segunda-feira, 20 de abril de 2015

CURSO DE AGRICULTURA NATURAL E GESTÃO AMBIENTAL - 2015: AULAS 5 e 6

Produção de mudas
(Capítulo 7 do Módulo 2 do Livro do Curso de Agricultura Natural)
Agora que já conhecemos um pouco mais sobre a natureza do solo, já estudamos como organizar nosso terreno, reconhecemos as características de nossa área e região, preparamos nossos canteiros e fizemos nossas composteiras, chegou o momento de começarmos a aprender um pouco mais sobre como produzir adequandamente nossas mudas.
Muitas espécies de plantas, em especial as hortícolas, possuem sementes muito pequenas e suas plântulas são muito delicadas. Além disso, nessa fase do desenvolvimento vegetal, as raízes também são extremamente finas e qualquer descuido por parte do agricultor pode danificá-las, com considerável prejuízo no desenvolvimento final das plantas, além da necessidade que terá de consumir mais água de irrigação quando essas mudas forem transplantadas, como veremos um pouco mais a frente. Além disso, temos que levar em consideração também as questões econômicas, pois nem sempre as sementes que temos à disposição no mercado são baratas, principalmente levando em consideração a realidade sócio-econômica das comunidades de agricultores camponeses do interior da África.
Por outro lado, temos tentado também produzir e distribuir nossas próprias sementes oriundas da Agricultura Natural, principalmente para aquelas espécies vegetais de mais fácil propagação. Também temos incentivado um grande número de pequenos agricultores que o façam e distribuam parte de sua produção àqueles que queiram iniciar esse tipo de trabalho. Como já tinha ficado evidente anos atrás, a produção de sementes na ótica da Agricultura Natural também segue numa lógica um pouco diferente do sistema convencional. Por isso, as quantidades de sementes muitas vezes obtidas em nossos campos naturais não são as mesmas verificadas nos campos repletos de tecnocracia. Dessa forma, a produção adequada de mudas a partir de sementes naturais ganha, no nosso contexto africano, contornos que merecem um pouco mais de atenção.

Algumas sementes da Agricultura Natural produzidas em Moçambique.

Normalmente, os camponeses do interior moçambicano estão habituados a produzir suas mudas lançando as sementes adquiridas diretamente em canteiros, no que são chamados de sementeiras. Inicialmente, esse tipo de trabalho traz sim considerável economia de tempo, mas a longo prazo estarão imbutidas nessa equação variáveis que podem deitar por terra a sustentabilidade do sistema. Isto por vários fatores como veremos a seguir.
O primeiro ponto que precisamos considerar é o fato de que as sementeiras consomem grande quantidade de sementes sem que todas elas cheguem a ser transplantadas. Num levantamento que realizamos há alguns anos verificamos que, numa sementeira típica, o percentual de perda de mudas, que ou não eram transplantadas ou ainda não conseguiam sobreviver, era de mais de 50%. O agricultor precisa entender que quem mais ganha com esse tipo de prática é a indústria produtora e revendedora de sementes! Mas os danos não são somente esses.
No sistema de sementeiras, as plântulas nascem muito próximas umas das outras e assim seus delicados sistemas radiculares ficam entrelaçados. Ao serem separadas as mudas, por ocasião do transplantio, é impossível não danificar suas delicadas raízes. O resultado é o stress que a muda sofre ao ser colocada no seu local definitivo no canteiro. A maioria das mudas de hortícolas plantadas dessa maneira levam dias para recuperar seu vigor, quando o conseguem. E para tentar atenuar esse stress, acaba-se consumindo quantidades maiores de água na irrigação dos canteiros nessa fase. Além disso, existe a perda de tempo útil em que a planta já teria de estar dando continuidade ao seu desenvolvimento, mas que agora ela passa por um processo de quase ressuscitação no campo.
Quando começamos a discutir essas questões com nossa equipe de campo há alguns anos e também com agricultores familiares de nossa região, descobrimos que muitos deles simplesmente não acreditavam que uma única sementinha era capaz de se transformar numa planta vigorosa e produtiva. Acabamos por adotar o lema de que “uma semente, uma planta” na tentativa de convencê-los até mesmo do poder da natureza. Apesar das resistências normais a qualquer ideia nova por parte de um grupo de pessoas ou comunidade, começamos a preparar nossas primeiras bandejas de mudas, algo impensável para muito dos nossos colaboradores de até então.

