10.
Irrigação
e gestão da água
(Capítulo 10 do Módulo II da Apostila do Curso de Agricultura Natural)
Ao longo desse módulo da
nossa apostila já tivemos várias oportunidades de falar da água de
irrigação nos campos para a prática da Agricultura Natural. Na
verdade, vários assuntos estão sendo tratados nesse nosso material
de forma
orgânica,
ou seja, distribuído
ao longo do texto. Afim de facilitar a organização do nosso
material escrito, ainda lançamos mão do artifício de localizar os
tópicos para serem aprofundados, mas de uma maneira geral, assim
como acontece com as nossas machambas, tudo
está conectado.
Vamos, pois, aprofundar agora um pouco mais na questão da água,
mencionando e repetindo, sempre que necessário, algumas informações
já apresentadas anteriormente.
Um fator limitante para a
prática da atividade agrícola pelo interior do continente africano
e em muitas regiões do planeta é, sem dúvida nenhuma, a
disponibilidade de água. Seja na propriedade, na sua região ou
ainda na bacia hidrográfica onde estiver inserida a atividade
agrícola, o acesso a água é primordial para o sustento das
lavouras. Nem sempre podemos contar com a chuvas, pois em muitas
regiões elas já não são bem distribuídas ao longo do ano e já
em muitos casos, ao longo de vários anos. O processo de
desertificação que atualmente se verifica em muitas regiões do
planeta e em especial do continente africano, é um reflexo direto
dessa má distribuição das chuvas e tem provocado cada vez mais
conflitos pelo acesso a água. Água
é vida.
Dessa forma, também na
Agricultura Natural precisamos estar atentos ao uso correto e ao
manejo adequado da água para que nossas produções tenham sucesso
permanente. Isto implica em não só saber usar a água que
eventualmente temos à nossa disposição, mas também em sermos
capazes de orientar nossos vizinhos em como fazê-lo. Tudo
está conectado
e, sendo assim, qualquer atividade que desenvolvermos em nossos
terrenos terá um impacto no nosso entorno. Se esse impacto será
positivo ou negativo, isso vai depender exclusivamente de nós
mesmos.
Para clarear um pouco mais a
idéia apresentada, vamos imaginar que, num determinado momento, um
agricultor resolva instalar uma plantação de bananas pelo método
da Agricultura Natural, por exemplo. Dependendo da região onde ele
estiver, pode acontecer desse produto ter uma excelente aceitação
no mercado da sua região, conseguindo atingir ótimos preços. Daí,
a produção de bananas
naturais
poder se converter numa excelente fonte de renda. Mas, seguindo nosso
exemplo, vamos supor ainda que a área disponível para a implantação
desse bananal fique numa região com total carência de água, sem
rios ou lagos na sua proximidade. Como alternativa para a irrigação,
suponhamos que se estabeleça um projeto através do qual o
agricultor irá captar água subterrânea e promover a irrigação
por gotejamento. Até ai, talvez ele possa fazê-lo sem grandes
prejuízos globais, desde que talvez plante apenas algumas dezenas ou
mesmo poucas centenas de bananeiras. Mas imagine que ele resolva
investir num bananal com milhares de bananeiras e lembremos que essas
plantas irão demandar grandes quantidades de água durante todo o
seu ciclo de crescimento e produção.
A água subterrânea não
“nasce” espontaneamente do solo. A água faz parte de um ciclo
através do qual ela circula
por todo o planeta Terra. A esse ciclo damos o nome de Ciclo
da Água.
No subsolo, a água fica
armazenada nos espaços porosos de terra ou rocha. Chamamos essa
porção de terra de aqüífero
e, dependo da composição geológica onde estão localizados, os
aqüíferos podem ter diversas classificações. Os aqüíferos
confinados
são aqueles onde a água está presa no interior de massas rochosas
sem que sejam capazes de se reabastecer, pelo menos em intervalos de
tempo de algumas dezenas de milhares de anos. Normalmente a água
armazenada nesse tipo de aqüífero está sob pressão e a grandes
profundidades. Já no caso dos aqüíferos
semi-confinados
ou dos aqüíferos
abertos,
eles estão localizados em porções de terra onde é possível
ocorrer a sua recarga, ou seja, a sua realimentação periódica.
