolas poderão ser
encontrados no solo ou mesmo na água que será usada na irrigação
na forma de resíduos. Além disso, os resíduos de combustíveis,
oriundos de derrames acidentais no solo ou na água, também poderão
estar presentes. A contaminação microbiológica, por sua vez,
poderá ocorrer ao usarmos água contaminada com resíduos de fezes
humanas e animais ou ainda na hora da manipulação do alimento, a
começar no momento da colheita.
Existe um sistema que tenta
estabelecer pontos críticos de controle que visam minimizar os
riscos de contaminação dos alimentos que irão ser consumidos e
principalmente oferecidos no mercado. O termo técnico desse sistema
é HACCP – Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle. Evidentemente que, no âmbito desse manual, estamos focados
no trabalho do agricultor camponês dentro da realidade rural do
interior africano. Isso quer dizer que estaremos tentando seguir as
recomendações internacionais de segurança dos alimentos dentro das
possibilidades oferecidas pelo nosso ambiente de trabalho, sem perder
o foco da qualidade final dos produtos processados pelos camponeses.
Fazendo referencia ao Codex
Alimentarius,
que é uma coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente,
códigos de conduta, orientações e outras recomendações relativas
a alimentos, produção de alimentos e segurança alimentar,
publicado pela FAO/ONU, vamos citar um trecho da sua introdução:
“É direito das pessoas
terem a expectativa de que os alimentos que consomem sejam seguros e
adequados para consumo. As doenças e os danos provocados por
alimentos são, na melhor das hipóteses, desagradáveis, e, na pior
da hipóteses, fatais. Há também outras conseqüências. Os surtos
de doenças transmitidas por alimentos podem prejudicar o comércio
e o turismo, gerando perdas econômicas, desemprego e conflitos.
Alimentos deteriorados causam desperdício e aumento de custos,
afetando de forma adversa o comércio e a confiança do consumidor.
O comércio internacional de
alimentos e as viagens internacionais estão aumentando. O resultado
são importantes benefícios sócio-econômicos, mas também a
disseminação de doenças ao redor do mundo. Nas últimas décadas,
os hábitos alimentares têm passado por mudanças em muitos países,
acarretando o desenvolvimento de novas técnicas de produção,
preparação e distribuição de alimentos. Portanto, um controle
eficaz de higiene tornou-se imprescindível para se evitar
conseqüências prejudiciais decorrentes de doenças e danos
provocados pelos alimentos à saúde humana e à economia. Todos –
agricultores e cultivadores, fabricantes e processadores,
manipuladores de alimentos e consumidores – têm a
responsabilidade de garantir que o alimento seja seguro e adequado
para consumo.
Estes Princípios Gerais
estabelecem uma base sólida para garantir a higiene dos alimentos e,
quando apropriado, devem ser usados em conjunto com os códigos de
práticas de higiene específicos e com as diretrizes sobre
critérios microbiológicos. O documento acompanha a cadeia de
alimentos desde a produção primária até o consumidor final,
destacando os controles de higiene funadamentais em cada etapa.
Recomenda, sempre que possível, a adoção de um enfoque baseado no
Sistema HACCP, para aumentar segurança alimentar, conforme descrito
no Sistema de
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP)
e Diretrizes
para sua Aplicação.”
