segunda-feira, 24 de março de 2014

Roteiro e Resumo de Aula - Aula 2: Contextualização dos movimentos agrícolas alternativos



Roteiro de Aula
Aula 2: Contextualização dos movimentos agrícolas alternativos

  1. Pedir aos alunos que desenhem como eles veem a agricultura mundial atualmente.
  2. Pedir que apresentem seus desenhos e expressem o que sentem quanto ao momento atual da agricultura na mundo.
  3. Agricultura Convencional/Química

Apresentação de slides

  1. Movimentos Alternativos estudo em grupo e apresentação

Agricultura Orgânica

Agricultura Biodinâmica

Agroflorestas

Permacultura

Agroecologia

Cada grupo apresentar após leitura dos textos com imagens a cada apresentação.

  1. Montagem de quadro comparativo entre os movimentos


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2. Contextualização dos movimentos agrícolas alternativos
(Capítulo 2, Módulo I da Apostila do Curso de Agricultura Natural)

A agricultura convencional tal como é amplamente difundida nos dias atuais, deu seu grande salto tecnológico após uma serie de descobertas científicas levadas a cabo por alguns dos mais conceituados cientistas do século XIX. Entre esses cientistas, Justus von Liebig (1803-1873), um químico alemão, foi quem realizou uma série de experimentos que possibilitaram a criação dos fertilizantes químicos, notadamente os que contêm em sua formulação a famosa fórmula NPK (Nitrogênio, (P)Fósforo e (K)Potássio). Como químico analista que era, Liebig foi quem inicialmente dissecou quimicamente uma serie de plantas e alimentos e chegou à conclusão que, sendo a maioria dos vegetais compostos basicamente pelos elementos quimicos nitrogênio, fósforo e potássio, bastaria então, segundo o seu raciocínio, garantir um suprimento constante destes às culturas agrícolas para garantir uma produção quase infinita de alimentos.

De fato, no início essa idéia parece ter tido algum resultado, pois com a ajuda dos fertilizantes químicos áreas antes consideradas impróprias para o cultivo agrícola passaram a ser verdadeiros celeiros de alimentos.

Mas não tardou para os problemas aparecerem e logo os cientistas pereberam que não bastaria somente garantir o fornecimento de NPK para que as plantas continuassem seu ciclo produtivo. Como ficou evidente posteriormente à época de Liebig, uma série de outros elementos químicos em proporções muito menores mostrou ser de vital importância ao desenvolvimento das plantas. Esse elementos passaram a ser chamados de oligo-elementos ou micronutrientes.

Até então o pensamento científico dominante era baseado nos conceitos mecanicistas e fatoriais desenvolvidos por Rene Descartes (1596-1650) e Francis Bacon (1561-1626), principalmente. Por essa ótica, toda a natureza poderia ser reduzida a modelos simples e o estudo e investigação de cada um desses modelos de forma isolada poderia levar à compreensão de todo o mundo natural. A química agrícola emergente do século XIX também seguiu o mesmo princípio e esse raciocínio é a base de sustentação cientifica da agricultura convencional dos dias de hoje.

A grande questão que hoje vem à luz no mundo todo é que a natureza está longe de poder ser compreendida através do estudo isolado de suas partes. Pelo contrário, hoje percebemos que todo o universo natural está repleto de interrelações, na forma de intrincáveis redes que se influenciam mutuamente. No caso da agricultura, como ficou evidente poucas décadas depois do surgimento das primeiras formulações de adubos químicos a base de NPK, os fatores que garantiam o pleno desenvolvimento das plantas e consequentemente dos alimentos, eram muito mais numerosos e complexos do havia sido imaginado inicialmente. A começar pelo reconhecimento de que as plantas necessitavam de muitos outros elementos químicos além do NPK, e chegando finalmente à compreensão de que outros fatores muito mais sutis é que parecem de fato poder garantir a saúde dos campos agrícolas, como a biodiversidade, o equilíbrio ecológico, a auto-regulação climática, a garantia dos fluxos naturais de energia e do ciclo das águas, etc. Para se ter uma idéia, recentemente começou-se a reconhecer a importância até mesmo do sentimento com que se trabalha o solo durante o ciclo produtivo das culturas agrícolas.

