ÁGUA E SANEAMENTO AMBIENTAL
A água para o corpo humano
Quando
a injustiça social afeta um grupo, às vezes este, ante sua angústia, declara-se
em greve de fome e não ingere alimentos. Há também quem o faça por razões
religiosas. Entretanto, dificilmente alguém poderia fazer uma greve de sede,
isto é, não beber, pois não conseguiria ver a solução de seus problemas, já que
morreria rapidamente. O homem pode perder até 40% de seu peso e não morrer,
mas, se perde mais de 20% da água de seu organismo, pode falecer.
O
corpo humano é constituído de água, em cerca de 65%:
·
ela se encontra nas células,
mantendo-as cheias e túrgidas;
·
na saliva e nos sucos com que o
homem digere os alimentos;
·
no sangue, o qual é irrigado e
impulsionado a todo o organismo pelo coração, que bombeia 14.000 litros por
dia, em média, sem descanso, levando nutrientes e retirando anidrido carbônico
e produtos tóxicos que o homem deve eliminar pela urina e pelo suor, senão
morreria intoxicado.
A
água do corpo cumpre, também, outras funções, como, por exemplo, refrescá-lo.
Para tanto, ocorre a transpiração, evaporando a água através da pele,
baixando-se, com isso, a temperata. Uma das doenças mais graves é a diarréia,
especialmente para as crianças, porque a perda de água pode desidratá-las e
provocar a sua morte. Por esses motivos, o homem necessita diariamente de água
saudável e limpa para o seu consumo. Somente para beber, precisa de
dois a oito litros, conforme sua atividade.
Quando
falta água na fazenda, em climas semi-áridos ou com secas, o homem tem,
necessariamente, de trazê-la, às vezes, de muito longe. Esse trabalho
normalmente é feito por mulheres e crianças, as quais costumam percorrer até
mais de 12 km por dia, o que significa esforço, gasto de energia e de tempo que
poderiam ser úteis para outras atividades. Isso os mantêm num estado de cansaço
que afeta a qualidade de suas vidas. Na maioria das vezes, essa falta de água é
produzida por uma má utilização do Ambiente, da geração de mais e mais seca e,
com isso, da produção de novos desertos, ou do desconhecimento das técnicas
mais adequadas para captar água.
Como a água de má qualidade pode afetar o ser humano
Uma
água quimicamente pura não é ideal para beber, pois não contém alguns sais
minerais essenciais para o homem. A água poluída pode ter odores e
sabores desagradáveis, ser adstringente ou turva, mas não necessariamente será
tóxica. Seus efeitos para a saúde aparecerão a longo prazo. A água
contaminada, entretanto, tem um efeito rápido sobre a saúde. A
contaminação pode ser biológica ou química.
A
contaminação biológica deve-se a micróbios levados para a água por animais
doentes, ou pelo arraste de excrementos humanos ou animais, por contaminação
hidrofecal. Anualmente, no mundo, morrem milhões de pessoas devido a
enfermidades transmitidas pela água. Essas enfermidades são de quatro tipos. O
primeiro corresponde àquelas em que o micróbio é transportado diretamente pela
água, como a hepatite, que ataca o fígado; a febre tifóide, que produz febres
muito altas; a amebíase e o cólera, que produzem diarréias, rápida desidratação
e podem provocar a morte. O segundo tipo é transmitido por um caracol, peixe ou
marisco. Desse grupo, a enfermidade mais temida é a esquistossomose, cujos
vermes têm ganchos que se fixam no fígado do homem, produzindo lesões e que o
fazem parar de funcionar. Essas pessoas, ao defecarem, lançam ovos que podem
contaminar outras pessoas. No terceiro tipo, o micróbio é transmitido por
insetos, cujas larvas vivem na água, como os mosquitos. Entre essas
enfermidades estão a febre amarela, o paludismo ou malária e a filariose ou
elefantíase. O quarto tipo está intimamente relacionado com a água utilizada na
higiente corporal, que pode evitar a sarna, a tinha, o tifo e outras
enfermidades.
A
contaminação química é produzida principalmente pala atividade agrícola:
1.
fertilizantes químicos,
agrotóxicos e hormônios, que envenenam a água;
2.
pela atividade industrial: pós e
dejetos tóxicos e, em alguns casos, resíduos radioativos que “queimam” o corpo
e produzem câncer;
3.
pela atividade mineradora e
garimpeira: óleos, ácidos venenosos e mercúrio, que são produtos químicos
altamente tóxicos.
Como as
alterações ambientais e os hábitos da população rural e urbana afetam a saúde
da comunidade
Nas
áreas silvestres, existem doenças que ocorrem sem serem contraídas pelo homem.
Essas afetam os animais silvestres de forma permanente. Quando o homem vai
morar nesses lugares, pode adquirí-las. Isso ocorre se o homem se estabelece
diretamente no ambiente natural ou se o modifica, para adequá-lo a outras
atividades. Dessa forma, há sempre um certo número de pessoas afetadas nesses
lugares por tais enfermidades, as quais, por isso, chamam-se endêmicas.
