Vamos dar uma olhada nas duas imagens a
seguir:
A primeira imagem é da mapira (Sorghum
sp.) e a segunda do milho (Zea mays). Embora sejam plantas
de espécies diferentes, sua semelhança morfológica pode estar
contribuindo, há muito tempo, para uma espécie de subcultivo do
milho em muitas regiões do interior africano. Vamos analisar com
mais calma as imagens anteriores.
A primeira imagem, da mapira, parece
mostrar cinco plantas carregadas de sementes, não? Só que as coisas
não são bem assim. Na verdade, trata-se de uma única planta,
originada de uma única semente, que rebroutou após a primeira
colheita e o corte da parte aérea da planta original. Pode até não
parecer, mas os cinco pendões que vemos carregados compartilham o
mesmo sistema radicular. E não é só isso. Pela natureza dessa
planta, o sistema radicular permanece vivo mesmo após alguns cortes
da parte aérea da planta e até mesmo quando ocorre uma estiagem
prolongada. A mapira pode ficar meses sem receber água e quando
volta a recebê-la, o seu desenvolvimento é retomado.
Já o milho, uma planta de origem das
terras altas da América do Sul, possui uma estratégia de
sobrevivência bem diferente da mapira. O pé de milho mostrado na
segunda imagem também foi obtido após o plantio de uma única
semente, só que nesse caso, essa semente produziu apenas um único
“pé de milho”. Nessas condições, a produção de espigas pode
variar de duas a até quatro espigas num único pé. Após o
amadurecimento da espiga, o pé de milho seca e morre.
O milho foi trazido para a África
pelos antigos colonizadores europeus que o descobriram em terras
americanas. Rapidamente o seu cultivo foi expandido por praticamente
todo o continente e hoje em dia é um dos cereais mais cultivados em
todo o planeta. No entanto, nas machambas camponesas é muito comum
encontrarmos milho plantado como se fosse mapira. Como é isso? Os
camponeses adotaram o hábito de colocar numa só cova até seis ou
sete sementes de milho e uma das justificativas para isso “é
que eles precisam produzir o máximo de espigas por cova semeada”.
Contudo, o que se vê na maioria esmagadora das machambas são
plantas subdesenvolvidas que produzem espigas pequenas e raramente
bem carregadas de sementes. No entanto, esse hábito é tão forte na
cultura atual que até mesmo no caso de nossos colaboradores é
difícil convencê-los do erro dessa prática.
Ao plantarmos mais do que duas sementes
de milho por cova, as plantas que nascerem irão competir pelo espaço
disponível e o resultado será uma espécie de atrofiamento do
sistema radicular o que acabará causando um subdesenvolvimento da
própria planta e consequentemente, da colheita. Durante algum tempo
nos perguntávamos o por que dessa prática e numa espécie de
insight percebemos, ao contemplar um pé de mapira carregado após a
rebrota, que talvez esse hábito tenha se originado ainda no tempo do
início da colonização, quando nossos ancestrais receberam as
primeiras sementes de milho e perceberam que as plantas eram muito
parecidas com as da mapira, de origem africana e, portanto, cultivada
no continente há milhares de anos. O fato é que plantar milho como
se fosse mapira não irá produzir, nem de longe, as colheitas
potenciais que essa cultura pode nos dar.
Por outro lado, o cultivo da mapira
como estratégia na produção de alimento em quantidade e qualidade
em regiões vulneráveis em termos climáticos, pode ser até mais
interessante que o milho. Como a planta está muito melhor adaptada
às condições de escassez de água e ao calor africano, seu cultivo
pode ser uma espécie de apólice de seguro para eventuais crises
alimentares em muitas partes do continente.
Nas nossas machambas da Agricultura Natural, tanto o milho
quanto a mapira são presenças mais que obrigatórias!
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