Evidentemente que essa complexidade de raciocínio não fez parte dos grandes projetos de desenvolvimento agrícola do final do século XIX e pelo menos da primeira metade do século XX. Talvez por isso mesmo, logo se percebeu que o sistema simplista de produção de alimentos proposto tinha sérias limitações e o ápice desse reconhecimento veio após o término da Primeira Guerra Mundial. A Alemanha havia produzido milhões de quilos de químicos para serem usados como armamento e após a confiscação dos seus depósitos gigantescos, as autoridades da época perceberam que ainda podiam usar esses mesmos químicos para combater as pragas que ameaçavam liquidar com as culturas agrícolas até então.

Dentro do pensamento simplista da agricultura do século XIX, os cientistas logo perceberam que não somente as plantas cultivas insistentemente com formulações químicas ficavam cada vez mais fracas e susceptíveis ao ataque de pragas e doenças como também os solos iam ficando, ano após ano, cada vez mais desestruturados. Isso levou a um grande problema, pois quanto mais os solos se desestruturavam química e fisicamente, mais as plantas ai cultivadas iam ficando à mercê de insetos vorazes que liquidavam grandes plantações de uma só vez.

O exemplo mais famoso provavelmente foi o do DDT. Inicialmente proposto como armamento químico, o DDT (diclorodifeniltricloeteno) é considerado o primeiro pesticida moderno. Apesar de ter sido desenvolvido ainda no ano de 1874, somente em 1939 suas propriedades inseticidas foram descobertas. Não tardou para ser largamente usado na agricultura no combate e diversos insetos que prejudicavam as plantações e o sucesso imediato dessa técnica fez o descobridor dessa propriedade inseticida, o químico suiço Paul Hermann Muller (1899-1965), ganhar o Prêmio Nobel em 1948. O DDT é um inseticida barato e altamente eficiente a curto prazo, mas a longo prazo tem efeitos prejudiciais à saúde humana, como demonstrou a bióloga norte-americana Rachel Carson (1907-1964), em seu livro “Primavera Silenciosa”. De acordo com os estudos de Carson, o DDT pode ocacionar cancro em seres humanos e interfere violentamente com a vida animal, causando, por exemplo, o aumento da mortandade entre os pássaros.

Se nos anos 40 e 50 o DDT ajudou a fundar a chamada Revolução Verde, já na década de 70 foi banido de vários países a atualmente tem seu uso rigorosamente controlado pela Convençao de Estocolmo sobre os Poluentes Orgânicos Persistentes.

Por tudo isso, já nos primórdios do século XX muitos pensadores, cientistas e agricultores começaram a desenvolver um pensamento alternativo ao modelo agrícola proposto. Uma série de movimentos começaram a tomar forma e os métodos agrícolas tradicionais, principalmente aqueles praticados por sociedades isoladas ou consideradas sub-desenvolvidas, passaram a ser estudados e um numero cada vez maior de pessoas passou a prestar-lhes mais atenção. Nessa vertende, vários sistemas alternativos começaram a ser propostos, com pelo menos um ponto em comum: a vida é muito mais complexa que nossa capacidade de analisa-la e por isso merece muito mais cuidado.

Alguns movimentos agrícolas tidos como alternativos ganharam notoriedade ao longo do século XX e mesmo nos dias atuais compõe grande parte da assim chamada produção natural de alimentos. Podemos citar alguns.



Agricultura orgânica

Agricultura Orgânica é o termo frequentemente usado para designar a produção de alimentos e outros produtos vegetais que não faz uso de produtos químicos sintéticos, tais como fertilizantes e pesticidas industriais, nem de organismos geneticamente modificados, e geralmente adere aos princípios de agricultura sustentável. Os seus proponentes acreditam que num solo saudável, mantido sem o uso de fertilizantes e pesticidas feitos pelo homem, os alimentos tenham qualidade superior a de alimentos convencionais. Este sistema de produção tem como base o uso de estercos animais, rotação de culturas, adubação verde, compostagem e controle biológico de pragas e doenças. Pressupõe ainda a manutenção da estrutura e da profundidade do solo, sem alterar suas propriedades por meio do uso de produtos químicos e sintéticos.

É talvez hoje em dia o movimento agrícola alternativo ao modelo convencional mais difundido em todo o mundo. Diversos países já possuem legislações específicas para regular esse tipo de trabalho e já há casos onde a agricultura orgânica passou a ser considerada a única forma oficial de cultivo do solo como é o caso do Butão.

Provavelmente em função de sua larga expansão em todo o mundo, observa-se um grande numero de variações das técnicas e métodos empregados. Também é possível perceber que muitas dessas variações, dependendo de cada região do planeta, acabam por receber nomenclaturas diferenciadas o que por vezes pode até gerar algum tipo de confusão. Termos como agricultura biológica e agricultural natural por vezes são empregados para referenciar o trabalho da agricultura orgânica.