Entre essas, podem-se citar a leishmaniose
e a febre amarela. Acredita-se que o HIV, vírus
causador da SIDA, vivia originalmente incubado nos corpos de determinadas
populações de macacos nas florestas. Com o avanço do desmatamento ocorreu a
destruição do habitat natural desses
animais e a partir daí o seu contato com os seres humanos foi inevitável o que
acabou causando a disseminação da SIDA ao redor do mundo.
Entre
os maus hábitos, pode-se mencionar aquele de defecar diretamente na terra. Se a
pessoa que o faz está doente, pode eliminar ovos de parasitas e estes podem
incubar-se no solo e liberar pequenas larvas, as quais podem penetrar pela pele
de pessoas sadias, adoecendo-as. Essas larvas fixam-se nos intestinos,
produzindo úlceras, dores e anemia. Adubar a horta com excrementos humanos
pode, também, produzir verminose, razão também pela qual essa prática não é
incentivada.
O
acesso de animais domésticos, como cães e gatos, nas praias e balneários
destinados a recreação de banhistas também pode acarretar a disseminação de
muitas doenças causadas por parasitas existentes nas fezes desses animais. Em
muitos países do mundo esse acesso é proibido para se garantir um ambiente mais
saudável às pessoas.
Outro
hábito ruim é o de acumular lixo perto de casa, o que atrai ratos e moscas. Os
ratos transmitem muitas doenças ao homem e aos animais domésticos, entre elas a
leptospirose e a peste. As moscas contagiam com a febre tifóide e a disenteria
bacilar. As larvas da mosca causam danos à pele e aos músculos de animais e do
homem, tendo em vista que, geralmente, põe os ovos nas feridas.
Como podemos evitar danos à sua saúde produzidos por
critérios equivocados de vida e trabalho
Muitas
doenças e problemas de saúde pública podem ser evitados com algumas medidas
simples, podendo-se, assim, devolver, a uma parte da população, seu bem estar e
sua capacidade de trabalho. Uma forma seria, por exemplo, observar muito bem a
origem da água e a contaminação que essa possa ter, ainda que usada somente
para banho. Se as águas estão contaminadas com resíduos industriais, podem produzir
graves alergias e danos à pele.
Sem
dúvida, como já foi mencionado, os agrotóxicos danificam a saúde humana. O
efeito é diferente, dependendo da quantidade e dos químicos que contenham.
Dependendo do químico a ingestão ou uma forte dose recebida pela pele podem
levar à morte em poucas horas. Em alguns casos, produz-se, também, a chamada intoxicação
crônica, na qual o produto vai-se acumulando pouco a pouco no
organismo, produzindo danos lentamente, os quais podem ser confundidos com
outras enfermidades. Alguns químicos são de efeito cumulativo – acumulam-se no
sangue e quando chegam a uma determinada quantidade, produzem a morte. O
agricultor e sua família podem contaminar-se inalando-os, ingerindo-os com os
alimentos ou com a água, ou por contato com a pele.
Outros
problemas têm sua origem no desmatamento. Deve-se deixar vegetação suficiente
para a fauna do lugar, evitando-se, assim, que esta traga alguma enfermidade
para as habitações.
Também
é importante aterrar ou drenar buracos e limpar canais de irrigação, para
evitar a criação de caracóis, mosquitos e outros insetos que possam transmitir
doenças.
É
uma responsabilidade social educar as crianças sobre esses problemas, como
forma de protegê-las. Também é responsabilidade social denunciar às autoridades
ambientais e sanitárias sobre problemas do ambiente e da saúde, pois isso
permite tomar, oportunamente, as medidas corretivas que correspondam ao
município e aos organismos do estado.
Águas servidas e efluentes contaminantes?
Águas
servidas são todas aquelas que tenham sido utilizadas e cuja qualidade se tenha
deteriorado. Entre elas, encontram-se:
1.
as que foram usadas para lavar e
tenham restos de sabão, detergentes e sujeira;
2.
aquelas provenientes dos esgotos
das cidades, sujas com óleo queimado de automóveis, resíduos de putrefação,
restos de inseticidas domésticos, etc.
3.
as águas já empregadas na
irrigação também são servidas e, se a irrigação for mal feita, arrastam
fertilizantes, agrotóxicos, terra e germes de doenças dos cultivos.
Os
efluentes de esgoto são aqueles que recolhem excrementos humanos e urina.
Representam um maior risco de contaminação de doenças infecciosas,
especialmente no caso de esgoto de hospitais. Os efluentes industriais carregam
diferentes substâncias ácidas e outras muito tóxicas. Frequentemente têm
temperatura elevada, o que degrada gravemente a vida aquática.
Esses
efluentes impactam fortemente o ambiente. Os rios, lagos, canais e oceanos se
vêem afetados. O efeito será muito severo se ultrapassar certo limite de
contaminação, já que esses ambientes suportam somente uma determinada
quantidade de tóxicos em suas águas e uma maior proporção deles impede que os
ecossistemas recuperem suas características normais.