Esses aqüíferos são muito mais ativos no ciclo da água e
normalmente estão localizados em camadas mais superficiais de
sub-solo.
Ao fazermos uso da água
subterrânea na forma de poços perfurados, é muito importante, no
contexto geral de nossas atividades tendo por base a sustentabilidade
de todo o nosso sistema agrícola, sabermos a origem dessa água. No
caso de se usarem aqüíferos confinados, é bom sempre lembrar que
trata-se de um recurso
finito,
embora muitas vezes possam ainda levar décadas para que se esgote.
Um exemplo marcante na atualidade é o uso do aqüïfero existente
sob o deserto do Saara que vem abastecendo gigantescas fazendas de
produção agrícola no Egito. Estudos já apontaram que aquela água
toda, que pode parecer muito nos dias atuais, se consumida no ritmo
atual, irá ser completamente esgota em menos de 100 anos. A última
recarga daquele aqüífero foi feita, muito provavelmente, durante a
última era glacial do planeta. Portanto, uma vez esgotada aquela
água, toda aquela região só a terá de volta daqui a uns 20 ou 30
mil anos pelo menos.
Já no caso da água
subterrânea proveniente de aqüíferos abertos, como acontece com a
água de poços rasos e cisternas, sua dinâmica se faz presente em
escalas de tempo muito menores. Em determinados casos, quando fazemos
uso da água proveniente de poços rasos, é comum termos uma vazão
menor durante determinados meses, em função principalmente da
explotação
desses aqüíferos, pelas comunidades em geral, nos perídos de seca.
Em outras plavras, quanto maior o número de poços numa determinada
região, maior será o consumo da água armazenada e caso as chuvas
não sejam suficientes para reabastercer esses aqüíferos de forma
adequada, esse recurso poderá ser, inclusive, motivo de sérios
conflitos entre vizinhos.
Voltando ao exemplo da
plantação de bananeiras, se nosso agricultor não estiver atento à
origem da sua água subterrânea, sua atividade poderá, a médio ou
mesmo curto prazo, produzir uma série de impactos negativos no seu
entorno. Mesmo com a boa intenção de se tentar produzir um tipo de
alimento mais saudável, se as condições do ambiente não forem as
mais adequadas ao tipo de cultivo instalado, os resultados globais
poderão não ser tão interessantes assim.
A água proveniente de rios
possui uma outra dinâmica local, mas sua origem também continua
sendo a água proveniente do sub-solo, uma vez que, por maior que
seja um rio, ele sempre nasce a partir de uma pequena nascente.
Dai o fato de muitos países possuirem leis rígidas para proteger a
todo custo as áreas onde ocorrem essas nascentes. Do contrário,
caso nenhum esforço seja feito para protegê-las, um elo fundamental
do ciclo da água será quebrado e as consequências poderão ser
desastrosas.
Do ponto de vista prático,
quando tivermos nossas áreas de cultivo instaladas nas proximidades
de rios, podemos fazer a captação de água seja por meio do simples
escoamento superficial, quando a topografia assim o permitir, seja
pelo uso de eletro ou motobombas. Quanto mais distante nossa área
estiver das margens do rio, ou lagoa, maiores serão os gastos
necessários com a aquisição de equipamentos e materiais para
conduzir a água até onde estiverem localizadas as lavouras. Os
custos, porém, não são somente com a aquisição de materiais e
equipamentos mas também com a energia
necessária para fazê-lo. No caso de se usar eletrobombas, os custos
com a energia elétrica poderão ser, inclusive, um fator limitante
da produção agrícola, principalmente em locais onde não houver
subsídios das concessionárias de energia elétrica ao trabalho do
campo. No caso das motobombas, os gastos com combustíveis fósseis
também poderão ser altos, sem falar nos impactos ambientais
imediatos provocados pelas emissões contendo gases de efeito estufa.