Ao longo do século XX várias personalidades foram responsáveis pelo surgimento e desenvolvimento do movimento da agricultura orgânica e suas variantes em todo o mundo. Podemos citar algumas como Rudolf Steiner (Alemanha), Bill Mollison (Austrália), Mokiti Okada (Japão), Massanobu Fukuoka (Japão), Jerome Rodale (Estados Unidos da América) e muitos outros, sem desmerecer quaisquer outras que não foram aqui citadas.


Agricultura biodinâmica

A base da agricultura biodinâmica, de acordo com os seus praticantes, é a compreensão profunda das leis da vida, adquirida através de uma abordagem qualitativa e global da Natureza. Foi fundada na Alemanha em 1924 por Rudolf Steiner (1861-1925) em resposta a um grupo de agricultores que lhe solicitaram orientações para resolver os problemas de degradação ambiental decorrentes das práticas agrícolas então vigentes.

A abordagem proposta por Steiner baseia-se numa compreensão profunda das leis que regem o que é vivo, tendo por pano de fundo “a fecundação das forças terrestres pelas forças cósmicas”. Esta ciência agrícola não é um simples método ou conjunto de receitas; é antes, segundo seu proponente, um caminho, uma arte de cuidar da terra, onde cada agricultor precisa de desenvolver uma percepção e sensibilidade abrangentes.


Agroflorestas

Agroflorestas são sistemas que reúnem as culturas agrícolas com as culturas florestais, resultante da prática de estudo de agrossilvicultura. Usam a dinâmica de sucessão de espécies da flora nativa para trazer as espécies que agregam benefícios para o terreno assim como produtos para o agricultor. As agroflorestas recuperam antigas técnicas de povos tradicionais de várias partes do mundo, unindo a elas o conhecimento científico acumulado sobre a ecofisiologia das espécies vegetais e sua interação com a fauna nativa. Os SAF’s, como são conhecidos, são a reprodução no espaço e no tempo da sucessão ecológica verificada naturalmente na colonização de áreas novas ou deterioradas. Não é a reconstrução da mata original porque inclui plantas de interesse econômico desde as primeiras fases, permitindo colheitas sucessivas de produtos diferentes ao longo do tempo.


Permacultura

A permacultura é um método holístico para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis. Foi criada pelos ecologistas australianos Bill Mollison e David Holmgren na década de 1970. O termo, cunhado na Austrália, veio de permanent agriculture (agricultura permanente), e mais tarde se estendeu para significar permanent culture (cultura permanente). A permacultura origina-se de uma cultura permanente do ambiente, estabelecendo em nossa rotina diária, hábitos e costumes de vida simples e ecológicos - um estilo de cultura e de vida em integração direta e equilibrada com o meio ambiente, envolvendo-se cotidianamente em atividades de auto-produção dos aspectos básicos de nossas vidas referentes a abrigo, alimento, transporte, saúde, bem-estar, educação e energias sustentáveis. Pode se dizer que os três pilares da Permacultura são: cuidado com a terra, cuidado com as pessoas e repartir os excedentes


Agroecologia

A agroecologia consiste em uma proposta alternativa de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável. O termo pode ser entendido de diversas formas: como ciência, como movimento e como prática. Nesse sentido, a agroecologia não existe isoladamente, mas é uma ciência integradora que agrega conhecimentos de outras ciências, além de agregar também saberes populares e tradicionais provenientes das experiências de agricultores familiares de comunidades indígenas e camponesas. Em sentido mais estrito, a agroecologia pode ser vista como uma abordagem da agricultura que se baseia nas dinâmicas da natureza. Dentro delas se destaca a sucessão natural, a qual permite que se restaure a fertilidade do solo sem o uso de fertilizantes minerais e que se cultive sem uso de agrotóxicos. No âmbito da agroecologia encontramos ainda discussões sobre manutenção da biodiversidade, agricultura orgânica, agrofloresta, permacultura, agroenergia, dentre outros temas. As práticas agroecológicas podem ser vistas como práticas de resistência da agricultura familiar, perante o processo de exclusão no meio rural e de homogeneização das paisagens de cultivo. Essas práticas se baseiam na pequena propriedade, na força de trabalho familiar, em sistemas produtivos complexos e diversos, adaptados às condições locais e ligados a redes regionais de produção e distribuição de alimentos.




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