Construindo o viveiro de mudas
Para a produção adequada de mudas é necessário termos um espaço devidamente protegido dos ventos fortes, da insolação direta e da ação predatória de alguns animais como galinhas e pássaros. Na fase de desenvolvimento inicial, as plântulas são uma verdadeira iguaria e por isso muitos animais as apreciam.
A construção do viveiro poderá ser feita usando-se materiais que muitas vezes são encontrados no próprio terreno ou nas suas vizinhanças. Também podem ser usados materiais comprados em lojas especializadas, mas no caso desse curso, vamos dar prioridade, sempre que possível, às formas mais simples de fazê-lo, levando em conta, mais uma vez, a realidade de nossas comunidades agrícolas.
O primeiro passo é determinar a quantidade de mudas que serão necessárias para manter o campo em produção permanente. Isto é, a quantidade de mudas que precisam ser produzidas ao longo dos meses para garantir que quando um pé de repolho, por exemplo, seja colhido, exista uma muda daquela mesma planta pronta para ser plantada no mesmo lugar da que foi retirada. Esse aspecto é de vital importância, pois dependendo da cultura desejada temos janelas de cultivo bem estreitas no decorrer do ano e nesses casos, cada dia conta. Além disso, terra parada inutilmente não produz comida e precisamos aproveitar ao máximo as atividades microbiológicas do solo, os compostos incorporados e a água de irrigação para otimizar nossa produção agrícola. Assim, dentro das condições normais, quanto menos tempo nossos canteiros permanecerem vazios entre uma colheita e o replantio, melhor.
Uma forma simples de construir um pequeno viveiro de mudas, usando estritamente materiais locais, pode ser visto na figura abaixo. Esse viveiro foi construído com estacas de madeira e no lugar do tradicional sombrite usaram-se folhas de coqueiro entrelaçadas.

Viveiro de mudas construído com estacas de madeira e folhas de coqueiro na comunidade do Chitondo, interior da província de Inhambane.

Mas para o caso de se desejar uma produção maior de mudas, podem ser construídos viveiros maiores. Um de nossos viveiros foi construído com as dimensões de 5 x 10 metros, usando basicamente toras e estacas de madeira para as estruturas, caniço para os revestimentos laterais e sombrite para a cobertura. A sequência de fotos a seguir mostra algumas etapas da construção desse nosso viveiro, instalado em Marracuene.

Implantação do viveiro de mudas na Machamba Modelo de Agricultura Natural de Marracuene.

Devemos tomar cuidado para não construirmos o viveiro em áreas muito sombreadas. Muitas das espécies de culturas necessitam de uma certa insolação para que suas sementes germinem bem e se desenvolvam adequadamente. Dentro do possível, procuramos instalar nossos viveiros em alguma área que permita um sombreamento somente parcial. Isto porque, em alguns casos, há plantas que já não suportam o forte calor africano e as sombras acabam ajudando a atenuar as temperaturas no interior dos viveiros.
A produção de mudas de hortícolas, bem como frutíferas, florestais e/ou nativas requer cuidados diários, uma vez que problemas adversos podem ocorrer durante o período de desenvolvimento da muda, podendo, assim prejudicar todo seu planejamento de produção. Devemos observar a porcentagem de germinação das sementes, acompanhar o seu desenvolvimento e verificar como se comporta em situações de calor intenso, falta de luz solar no viveiro, falta ou excesso de água, etc. O resultado deste comportamento poderá definir a melhor época de cultivo das mesmas. É muito importante o agricultor ter o hábito de anotar todas as informações pertinentes, bem como as observações que for fazendo ao longo do tempo para que, no futuro, essas mesmas informações possa ajudá-lo a otimizar cada vez mais a sua produção agrícola.