Por fim, o escoamento
superficial pode parecer o ideal, pelo menos em termos de consumo de
energia, já que faz uso da gravidade. Mas ele tem o incoveniente de
não ser praticável a grandes distâncias das fontes de água, por
exigirem condições topográficas bem específicas. Além disso,
essa forma de conduzir a água pela superfície do solo pode se
revelar num problema muito sério, já que normalmente essa operação
acarreta grandes perdas de nutrientes presentes nas camadas
superfiais de solo e, com o tempo, acabam por provocar sua
desestruturação física. Por fim, o escoamento superficial também
tem o grande inconveniente de acabar por consumir quantidades quase
que absurdas de água, pois dificilmente os agricultores que fazem
uso desse tipo de sistema instalam, em seus canais de irrigação,
medidores de vazão.
Já deve ter ficado claro até
aqui que, qualquer que seja a fonte de água ou o método a ser
implantado para conduzi-la até nossas lavouras, o manejo
correto do solo
será, desculpem o trocadilho, o divisor de águas do sucesso do
nosso trabalho. Tão importante quanto saber a origem e a forma de
conduzir a água até o campo, a preservação adequada da água no
nosso solo será fundamental para garantir nossas produções
agrícolas.
Irrigação com o uso de aspersores
Exsitem diversos tipos de
aspersores disponíveis no mercado. Normalmente esse tipo de
equipamento exige instalações mais robustas como sistemas de
bombeamento de água de altas vazões, tubulações específicas,
etc. A rigor, são mais usados quando se deseja irrigar grandes
extensões de área de uma só vez. Assim, inicialmente busca-se
economizar energia com poucas operações ao logo do tempo, mas com
grande consumo de água. Um dos grandes problemas em se usar
exclusivamente sistemas de aspersores, é o fato de que a irrigação
acaba sendo feita de forma irregular em termos das reais necessidades
das diversas culturas instaladas no campo. Lembrem-se mais uma vez
que estamos trabalhando aqui sob a ótica da Agricultura Natural e,
portanto, de sistemas agroecológicos onde a biodiversidade estará,
na medida do possível, sempre presente nos campos de cultivo. Da
para perceber, portanto, que usar aspersores implica em duas coisas
basicamente: ou o agricultor acabará criando grandes campos de
monocultivo, para equilibrar o consumo de água na operação de
irrigação; ou ele irá irrigar os campos biodiversificados de
maneira desigual em termos das necessidades individuais de cada tipo
de planta ali instalada.
Mas por outro lado, pode
acontecer de se usar esse tipo de sistema de irrigação por algumas
outras limitações. No nosso caso, no Pólo de Agricultura Natural
da Moamba, estamos numa região que sofre com ventos fortes
praticamente durante todo o ano. Como veremos mais adiante, em
algumas das nossas machambas usamos o escoamento superfiial, mas em
outras, não temos alternativa senão o uso de aspersores com vazões
mais altas, para garantir que água caia sobre o solo e não seja
levada pelo vento. A partir do momento em que conseguimos instalar
barreiras de vento adequadas, foi possível planejar e instalar
sistemas de micro-aspersão
como será descrito no ítem a seguir.
Ao instalar aspersores pelo
campo, o agricultor deve ficar atento à capacidade de vazão do seu
equipamento. Dependendo do tipo de aspersor usado, ele poderá
fornecer um grande fluxo de água e um raio de ação elevado.
