Roteiro de Aula
Aula 2: Contextualização
dos movimentos agrícolas alternativos
- Pedir aos alunos que desenhem como eles veem a agricultura mundial atualmente.
- Pedir que apresentem seus desenhos e expressem o que sentem quanto ao momento atual da agricultura na mundo.
- Agricultura Convencional/Química
Apresentação
de slides
- Movimentos Alternativos estudo em grupo e apresentação
Agricultura
Orgânica
Agricultura
Biodinâmica
Agroflorestas
Permacultura
Agroecologia
Cada
grupo apresentar após leitura dos textos com imagens a cada
apresentação.
- Montagem de quadro comparativo entre os movimentos
*****
2.
Contextualização dos movimentos agrícolas alternativos
(Capítulo 2, Módulo I da Apostila do Curso de Agricultura Natural)
A
agricultura convencional tal como é amplamente difundida nos dias
atuais, deu seu grande salto tecnológico após uma serie de
descobertas científicas levadas a cabo por alguns dos mais
conceituados cientistas do século XIX. Entre esses cientistas,
Justus von Liebig (1803-1873), um químico alemão, foi quem realizou
uma série de experimentos que possibilitaram a criação dos
fertilizantes químicos, notadamente os que contêm em sua formulação
a famosa fórmula NPK (Nitrogênio, (P)Fósforo e (K)Potássio). Como
químico analista que era, Liebig foi quem inicialmente dissecou
quimicamente uma serie de plantas e alimentos e chegou à conclusão
que, sendo a maioria dos vegetais compostos basicamente pelos
elementos quimicos nitrogênio, fósforo e potássio, bastaria então,
segundo o seu raciocínio, garantir um suprimento constante destes às
culturas agrícolas para garantir uma produção quase infinita de
alimentos.
De fato,
no início essa idéia parece ter tido algum resultado, pois com a
ajuda dos fertilizantes químicos áreas antes consideradas
impróprias para o cultivo agrícola passaram a ser verdadeiros
celeiros de alimentos.
Mas não
tardou para os problemas aparecerem e logo os cientistas pereberam
que não bastaria somente garantir o fornecimento de NPK para que as
plantas continuassem seu ciclo produtivo. Como ficou evidente
posteriormente à época de Liebig, uma série de outros elementos
químicos em proporções muito menores mostrou ser de vital
importância ao desenvolvimento das plantas. Esse elementos passaram
a ser chamados de oligo-elementos ou micronutrientes.
Até
então o pensamento científico dominante era baseado nos conceitos
mecanicistas e fatoriais desenvolvidos por Rene Descartes (1596-1650)
e Francis Bacon (1561-1626), principalmente. Por essa ótica, toda a
natureza poderia ser reduzida a modelos simples e o estudo e
investigação de cada um desses modelos de forma isolada poderia
levar à compreensão de todo o mundo natural. A química agrícola
emergente do século XIX também seguiu o mesmo princípio e esse
raciocínio é a base de sustentação cientifica da agricultura
convencional dos dias de hoje.
A grande
questão que hoje vem à luz no mundo todo é que a natureza está
longe de poder ser compreendida através do estudo isolado de suas
partes. Pelo contrário, hoje percebemos que todo o universo natural
está repleto de interrelações, na forma de intrincáveis redes que
se influenciam mutuamente. No caso da agricultura, como ficou
evidente poucas décadas depois do surgimento das primeiras
formulações de adubos químicos a base de NPK, os fatores que
garantiam o pleno desenvolvimento das plantas e consequentemente dos
alimentos, eram muito mais numerosos e complexos do havia sido
imaginado inicialmente. A começar pelo reconhecimento de que as
plantas necessitavam de muitos outros elementos químicos além do
NPK, e chegando finalmente à compreensão de que outros fatores
muito mais sutis é que parecem de fato poder garantir a saúde dos
campos agrícolas, como a biodiversidade, o equilíbrio ecológico, a
auto-regulação climática, a garantia dos fluxos naturais de
energia e do ciclo das águas, etc. Para se ter uma idéia,
recentemente começou-se a reconhecer a importância até mesmo do
sentimento
com que se trabalha o solo durante o ciclo produtivo das culturas
agrícolas.
Evidentemente
que essa complexidade de raciocínio não fez parte dos grandes
projetos de desenvolvimento agrícola do final do século XIX e pelo
menos da primeira metade do século XX. Talvez por isso mesmo, logo
se percebeu que o sistema simplista de produção de alimentos
proposto tinha sérias limitações e o ápice desse reconhecimento
veio após o término da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha havia
produzido milhões de quilos de químicos para serem usados como
armamento e após a confiscação dos seus depósitos gigantescos, as
autoridades da época perceberam que ainda podiam usar esses mesmos
químicos para combater as pragas que ameaçavam liquidar com as
culturas agrícolas até então.