Preparando as bandejas de mudas
Para preparar mudas de forma adequada precisamos de algum investimento. Agora é que a economia de recursos financeiros que a Agricultura Natural nos proporciona começa a mostrar seus resultados. Parte do dinheiro economizado quando evitamos comprar adubos e defensivos, poderá ser utilizado em investimentos mais duradouros na propriedade como por exemplo bandejas de mudas e eventuais sistemas simplificados de rega.
Evidentemente que em escalas domésticas ou mesmo em pequenas hortas escolares, podemos utilizar materiais alternativos e recicláveis tais como bandejas de ovos, garrafas plásticas e outros. Mas já para uma produção mais sistemática, bandejas próprias para mudas acabam sendo muito mais interessantes a médio e longo prazos.
Basicamente, em Moçambique, existem dois tipos de bandejas para mudas. A mais comum e barata é feita de plástico e possui modelos com as células de vários tamanhos. Outro tipo de bandeja são aquelas feitas com esferovite (isopor), de preço um pouco mais elevado. Nossa experiência tem mostrado que tendo os cuidados necessários, essas bandejas podem durar anos e sua aquisição pode ser feita por sistemas de cotas entre grupos de agricultores, com redução considerável dos custos individuais iniciais. 

Tipos diferentes de bandejas de mudas. A esquerda vemos as bandejas de esferovite e a direita as de plástico.

Uma vez escolhida a bandeja passamos para a produção do substrato. A produção de mudas requer alguns cuidados especiais e um deles diz respeito ao material sobre o qual iremos lançar nossas sementes. Convencionalmente, esses substratos são oferecidos já “enriquecidos” com fertilizantes químicos e muitas vezes já com algum tipo de defensivo (agrotóxico). No nosso caso, porém, temos na produção das mudas a primeira oportunidade de reeducar nossas sementes, principalmente aquelas ainda adquiridas comercialmente, ao tipo de manejo que a planta irá receber ao longo do seu desenvolvimento. Nossos substratos não recebem nenhum tipo de adição de substâncias sintéticas e tentamos mantê-los o mais próximo possível, em termos de composição, ao tipo de solo que as futuras plantas terão à sua disposição.

Preparo do substrato
O substrato que devemos colocar nas bandejas de produção de mudas (plástica, esferovite) deverá ser preparado com 50% de terra (arenosa) e 50% de composto cortado em partículas bem reduzidas. Em seguida, devemos molhar o substrato até atingir umidade de 30%, de forma que possamos preencher as bandejas sem que o solo seja perdido nas aberturas do fundo. Uma forma prática de saber se a umidade está adequada é pegar uma porção de substrato na mão e apertá-la. Se, ao abrir a mão, não se formar um torrão significa que ainda precisa de mais água. Se ao apertar o substrato escorrer água entre os dedos, significa que a umidade está excessiva. O ideal é que se forme um torrão que se desfaça com o apertar dos dedos da outra mão.

Preenchimento das bandejas de mudas com substrato.

Nesta etapa podemos usar misturas de terra e areia, acrescida de composto de folhas secas bem trituradas. Uma alternativa que verificamos com o passar dos anos é usar a terra escurecida que fica no fundo de nossas composteiras ou mesmo a camada superficial de solos que encontramos em áreas de cultivo de composto, ou seja, naquelas áreas onde deixamos o mato crescer com o acúmulo de restos de folhas das árvores. Uma outra  proporção interessante a ser usada na formulação do substrato é ter 50% de areia, 30 a 40% de composto natural e 10 a 20% do solo dos canteiros que receberão as mudas. Porém, para cada região, os próprios agricultores poderão desenvolver seus substratos de forma mais adequada às suas necessidades e condições locais. O conceito que precisa ficar claro é que esse material precisa ser leve para que as plântulas possam desenvolver suas raízes de forma adequada, sem adensamentos e estagnação de água.