Sistemas maiores, os chamados canhões
de água,
podem alcançar facilmente dezenas de metros de raio de sua pluma
de irrigação. No casos dos aspersores menores, raios típicos vão
de 3 a 6 metros. A altura do aspesor também será importante, pois
se ele for instalado muito baixo diminuirá seu raio de ação; do
contário, se for instalado demasiadamente alto, os ventos poderão
interferir mais fortemente, dissipando a água e impedindo que ela
caia sobre o solo onde estive instalada a cultura. A altura ideal de
aspersores com 3 a 4 metros de raio de ação é de aproximadamente 1
metro.
Sistema
de irrigação por aspersão no Pólo de Agricultura Natural da
Moamba.
Dependendo da fonte de água,
pode ser necessaria a instalação de filtros de linha após a
captação pelas bombas (elétricas ou movidas a combustíveis). Isso
diminuirá as paradas para manutenção dos bicos dos aspersores que
por vezes acabam entupindo com resíduos de vegetação e outros
materiais em suspensão na água. Porém, mesmos os filtros
necessitam de limpeza constante e para evitar demasiadas interrupções
das operações, é interessante instalar pelo menos dois filtros em
paralelo na linha. Dessa forma, opera-se com um filtro e assim que
seja necessário fazer sua limpeza, abre-se o outro e continua-se a
irrigação sem interrupção.
Irrigação com
micro-aspersores
Essa é uma variante do
sistema discutido anteriormente. A principal diferença é a
quantidade de água que se consegue despejar sobre a superfície do
solo. Enquanto sistemas de aspersão típicos operam com vazões da
ordem de 50 L.min-1
ou mais, sistemas de microaspersão operam na faixa de 50 L.hora-1.
Portanto, ele oferece um controle muito mais eficiente da quantidade
de água utilizada e, como é instalado com alturas de 20 a 30 cm, é
possível direciona-los de forma mais eficaz a cada canteiro ou
conjunto destes. A desvantagem nesse caso, é que se a área a ser
irrigada for muito grande, serão necessários muitos mais
micro-aspersores do que se fossemos usar os aspersores tradicionais.
Além disso, os cuidados com a limpeza da água antes dela entrar nas
tubulações também são muito maiores, já que os orifícios pelos
quais a água passa nos microaspersores são muito menores.
Microaspersores são muito
úteis no nosso trabalho agroecológico e, se bem manejados, dão uma
resposta em termos de relação custo/benefício muito interessante
ao agricultor. Nossa experiência tem demosntrado que a instalação
desses sistemas, juntamente com o tipo de manejo que promovemos nos
nossos solos, dão resultados realmente satisfatórios. Contudo, como
já mencionamos, sua eficiência estará diretamente relacionada com
a capacidade de instalarmos sistema agroecológicos equilibrados,
principalmente com a presença de barreiras de vento adequadas. Do
contráro, as plumas de irrigação desse tipo de sistema são muito
finas e facilmente levadas pelo vento.
Sistema
de microaspersão instalado na Machamba Modelo da Agricultura Natural
em Marracuene.
Em termos de economia de
água, os sistemas de microaspersão também revelam ser muito mais
interessantes que os sistemas convencionais de aspersão. Dessa
forma, quando a disponibilidade de água for fator limitante da
produçào num dado local, o uso de tal método para a irrigação
das machambas pode ser uma das alternativas mais viáveis, tanto em
termos de eficiência direta quanto em termos de sustentabilidade
ambiental.
Irrigação por gotejamento
Este é um método de
irrigação muito controverso na atualidade. Enquanto muitos defendem
o seu uso e disseminação, quase indiscriminada, em regiões com
carências crônicas de água, outros argumentam que o seu uso
prolongado pode acabar degradando os solos pela salinização.
Isto porque, ao longo do tempo, a água vai sendo distribuída na
superfície do solo somente em pontos específicos, repetidamente.
Portanto, em solos propensos ao efeito de salinização, que é o
aumento da quantidade de sais, seja pelo acúmulo de fertilizantes
químicos usados no decorrer de anos antriores, seja pelas condições
geológicas naturais da região, o uso de sistema de gotejamento
podem acelerar ainda mais os seus efeitos negativos.