Dentro
do pensamento simplista da agricultura do século XIX, os cientistas
logo perceberam que não somente as plantas cultivas insistentemente
com formulações químicas ficavam cada vez mais fracas e
susceptíveis ao ataque de pragas e doenças como também os solos
iam ficando, ano após ano, cada vez mais desestruturados. Isso levou
a um grande problema, pois quanto mais os solos se desestruturavam
química e fisicamente, mais as plantas ai cultivadas iam ficando à
mercê de insetos vorazes que liquidavam grandes plantações de uma
só vez.
O
exemplo mais famoso provavelmente foi o do DDT. Inicialmente proposto
como armamento químico, o DDT (diclorodifeniltricloeteno) é
considerado o primeiro pesticida moderno. Apesar de ter sido
desenvolvido ainda no ano de 1874, somente em 1939 suas propriedades
inseticidas foram descobertas. Não tardou para ser largamente usado
na agricultura no combate e diversos insetos que prejudicavam as
plantações e o sucesso imediato dessa técnica fez o descobridor
dessa propriedade inseticida, o químico suiço Paul Hermann Muller
(1899-1965), ganhar o Prêmio Nobel em 1948. O DDT é um inseticida
barato e altamente eficiente a curto prazo, mas a longo prazo tem
efeitos prejudiciais à saúde humana, como demonstrou a bióloga
norte-americana Rachel Carson (1907-1964), em seu livro “Primavera
Silenciosa”.
De acordo com os estudos de Carson, o DDT pode ocacionar cancro em
seres humanos e interfere violentamente com a vida animal, causando,
por exemplo, o aumento da mortandade entre os pássaros.
Se nos
anos 40 e 50 o DDT ajudou a fundar a chamada Revolução
Verde,
já na década de 70 foi banido de vários países a atualmente tem
seu uso rigorosamente controlado pela Convençao de Estocolmo sobre
os Poluentes Orgânicos Persistentes.
Por tudo
isso, já nos primórdios do século XX muitos pensadores, cientistas
e agricultores começaram a desenvolver um pensamento alternativo ao
modelo agrícola proposto. Uma série de movimentos começaram a
tomar forma e os métodos agrícolas tradicionais, principalmente
aqueles praticados por sociedades isoladas ou consideradas
sub-desenvolvidas, passaram a ser estudados e um numero cada vez
maior de pessoas passou a prestar-lhes mais atenção. Nessa
vertende, vários sistemas alternativos começaram a ser propostos,
com pelo menos um ponto em comum: a vida é muito mais complexa que
nossa capacidade de analisa-la e por isso merece muito mais cuidado.
Alguns
movimentos agrícolas tidos como alternativos ganharam notoriedade ao
longo do século XX e mesmo nos dias atuais compõe grande parte da
assim chamada produção natural de alimentos. Podemos citar alguns.
Agricultura
orgânica
Agricultura
Orgânica é o termo frequentemente usado para designar a produção
de alimentos
e outros produtos vegetais que não faz uso de produtos químicos
sintéticos, tais como fertilizantes
e pesticidas
industriais,
nem de organismos
geneticamente modificados,
e geralmente adere aos princípios de agricultura
sustentável.
Os seus proponentes acreditam que num solo saudável, mantido sem o
uso de fertilizantes e pesticidas feitos pelo homem, os alimentos
tenham qualidade superior a de alimentos convencionais. Este sistema
de produção tem
como base o uso de estercos
animais,
rotação
de culturas,
adubação
verde,
compostagem
e controle
biológico
de pragas
e doenças. Pressupõe ainda a manutenção
da estrutura e da profundidade do solo, sem alterar suas propriedades
por meio do uso de produtos químicos e sintéticos.
É
talvez hoje em dia o movimento agrícola alternativo ao modelo
convencional mais difundido em todo o mundo. Diversos países já
possuem legislações específicas para regular esse tipo de trabalho
e já há casos onde a agricultura orgânica passou a ser considerada
a única forma oficial de cultivo do solo como é o caso do Butão.
Provavelmente
em função de sua larga expansão em todo o mundo, observa-se um
grande numero de variações das técnicas e métodos empregados.
Também é possível perceber que muitas dessas variações,
dependendo de cada região do planeta, acabam por receber
nomenclaturas diferenciadas o que por vezes pode até gerar algum
tipo de confusão. Termos como agricultura biológica e agricultural
natural por vezes são empregados para referenciar o trabalho da
agricultura orgânica.