Higienização dos produtos
agrícolas
Após a colheita e a seleção
dos produtos, retirando-se aqueles que eventualmente não estejam em
condições de serem comercializados ou mesmo consumidos, a etapa
seguinte é a higienização adequada dos produtos. Por higienização
entendemos a limpeza dos alimentos, retirando resíduos de terra,
folhas secas, restos de composto, etc. Na realidade, na prática da
Agricultura Natural não temos a maioria dos problemas que os
produtos convencionais, cultivados com agrotóxicos e diretamente com
estrume animal, têm. Essencialmente nossos produtos tenderão a
ser isentos de
todas essas substâncias e microrganismos nocivos, mas isso não quer
dizer que não temos de tomar cuidados para não contaminar nossos
produtos justamente após serem colhidos. Isso poderá acontecer, por
exemplo, se a sua manipulação for feita por pessoas cuja higiene
pessoal não for adequada. Não lavar as mãos após usar a casa de
banho e em seguida manipular folhas e legumes, por exemplo, pode
deitar por terra todo o trabalho da produção até então, pois
poderão acontecer contaminações microbiológicas principalmente
por bactérias típicas do trato gastrointestinal humano como a
Escherichia
coli, causadora
de graves toxinfecções alimentares. Outra forma de contaminarmos
nossos produtos é usando utensílios sujos ou inadequados.
Higiene pessoal
Antes de começar o trabalho
de higienização dos alimentos colhidos na machamba é muito
importante assegurar a própria higiene pessoal. Banhos diários,
unhas bem aparadas, cabelo preso preferencialmente com um lenço ou
touca descartável, roupas limpas, etc., ajudarão a garantir que os
alimentos possam ser manipulados sem riscos apreciáveis de serem
contaminados.
A higiene pessoal e a
organização do espaço de trabalho são importantes para garantir a
qualidade dos produtos processados. Machamba-modelo da Agricultura
Natural de Marracuene.
O uso de máscaras e mesmo
luvas descartáveis também é altamente recomendável, pois irão
ajudar a garantir ainda mais a sanidade e qualidade dos produtos
agrícolas. Mas independentemente de se usarem máscaras e luvas, é
importantíssimo lavar bem as mãos antes de qualquer atividade de
contato direto com os alimentos.
Ambiente de trabalho
Preferencialmente o ambiente
em que o trabalho de higienização e manipulação dos alimentos for
feito deverá ser protegido contra o vento, sol, chuva, sujidades,
etc. O ideal é dispormos de uma sala azulejada, ou seja, com as
paredes revestidas por cerâmicas impermeáveis e piso lavável de
tijoleiras. Entretanto, sabemos da realidade da maior parte do
interior em África e da incapacidade, na maior parte das vezes, de
garantir esse tipo de instalação. Sendo assim, o ideal é que o
local seja arejado, livre da circulação de animais domésticos,
curiosos e que seja tudo muito bem organizado. Na medida do possível,
o ambiente escolhido para essas atividades deve ser de uso exclusivo
das pessoas que irão desenvolver a atividade e reservado apenas para
essa etapa do trabalho com os produtos agrícolas. Por exemplo, não
convém misturar nesse mesmo ambiente o depósito de combustíveis,
ferramentas de campo ou outros materiais do gênero.
Qualidade da água
A água que será usada para
lavar nossos produtos deve ser isenta de quaisquer sujidades
e contaminações químicas e microbiológicas. O ideal é que se
usem águas provenientes de furos e que sejam devidamente armazenadas
em tanques fechados para evitar qualquer tipo de contaminação.
Águas provenientes de poços também podem ser usadas mas cuidados
adicionais com o próprio poço serão necessárias para se garantir
que nenhum material estranho venha a cair nele, o que fatalmente
reduzirá a qualidade de suas águas. Nesses casos também, o cuidado
com os materiais como baldes, cordas, etc. que forem ser usados para
retirar a água são de extrema importância.
No caso de se ter como única
opção o uso de águas diretamente de rios, deve-se atentar para
possíveis contaminações de suas águas por esgotos sanitários,
resíduos industriais, agrotóxicos, etc. Na nossa escala de trabalho
não recomendamos o uso dessa fonte de água diretamente para a
higienização e manipulação de nossos alimentos colhidos.
NOTA: A opção, que
infelizmente nem sempre será barata e disponível, é fazer essa
água passar por um processo de tratamento adequado. Portanto, tenha
em mente no planejamento global do seu trabalho com a terra que num
determinado momento será necessário ter uma fonte de água limpa e
potável para um melhor aproveitamento dos resultados do campo. Como
investimento recomendado numa determinada propriedade, indicamos a
abertura de poços ou mesmo furos e isso, dependendo das condições,
poderá ser feito por sistemas de cotas e parcerias com outros
agricultores da sua região.