Costumamos lembrar que os
sistemas de gotejamento foram inicialmente desenvolvidos pelos
israelenses, numa tentativa de promover o cultivo em regiões áridas
e desérticas. De fato, essa tecnologia se mostrou extremamente
eficiente naquelas regiões que de outra forma, não se conseguiam
implantar quaisquer campos de cultivo. Mas uma coisa que acaba
passando desapercebida pela maioria das pessoas, é que o tipo de
solo sobre o qual os sistemas de gotejamento foram inicialmente
desenvolvidos foi o arenoso. Nesse tipo de solo, a salinização é
muito mais difícil de acontecer do que em solos de textura média ou
argilosa. Nesse último caso, bastam algumas semanas de irrigação
constante para se verificarem os efeitos da salinização. Portanto,
querer disseminar esse tipo de tecnologia olhando apenas pelo lado da
economia de água que ele promove, consideravelmente menor que em
todos os outros métodos, é analisar o problema apenas por um único
ponto de vista. Também nesse caso, falta a visão
sistêmica,
ou seja, de observar e analisar o sistema como um todo.
Ainda sob o aspectos de
sistemas agroecológicos, em que já discutimos bastante a
necessidade de reconhecer o solo como uma entidade viva, composta de
milhares de espécies se interrelacionando constantemente, o
fornecimento de água localizado apenas em regiões espécificas
acaba criando uma espécie de microdesertos ao longo de toda a área.
Ou seja, naquelas áreas onde a água não alcança, estabelece-se um
tipo de ecossistema típico de desertos, diferentemente do que
acontece nas proximidades das plantas. Mais uma vez, o sistema não
contempla as conexões de vida existentes entre o solo, seus
habitantes e as culturas. Lembremos novamente que ele foi iniclamente
desenvolvido para se tentar produzir comida no deserto e naquele
caso, o fornecimento de nutrientes oriundos de fertilizantes
químicos, muitas vezes dissolvidos na própria água de irrigação,
nem era questionado, como ainda não o é na mioria dos casos.
Do ponto de vista da
microbiota natural, alimentada que deve ser em nossos campos pela
aplicação de composto natural, como também já discutimos, o
fornecimento de água e a manutenção da umidade do solo são
fatores essenciais para o estabelecimentos de ciclos produtivos mais
saudáveis. Por vezes, agricultores naturais
argumentam que o sistema de gotejamento ajuda a evitar que o mato
cresça entre as culturas. Porém, acreditamos que a essa altura já
esteja devidamente claro que esse é um raciocínio que vai de
encontro com conceitos fundamentais discutidos ao longo de todo esse
texto. A água, aplicada sobre um campo agrícola equilibrado
ecologicamente, será usada por
todos,
microrganismos, insetos, plantas espontâneas e culturas agrícolas.
Evidentemente que não
estamos aqui condenando os sistemas de irrigação por gotejamento.
Até porque, a exemplo do que tinham à sua disposição os técnicos
israelenses que inicialmente desenvolveram esse tipo de sistema, em
muitos lugares no mundo, inclusive no interior de muitos países
africanos, a carência de água é quase total. Nesses locais talvez
não tenhamos mesmo outra alternativa a não ser usá-los, mas como
também não cansamos de repetir, que esse uso seja feito precedido
de muita reflexão para que, assim que eventuais problemas venham a
ocorrer, os agricultores e técnicos extensionistas sejam capazes de
encontrar soluções viáveis para todos.