Às
vezes, o homem, sem saber, utiliza águas servidas, danificando sua saúde. A
fauna, com maior razão, utiliza essas águas, pois não tem outra alternativa.
Para
satisfazer as necessidades de água, o homem, lamentavelmente, danifica a
qualidade de quantidades muito superiores àquelas que utiliza, e isso não é
racional. Tampouco é racional devolver água poluída e contaminada à natureza,
como se esta fosse uma lixeira. O homem deve aprender a usar mais
responsavelmente esse recurso, em benefício de si mesmo. Deve fazer retornar ao
ambiente águas limpas, podendo, dessa forma, contar sempre com águas puras e
abundantes na Natureza. Parte importante desse dano pode ser evitado com
hábitos culturais, capacitação técnica, preocupação da comunidade e
planificação racional do uso que se fará da água.
Que destino deveriam ter os efluentes de esgoto?
Os
efluentes de esgotos não deveriam ser lançados diretamente nos rios, nem no
mar, por causa do risco de contágio de doenças e porque estes não são nem devem
transformar-se em receptores de efluentes sanitários ou local de despejo de
lixo. Infelizmente, é isso que ocorre em grande parte do mundo. Os excrementos
tampouco devem permanecer no campo, pois podem produzir contaminação
hidrofecal.
Há
comunidades indígenas pequenas, em equilíbrio com o ambiente, que defecam ao ar
livre, e animais saprófagos que comem seus excrementos e os integram ao ciclo
biológico. Assim, a contaminação é mínima. Isso já não ocorre atualmente nas
fazendas, pois a fauna saprófaga foi, em grande parte, eliminada. Apesar disso,
o princípio é válido. Devem-se incorporar esses resíduos a um processo
biológico para obter sua reciclagem e, assim, recuperar nutrientes e evitar
contaminação.
Uma
forma de reciclar os excrementos seria misturá-los com lixo e terra para
fermentá-los e transformá-los numa espécie de adubo orgânico. Isso requer
técnica para que a fermentação alcance 70 a 75 graus, eliminando os micróbios.
Outra forma prática para a machamba é o “banheiro-liteira”. Este consiste em
uma “casinha” leve, que é levada de um lugar para outro e instalada sobre buracos
de 60 cm de profundidade, para ser usada como vaso. Quando estiver com um terço
de seu volume cheio de excrementos, agrega-se lixo orgânico, capins, folhas e
talos, até outro terço. Em seguida, acrescenta-se uma pá de cal ou cinza e, por
cima, terra retirada de quando se fez o buraco. Enterra-se nesse lugar uma
estaca e, depois de três meses, mistura-se tudo e planta-se uma árvore
frutífera. Assim, vai-se fazendo um pomar de frutíferas, que estará fertilizado
organicamente por muitos anos.
Outro
sistema consiste em conduzir as águas escuras a um poço séptico, no
qual estas decantam e os líquidos infiltram-se pelo fundo. Dessa forma, há
menos risco de contaminação. Algumas cidades têm estações de tratamento de águas
escuras, com lagoas destinadas à oxidação e destruição dos resíduos,
por fermentação.
Como melhorar a água para o consumo humano
Numa quinta ou machamba, necessita-se
basicamente de dois tipos de água. Ambas devem ser limpas, mas deve-se
distinguir entre a água corrente destinada a molhar ou lavar os pisos, os
vidros, molhar plantas, e a água potável utilizada para beber, preparar
alimentos, lavar verduras, frutas e utensílios de cozinha. Filtrando-se a água
coletada das chuvas com areia e carvão vegetal, é possível obter água corrente
de boa qualidade.
Tendo-se água corrente, pode-se
torná-la potável, filtrando-a num pote de argila finamente poroso ou em um
filtro de rocha porosa. Esse material deixará passar a água gota-a-gota. Como
uma parte da água que molha o filtro se evapora, este se mantém frio e refresca
a água. Além de manter-se fresca, a água, ao gotejar num pote de argila,
torna-se aerada, melhorando seu sabor e o gosto dos alimentos preparados com
ela.
A água assim filtrada ainda pode
conter contaminação biológica. Para eliminar os micróbios, é necessário
proceder à desinfecção que consiste em adicionar algum produto que tem o poder
de matar os germes. Um desses produtos é o cloro (hipoclorito de sódio –
“Certeza”), que funciona como um poderoso agente desinfectante.
Outra forma de conseguir a
descontaminação biológica é ferver a água por 15 minutos. Se a água não é
utilizada em oito horas, deve-se tornar a fervê-la por mais cinco minutos. Para
economizar combustível, pode-se usar o calor solar. Para isso, basta pintar de
preto, por fora, tachos ou garrafas com tampa. Estas, cheias de água, são
postas numa caixa de metal pintada de preto por dentro, a qual é tampada com
vidro. Essa caixa é colocada ao sol, onde será aquecida. A cada duas horas,
pode-se tirar água descontaminada (sem bactérias) das garrafas e carregá-las
novamente com água filtrada. Nesse sitema, a água não ferve, mas alcança de 65
a 75 graus, o que mata a maioria dos micróbios.
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