Ainda no caso das água de
poços e furos, ou mesmo daquela servida pelos sistemas de
distribuição de água das companhias de saneamento, que possuam
historial de problemas derivados de contaminações microbiológicas,
pode ser interessante fazer o uso da desinfecção caseira. Para
isso, prepare um reservatório de plástico, como tanques de água, e
limpe-os bem. Em seguida, encha-os com a água que ira ser usada e
adicione 1 colher de javel (água sanitária) para cada 200 litros
de água. Deixe essa água em repouso por uma noite para que todos os
microrganismos nocivos sejam mortos e os resíduos de javel sejam
evaporados. Retire essa água do tanque com auxílio de torneiras e
nunca introduza baldes ou outros recipientes no seu interior.
Essa é uma forma de tentar
minimizar problemas decorrentes da contaminação de microrganismos
patogênicos veiculados pela água provenientes, principalmente, de
resíduos fecais que possam entrar em contato com as fontes de água.
Contudo, se conseguir garantir a correta limpeza e isolamento da
fonte de água, esses cuidados de desinfecção poderão ser
minimizados e dai a importância de investir algum tempo e dinheiro
na garantia da qualidade da água disponível, quando isso for o
caso.
Higienização dos produtos
agrícolas
Agora que já garantimos a
higiene pessoal, a limpeza e organização do espaço de trabalho bem
como os utensílios que serão usados, e finalmente garantimos a
qualidade da água para essa etapa do trabalho, passaremos para a
higienização dos produtos, propriamente dito.
As folhas
recém colhidas podem ser imersas em água limpa, para retirar os
resíduos de terra e outras sujidades.
Uma forma de garantir a eficiência dessa operação é dispor de
dois ou três recipientes com água que deverá ir sendo trocada de
tempos em tempos. Imergimos as folhas no primeiro tanque e depois
vamos transferindo para os seguintes. Desse forma, ao final do último
recipiente, já temos produtos bem limpos e melhor apresentados.
Após essa etapa de limpeza
das folhas, deve-se fazer uma inspeção minunciosa para garantir que
não restam resíduos e principalmente insetos. Vamos lembrar que
estamos a praticar a Agricultura Natural, que segue as leis da
Natureza. Isso quer dizer que convivemos com o mundo natural e seus
habitantes! Muitos desses bichinhos que vêm junto com nossas
colheitas estão nos ajudando a controlar outros que poderiam nos
trazer enormes prejuízos ao comerem grande parte de nossos produtos
ainda no campo. Portanto, não é recomendado que pensemos neles como
um incômodo, pois na verdade, a grande maioria deles são nossos
colaboradores. Porém, é claro que sua presença nos produtos a
serem consumidos ou comercializados não é adequado e por isso
devemos garantir que não estarão a andar nos nossos pratos ou nas
nossas bancas de venda.
Já com os tubérculos
e raízes temos uma dificuldade a mais que é a grande quantidade de
terra que normalmente acompanha esses produtos ao serem colhidos. O
que normalmente fazemos é deixar um recipiente grande com água e
deixar as raízes por uns 20 ou 30 minutos imersas nela para
amolecerem a terra que vem com elas. Em seguida, com a ajuda de uma
esponja ou pedaço de pano, retiramos a lama que se forma e só
depois transferimos os produtos para outro recipiente com água mais
limpa. Vamos repetindo essa operação até que toda a nossa colheita
esteja devidamente limpa e deixamos as raízes e tubérculos secando
à sombra.