Ao
longo do século XX várias personalidades foram responsáveis pelo
surgimento e desenvolvimento do movimento da agricultura orgânica e
suas variantes em todo o mundo. Podemos citar algumas como Rudolf
Steiner (Alemanha), Bill Mollison (Austrália), Mokiti Okada (Japão),
Massanobu Fukuoka (Japão), Jerome Rodale (Estados Unidos da América)
e muitos outros, sem desmerecer quaisquer outras que não foram aqui
citadas.
Agricultura
biodinâmica
A base
da agricultura biodinâmica, de acordo com os seus praticantes, é a
compreensão profunda das leis da vida, adquirida através de uma
abordagem qualitativa e global da Natureza. Foi fundada na Alemanha
em 1924 por Rudolf Steiner (1861-1925) em resposta a um grupo de
agricultores que lhe solicitaram orientações para resolver os
problemas de degradação ambiental decorrentes das práticas
agrícolas então vigentes.
A
abordagem proposta por Steiner baseia-se numa compreensão profunda
das leis que regem o que é vivo, tendo por pano de fundo “a
fecundação das forças terrestres pelas forças cósmicas”. Esta
ciência agrícola não é um simples método ou conjunto de
receitas; é antes, segundo seu proponente, um caminho, uma arte de
cuidar da terra, onde cada agricultor precisa de desenvolver uma
percepção e sensibilidade abrangentes.
Agroflorestas
Agroflorestas
são sistemas que reúnem as culturas agrícolas com as culturas
florestais, resultante da prática de estudo de agrossilvicultura.
Usam a dinâmica de sucessão de espécies da flora
nativa para trazer as espécies que agregam benefícios para o
terreno assim como produtos para o agricultor.
As agroflorestas recuperam antigas técnicas de povos tradicionais de
várias partes do mundo, unindo a elas o conhecimento científico
acumulado sobre a ecofisiologia das espécies vegetais e sua
interação com a fauna nativa. Os SAF’s, como são conhecidos, são
a reprodução no espaço e no tempo da sucessão
ecológica
verificada naturalmente na colonização de áreas novas ou
deterioradas. Não é a reconstrução da mata
original porque inclui plantas de interesse econômico desde as
primeiras fases, permitindo colheitas sucessivas de produtos
diferentes ao longo do tempo.
Permacultura
A
permacultura
é um método holístico
para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana (jardins,
vilas,
aldeias
e comunidades)
ambientalmente
sustentáveis,
socialmente justos e financeiramente viáveis. Foi criada pelos
ecologistas
australianos Bill
Mollison
e David
Holmgren
na década de 1970. O termo, cunhado na Austrália,
veio de permanent
agriculture
(agricultura permanente), e mais tarde se estendeu para significar
permanent
culture
(cultura permanente). A permacultura origina-se de uma cultura
permanente do ambiente, estabelecendo em nossa rotina diária,
hábitos e costumes de vida simples
e ecológicos - um estilo de cultura e de vida em integração direta
e equilibrada com o meio ambiente, envolvendo-se cotidianamente em
atividades de auto-produção dos aspectos básicos de nossas vidas
referentes a abrigo, alimento, transporte, saúde, bem-estar,
educação e energias sustentáveis. Pode se dizer que os três
pilares da Permacultura são: cuidado com a terra, cuidado com as
pessoas e repartir os excedentes
Agroecologia
A
agroecologia
consiste em uma proposta alternativa de agricultura familiar
socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente
sustentável. O termo pode ser entendido de diversas formas: como
ciência, como movimento e como prática. Nesse sentido, a
agroecologia não existe isoladamente, mas é uma ciência
integradora que agrega conhecimentos de outras ciências, além de
agregar também saberes populares e tradicionais provenientes das
experiências de agricultores familiares de comunidades indígenas e
camponesas. Em sentido mais estrito, a agroecologia pode ser vista
como uma abordagem da agricultura que se baseia nas dinâmicas
da natureza.
Dentro delas se destaca a sucessão
natural,
a qual permite que se restaure a fertilidade
do solo
sem o uso de fertilizantes
minerais
e que se cultive sem uso de agrotóxicos.
No âmbito da agroecologia encontramos ainda discussões sobre
manutenção da biodiversidade,
agricultura
orgânica,
agrofloresta,
permacultura,
agroenergia, dentre outros temas. As práticas agroecológicas podem
ser vistas como práticas de resistência da agricultura
familiar,
perante o processo de exclusão no meio rural e de homogeneização
das paisagens de cultivo. Essas práticas se baseiam na pequena
propriedade, na força de trabalho familiar, em sistemas produtivos
complexos e diversos, adaptados às condições locais e ligados a
redes
regionais de produção e distribuição de alimentos.
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