Irrigação por escoamento
superficial
Em África esse deve ser o
tipo de irrigação mais facilmente encontrado e disseminado entre os
agricultores camponeses. Quando se dispõe de relativa quantidade de
água e as condições do terreno são propícias, sem dúvida
nenhuma que é o método escolhido justamente por quase não envolver
custos com equipamentos, instalação e energia. Contudo, devem-se
tomar cuidados especiais para se evitar a lavagem da superfície do
solo. A passagem constante da água pelos canais de escoamento e
campos irrigados vai, aos poucos, retirando da superfície do solo
não só os nutrientes que foram sendo disponibilizados mas também a
própria microbiota instalada. Além disso, como já mencionado,
acabam sendo consumidas enormes quantidades de água e se os
agricultores não tomarem cuidado, os solos acabam ficando
encharcados
e em pouco tempo desestruturados e salinizados.
Uma forma bem interessante de
usar esse tipo de método de irrigação é quando conseguimos cobrir
todo o nosso solo com uma camada espessa de cobertura morta, ou
mulch.
Dessa forma evitamos que as particulas finas do solo sejam carreadas
pela água, ficando retidas na matéria orgânica. O mesmo acontece
com os microrganismos e mesofauna, que encontram um ambiente
favorável ao seu desenvolvimento. Além disso, a cobertura do solo,
se bem feita, faz com que a umidade seja mantida por muito mais
tempo. Dessa forma, as próprias operações de irrigação acabam
sendo feitas com intervalos bem maiores de tempo, o que, por sua vez,
acarretam economia de água e energia, quando essa é necessária.
Uma vídeo-aula mostrando esse tipo de sistema em funcionamento pode
ser assistida no endereço http://youtu.be/LqRZLMMvUIM.
Criação de zonas úmidas
dentro das machambas
Essa é uma técnica muito
interessante de ser aplicada nos nossos campos. Trata-se criar
espaços e intervalos destes com pequenos tanques e canais de
escoamento de água. No geral, esses tanques e canais ficam todos
interligados e a finalidade dessas zonas úmidas é a de primeiro
facilitar as captações e distribuição de água por todo o
terreno. Mas não fica só por aí. Com o tempo, essas zonas vão
sendo habitadas por inúmeras espécies de animais que acabam
ajudando muito no controle
biológico natural
de nossas lavouras. Assim, sapos e rãs, principalmente, ajudam no
controle de gafanhotos e outros insetos. Além disso, a presença de
zonas úmidas permanentes no terreno atraem os pássaros e ínumeros
insetos, inclusive os polinizadores. Por fim, estas aberturas no solo
vão sendo responsáveis por ajudar a manter a umidade do subsolo do
seu entorno, pois também funcionam como uma espécie de porta de
entrada para a água.
Podemos plantar e cultivar,
ao longo desses canais e zonas úmidas, diversas espécies de plantas
que acabam demandando maiores quantidades de água como inhames,
bananeiras, agriões, e até arroz. Com o passar do tempo, diversas
dessas zonas podem ir sendo conectadas por todo o terreno e o
resultado global será, por exemplo, o estabelecimento de uma zona
com microclima muito mais agradável e adequado para se trabalhar com
a terra.
Qual o melhor sistema de
irrigação?
Talvez não exista um sistema
ideal de irrigação. Como tentamos mostrar ao longo desse capítulo,
cada um dos sistemas aqui apresentados e dos muitos outros que
existem pelo mundo, possuem vantagens e desvantagens. A escolha de
qual sistema utilizar deve ser feita depois de muita observação e
reflexão, como discutimos no início desse módulo. Caberá ao
agricultor pesar na balança as vantegens e desvantagens desse ou
daquele método de irrigação. E por vezes, como é o nosso caso,
pode-se usar vários métodos diferentes numa mesma propiedade, em
função das características de cada parte específica do terreno.
Mais importante do que tentar
criar uma espécie de escala de eficiência dos diversos métodos de
irrigação, é sermos capazes de compreender os diversos conceitos
que estão por trás desse tipo de operação agrícola. Assim
procedendo, a escolha acabará sendo feita de forma muita mais eficaz
e os resultados serão muito mais interessantes.