Também nessa etapa vamos
selecionando os nossos tubérculos, podendo separá-los por tamanho
sempre que isso for conveniente em termos de vendas. Recomenda-se
que, na medida do possível, esses produtos sejam vendidos inteiros,
com suas folhas e mesmo as pontas de suas raízes sem serem
retiradas. Muitos tubérculos possuem nutrientes nessas partes e como
não fazemos uso de agrotóxicos, o consumo de suas folhas não só é
possível como também altamente recomendado. Por exemplo, as folhas
das cenouras e beterrabas são excelentes em refogados e sopas e a
apresentação desses produtos com suas folhas originais tende a
valorizá-los ainda mais.
No caso da mandioca,
o ideal é que sejam consumidas o quanto antes após sua colheita. Se
passar muito tempo, pode acontecer dela começar a escurecer e isso
fará com que perca alguns de seus nutrientes e qualidade de
cozimento. Portanto, é bom programar bem a colheita em função da
previsão de venda ou consumo para que sempre possamos oferecer
produtos de melhor qualidade.
As frutas
também tem seus próprios meios de serem limpas e preservadas. O
ideal é que ao serem colhidas evitem-se romper as cascas. Por
exemplo, no caso das tangerinas, o ideal é que o fruto ainda
mantenha o seu talo evitando expor o interior da fruta. Dessa forma,
ao serem lavadas não corremos o risco de deixar a água entrar em
contato com a polpa o que fatalmente irá estragá-la. Papaias,
mangas, massalas, etc. seguem o mesmo raciocínio. No geral, os
próprios agricultores podem ir fazendo suas observações e
descobrindo sempre melhores condições de preservar as diversas
frutas, principalmente as nativas de cada região, compartilhando
seus conhecimentos e aprendizados com os agricultores de sua
comunidade.
Roteiro da Aula 15
Programa de aula: Técnicas de colheita e preservação de culturas agrícolas
Introdução
2. Colhendo os produtos da machamba
2.1. Cada cultura tem seu próprio método de colheita
2.2. Toda colheita deve ser precedida de planejamento
2.3. Importância da apresentação dos produtos para venda
3. Colheita de folhas
3.1. Técnicas de colheita
3.2. Preservação das folhas
4. Colheita de tubérculos
4.1. Cuidados na retirada do solo
4.2. Equipamentos para colheita
4.3. Colheita manual
4.4. Particularidades
5. Colheita de frutas e legumes
5.1. Programação em função da maturação dos produtos
5.2. Cuidados no transporte
6. Preservação dos produtos da machamba
6.1. Temperatura ideal
6.2. Condições de estocagem
6.3. Agroprocessamento como alternativa para a preservação
Introdução
2. Colhendo os produtos da machamba
2.1. Cada cultura tem seu próprio método de colheita
2.2. Toda colheita deve ser precedida de planejamento
2.3. Importância da apresentação dos produtos para venda
3. Colheita de folhas
3.1. Técnicas de colheita
3.2. Preservação das folhas
4. Colheita de tubérculos
4.1. Cuidados na retirada do solo
4.2. Equipamentos para colheita
4.3. Colheita manual
4.4. Particularidades
5. Colheita de frutas e legumes
5.1. Programação em função da maturação dos produtos
5.2. Cuidados no transporte
6. Preservação dos produtos da machamba
6.1. Temperatura ideal
6.2. Condições de estocagem
6.3. Agroprocessamento como alternativa para a preservação
sexta-feira, 6 de junho de 2014
ESQUEMA DE MONTAGEM DA PLANTADEIRA DE SEMENTES MIÚDAS
Para montar sua plantadeira de sementes miúdas e poder desenvolver ainda mais sua horta ou machamba, faça o download do esquema de montagem clicando aqui.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
AULA 15 - Texto de apoio
1.
Técnicas de colheita e preservação de culturas agrícolas
(Capítulo 1 do Módulo 3 da Apostila do Curso de Agricultura Natural)
Não basta apenas produzir os
alimentos de forma natural e, consequentemente, de maneira mais
saudável. Igualmente importante é atentar para as diversas técnicas
e etapas de processamento para os mais variados produtos colhidos,
seja para o consumo próprio ou para a futura comercialização por
parte dos agricultores. Se os produtos agrícolas forem colhidos e
armazenados sem a devida técnica e cuidados, principalmente de
higienização e controle de qualidade, corre-se o risco de sofrerem
deterioração acelerada de suas propriedades e características
iniciais. Os prejuízos, nestes casos, vão desde a perda de
importantes frações de nutrientes a até mesmo do valor comercial
que esses mesmos produtos poderiam alcançar caso a preservação
fosse feita de maneira adequada.
Por isso é muito importante o
agricultor, na condição de um empreendedor agrícola que
essencialmente é, ficar atento e empregar os esforços necessários
para preservar adequadamente o resultado do seu trabalho. Os ganhos,
caso isso seja feito, serão ainda maiores, tanto do ponto de vista
nutricional como do ponto de vista comercial. Produtos bem
higienizados e embalados adequadamente para aqueles casos onde o seu
consumo não será imediato, tendem a agregar valor na cadeia de
produção. O mesmo irá acontecer, como veremos mais adiante, no
processamento de muitos desses produtos, que poderá conferir às
famílias camponesas uma importante fonte de renda adicional. Porém,
tudo irá começar pelo primeiro passo: a colheita.
Colhendo os produtos da
machamba
Uma das primeiras coisas que
precisamos ter em mente é que cada tipo de planta e, portanto,
cultura agrícola, tem a sua forma adequada de ser retirada do campo.
Por exemplo, as folhas como salsa, rúcula, coentro, cebolinha,
nhangana1,
mboa2,
dledlele3
e outras precisam ser colhidas no mesmo dia em que forem ser
comercializadas. Caso isso não seja possível, a colheita poderá
acontecer no dia anterior mas, para isso, as folhas deverão ficar
com as pontas de seus caules imersos em água limpa, como se fosse
num vaso de flores. Outras culturas, como a batata-doce, batata-reno,
cenouras e outros podem ficar até alguns dias antes de serem
consumidos ou comercializados. As técnicas, portanto, vão sendo
modificadas de acordo com a natureza de cada cultura e o tempo
disponível para o seu armazenamento.
Colheita de produtos da
machamba. Machamba-modelo da Agricultura Natural de Marracuene.
Toda colheita deve ser
precedida do devido planejamento
da atividade.
Isso evitará os desperdícios e perdas de produtos, que muitas vezes
consumiram grandes quantidades de preciosos recursos para serem
produzidos como a água, por exemplo. Além disso, devemos considerar
também o dispêndio de energia na própria atividade de colheita,
muitas vezes sendo feita em horários diferentes daqueles normalmente
usados para o restante das atividades do campo. Portanto, saber o que
colher e em qual quantidade poderá ser a chave para o sucesso do
empreendimento. E fica claro que o planejamento do que plantar, numa
etapa bem anterior à colheita, foi um dos passos fundamentais para
toda a rentabilização da atividade agrícola. Para continuarmos com
nossa discussão, vamos partir do pressuposto, nesse módulo, que
todo o plantio das culturas foi devidamente planificado e, portanto,
as estimativas de produção foram feitas com todo o critério
necessário.
Além da colheita em si,
também é muito importante estarmos atentos para as diversas formas
de transportar nossas colheitas de modo a
minimizar eventuais perdas seja por derrames ou mesmo por
danificarmos os produtos. Assim, o acondicionamento dos produtos
colhidos é tão importante quanto a técnica usada para colhê-los.
Por fim, as técnicas
de exposição
dos produtos para uma maior valorização junto ao publico
consumidor, fechará o ciclo produtivo. Para aqueles agricultores que
estejam interessados no empreendedorismo através da Agricultura
Natural, a venda final de seus produtos é quase uma espécie de
certificação de todo o seu trabalho até ali. Por isso, é muito
importante também estar atento na hora de valorizar todo o seu
esforço e investimento. Aliado ao fato dos produtos da Agricultura
Natural tenderem a ser isentos de contaminantes, ricos
nutricionalmente e saborosos, é importante também que sua
apresentação final seja condizente com a sua própria Natureza. Ele
será, nesta etapa, uma espécie de cartão de visita da Agricultura
Natural, ajudando a expandir ainda mais a sua filosofia de trabalho.
Exposição e venda dos
produtos da Agricultura Natural em Moçambique.
Colheita de folhas
Como mencionamos
anteriormente, a colheita das folhas de nossas machambas deve ser
precedida de alguns cuidados básicos para que, na hora de sua
comercialização, elas possam atingir valores melhores aos
agricultores e se convertam em excelentes opções de compra aos
consumidores, tanto em termos de preços quanto em termos de
qualidade. O ideal é que a colheita de folhas seja feita no mesmo
dia em que forem comercializadas, preferencialmente
nas primeiras horas da manhã.
Mas nem sempre isso é possível, principalmente pela falta de
logística de transporte que verificamos na maioria dos campos de
agricultores familiares pelo interior do país.
Existem alternativas para se
procurar manter o frescor e a vitalidade das folhas colhidas das
machambas. Uma dessas alternativas, e que consideramos a mais
eficiente em termos de preservação natural, é aquela na qual as
folhas recém colhidas são imediatamente imersas em água limpa,
para serem resfriadas, e em seguida seus caules mantidos na água
como se fossem flores num vaso. A idéia é retardar ao máximo o
inicio da degradação
do alimento,
por ação natural de microrganismos, e a perda de água dos tecidos
vegetais, o que ocasiona o murchamento das folhas.
Seleção das folhas lavadas.
Introduzimos aqui a expressão
degradação do alimento. É preciso ter em conta que, a partir do
momento em que qualquer alimento é retirado do campo, inicia-se
imediatamente o processo de decomposição de seus tecidos, tal como
acontece com qualquer animal morto. Evidentemente que o tempo para
que essa decomposição ocorra será diferente para cada tipo de
planta, como já dissemos, e muitas delas poderão ficar dias antes
que se inicie o processo de putrefação. Mas isso não quer dizer
que a qualidade do alimento, em sua totalidade, seja também
preservada por todo esse tempo em que ele ficar, por exemplo, exposto
para venda. Com as folhas isso é evidente, pois bastam algumas horas
após a colheita para percebermos a sua deterioração, caso não
sejam tomados os cuidados necessários para evitá-la.
O tempo em que uma folha
colhida permanecerá vistosa e bem apresentada, mesmo com todos os
cuidados acima mencionados, dependerá também do seu vigor
hídrico.
Isso tem a ver com a quantidade de água que a planta conseguiu reter
ao longo do seu desenvolvimento e essa quantidade está diretamente
relacionada à boa nutrição, equilibrada, que ela conseguiu a
partir do solo. Em outras palavras, se o sistema de produção
agrícola for bem conduzido e principalmente, ecologicamente
equilibrado, a tendência é que as plantas colhidas durem muito mais
tempo e isso pode ser uma excelente estratégia comercial por parte
dos agricultores camponeses.
Um outro aspecto também muito
importante na questão das colheitas de folhas diz respeito ao fato
de que muitas plantas não precisam ser colhidas em sua totalidade. É
muito comum encontrarmos pés inteiros de couve que foram colhidos
até quase a raiz. Essas plantas, colhidas dessa maneira, não
conseguem mais sobreviver e acabam morrendo, sendo necessário, pois,
plantar uma nova muda daquele espécie ou até mesmo outro tipo de
planta. Assim como as couves, as couve-chinesas, rúcula, salsa, etc.
também costumam ser colhidas convencionalmente de forma que não
resta nada no canteiro original, e dessa forma eles acabam precisando
ser renovados continuamente.
Por outro lado, em termos de
estratégia de uso da água e da economia de tempo e energia, uma
melhor opção é colher somente aquelas folhas que irão ser
consumidas ou comercializadas. Isto porque, assim fazendo, não
haverá a necessidade de replantar, por exemplo, aquele pé de couve
que foi colhido inteiro. Retirando semanalmente somente aquelas
folhas que forem adequadas para a venda ou consumo, ainda mantemos
nossos pés de couve nos canteiros e economizamos muita água de
irrigação e energia, inclusive de trabalho braçal, que de outra
forma teriam de ser gastos com mudas pequenas daquela planta que só
estarão prontas para a colheita depois de dois ou três meses.
Assim, plantas como as couves (inclusive a couve-chinesa), acelgas,
espinafres, salsas, cebolinhas e até mesmo as folhas da beterraba,
cenoura, nabos, etc., podem ir sendo colhidos regularmente sem que
tenhamos a necessidade de retirar a planta inteira. Com outras
plantas isso já não é possível, como é o caso das alfaces.
Estas, depois de um determinado tempo, começam a produzir
naturalmente uma série de toxinas naturais que tornam suas folhas
amargas e, portanto, impróprias para o consumo humano.
Colheita de tubérculos
Ao colhermos os tubérculos,
como as batatas por exemplo, um dos principais cuidados a serem
tomados diz respeito à forma correta de retirá-los do solo. O uso
da enxada precisa ser feito com muito cuidado, pois do contrário
corre-se o risco de danificar os produtos o que provocará
imediatamente sua desvalorização comercial e também a diminuição
do tempo de preservação natural desses produtos. No caso das
batatas (batata-reno, batata-doce, etc.) o ideal é usar um pequeno
implemento chamado arranca-batatas que pode ser puxado por burros,
bois ou até mesmo uma pequena motocultivadora. O uso desse tipo de
ferramenta além de facilitar enormemente o trabalho de colheita trás
ainda a vantagem de aumentar a produtividade por hectare, já que
muito poucas raízes ficam enterradas no solo sem serem colhidas.
Na colheita de outras raízes
como cenouras e beterrabas, embora existam equipamentos de grande
porte para realizar esse tipo de trabalho, ao agricultor camponês
resta a alternativa de colhê-las manualmente. No entanto, pela
relativa facilidade com que conseguem ser retiradas do solo,
comparativamente ao que acontece com as batatas, sua colheita acaba
sendo feita sem grandes transtornos. O mesmo raciocínio pode ser
feito para os nabos e rabanetes, cuja colheita também acaba sendo
feita manualmente, principalmente no caso de pequenos agricultores.
Rabanetes recém-colhidos.
Machamba-modelo da Agricultura Natural de Marracuene.
A mandioca tem um aspecto
interessante. Dependendo da forma com que as manivas
(pedaços do caule da planta) foram plantadas, a colheita pode ser
facilitada ou dificultada. É muito comum encontrarmos campos de
plantio de mandioca onde as manivas são enfiadas no solo em ângulo
de mais ou menos 45o
ou perpendicularmente a este. Na verdade, a maioria dos agricultores
acabam optando por essa forma de plantio talvez pelo fato de
conseguirem um maior percentual de pega das mudas. De fato, manivas
plantadas enfiadas parcialmente no solo tendem a brotar muito mais
rápido, o que não significa necessariamente que irão produzir
raízes também mais rápido ou em grandes quantidades. A outra forma
de plantar as manivas é enterrando-as totalmente no solo após terem
sido colocadas na horizontal, ou seja, deitando as manivas no solo e
depois cobrindo-as totalmente com terra. O tempo para que os rebentos
da nova planta apareçam é de fato um pouco maior, mas a
produtividade por pé de mandioca também será comparativamente
maior. Além disso, as raízes de mandioca, quando as manivas são
plantadas na horizontal, tendem a crescer bem rentes à superfície
do solo, o que irá facilitar muito o futuro trabalho de colheita e,
consequentemente, de produtividade por hectare.
As batatas-doce também têm
sua particularidade. Os tubérculos, depois de atingirem o grau
adequado de maturação podem ser mantidos no próprio campo. Estudos
mostram que as batatas-doce podem permanecer enterradas, sem serem
colhidas, por até 6 meses. Por outro lado, isso não quer dizer que
elas não estarão sujeitas ao ataque de insetos, principalmente
formigas, e também de roedores como os ratos do campo ou mesmo os
ratos-toupeira. Portanto, embora se conheça essa particularidade das
batatas-doce, a decisão de mantê-las ou não nos campos vai
depender bastante do equilíbrio ecológico atingido na propriedade.
As batatas-doce podem
permanecer meses debaixo da terra sem serem colhidas, mas isso requer
planejamento. Pólo de Agricultura Natural da Moamba.
Colheita de frutas e
legumes
Muitas vezes o tempo entre a
colheita e a comercialização final dos produtos, como já dissemos,
pode levar alguns dias. Por isso, alguns produtos da machamba devem
ser colhidos ainda verdes, como é o caso das bananas. Isso além de
possibilitar um tempo maior de exposição na prateleira, minimiza
consideravelmente as perdas durante o transporte. O mesmo raciocínio
é usado para os tomates, que normalmente são colhidos quando o
processo de amadurecimento ainda está bem no inicio. Essas
observações, contudo, dependerão da logística disponível pelo
agricultor para conseguir distribuir e vender sua mercadoria. Poderá
ser o caso, por exemplo, dele conseguir expor seus produtos frescos e
já no ponto ótimo de maturação, caso tenha condições para isso.
Em outras situações, como no
caso das berinjelas, os frutos deverão ser colhidos no ponto ótimo
de maturação, já que esse legume tem ótima resistência mecânica
e se mantém firme por vários dias após ter sido colhido.
Preservando os produtos da
machamba
O ideal é que todo produto
que for colhido da machamba e que não venha a ser imediatamente
consumido ou comercializado, seja mantido sob refrigeração.
Evidentemente que isso é impraticável por parte da maioria dos
agricultores camponeses, já que o processo exigiria a aquisição de
grandes frigoríficos, com considerável custo de energia,
manutenção, etc. Uma alternativa é a que já descrevemos no item
anterior, a de colher muitos desses produtos antes que atinjam sua
maturação ideal e, com isso, possibilitar um tempo maior de
conservação antes da venda final. Porém, existem casos em que essa
colheita antecipada não é possível, como no caso dos morangos, que
sob temperaturas ambientes mais altas (acima dos 27 oC,
por exemplo) aceleram
muito a sua deterioração, muitas vezes ficando impróprio para o
consumo in
natura em
pouco mais de 10 ou 12 horas, sob estas condições.
Colheita de morangos na
Machamba-modelo da Agricultura Natural de Marracuene. O morango é um
fruto que precisa ser refrigerado logo que é colhido.
Outra alternativa, e que será
mais profundamente discutida nos itens seguintes, é a produção de
conservas, doces e geléias, que além de agregar bastante valor aos
produtos, elevam consideravelmente o tempo de preservação dos
alimentos. Geléias, por exemplo, se forem feitas de forma adequada,
podem ser preservadas por 6 meses ou mais, sem necessitarem de
cuidados especiais como a refrigeração. Evidentemente que o sucesso
desse tipo de trabalho estará relacionado ao bom planejamento da
produção agrícola, como vimos no Módulo 2, e também da variedade
de produtos que o agricultor tiver à sua disposição na machamba.
Por exemplo, se a opção for pela produção de doces e geléias,
quanto maior a variedade desses doces maior será a aceitação dos
produtos e mais facilmente o agricultor conseguirá criar e manter
uma clientela fiel ao seu trabalho.
1 Folhas
de feijão-nhemba, também conhecido por feijão-de-corda.
2 Folhas
de abóbora.
3 Folhas
de batata-doce.
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