Semeadura
Antes de terminar o preenchimento do substrato nas bandejas, deve-se deixar uma pequena parte não preenchida de cerca de 3 mm e iniciar a semeadura das culturas. Vale ressaltar que a profundidade de plantio poderá variar de acordo com cada cultura. Após semear as sementes, cobrir as bandejas com a mesmo substrato preparado e regar com pulverizador.


Semeadura nas bandejas de mudas.

O tempo de permanência das mudas no viveiro varia de acordo com a cultura, podendo estar entre os limites de 20 a 30 dias. De forma técnica, as plantas devem ser transferidas para o canteiro quando estiverem com 3 a 4 folhas definitivas.       

Irrigação das bandejas
Por fim, devemos também ter muito cuidado com a irrigação das bandejas contendo as sementes e plântulas. Nessa fase, se não houver a atenção necessária, jatos fortes de água podem até mesmo deslocar as sementes de seus receptáculos e no caso das plântulas danificá-las severamente. O ideal é que essa operação seja feita com o auxílio de pulverizadores, desde que nunca tenham sido usado, anteriormente, com venenos e agrotóxicos. Sistemas adaptados de microaspersão também podem ser usados.


Irrigação de mudas com o uso de pulverizador.

Uma alternativa muito interessante, e de custo quase zero, é construir os nossos próprios regadores de viveiros. Para isso, basta tomar uma garrafa PET de água, por exemplo, e com o auxílio de uma agulha de costura com a ponta aquecida ao rubro, perfurar a parte lateral superior. Dessa forma, será possível obter um fluxo muito suave de água e assim evitamos maiores problemas. 

Regador para mudas fabricado com garrafa PET reciclada.

Viveiro de espécies florestais e frutíferas
Para a produção de mudas de espécies frutíferas, florestais e/ou nativas devemos preparar bem o solo que serão colocados nas bolsas plásticas, pois o tempo de permanência das diferentes espécies de plantas no viveiro podem variar de meses a até dois anos, dependendo da espécie. O substrato poderá ser feito da mesma forma proposta para o viveiro de hortaliças e em seguida, semeadas as culturas.


Produção de mudas de espécies florestais frutíferas no viveiro da Machamba Modelo da Agricultura Natural em Marracuene.


Plantio e transplantio
(Capítulo 8 do Módulo 2 do Livro do Curso de Agricultura Natural)
No capítulo anterior discutimos a importância da produçào adequada de mudas, especialmente daquelas plantas que possuem sementes muito pequenas. No entanto, por vezes é recomendado proceder à semadura direta de muitas culturas agrícolas, mesmo que estas tenham sementes pequenas, como é o caso, por exemplo, das cenouras.
Após atingir o período adequado de preparo do solo podemos iniciar o plantio/transplantio das culturas, respeitando-se, como já dissemos, a melhor época de produção, o tipo de solo mais adequado, bem como o espaçamento correto para cada caso.
A profundidade de semeadura das sementes varia com cada cultura, mas de forma geral, devemos semear a cultura a uma profundidade de 3 vezes o tamanho da semente. Sementes muito pequenas colocadas em profundidades muito elevadas podem não ter força suficiente para se desenvolver.

Plantio
Após o período de preparo da terra, retira-se o capim seco e revolve-se a terra novamente, pois durante o período de preparo podem ter se formado camadas duras na superfície do solo. Em seguida são abertas linhas de plantio e semeia-se a cultura desejada, respeitando-se o compasso. Por fim, cobre-se com uma fina camada de capim seco ou ainda o caniço, nesse último caso nos intervalos entre as linhas. 

Plantio direto de rabanetas com caniço nas entrelinhas. Machamba Modelo da Agricultura Natural em Marracuene.

Transplantio
As culturas que necessitam de transplantio devem ser retiradas cuidadosamente do viveiro de mudas com o uso de uma pá de transplante, após atingirem 3 a 4 folhas definitivas. Abre-se uma cova no canteiro definitivo e planta-se a muda, nivelando-a com a superfície do solo. Em seguida, cobre-se com terra, preenchendo os espaços vazios  e dando uma leve pressão para evitar bolsões de ar. Após o transplantio, deve proceder a rega e por fim cobre-se com capim seco para proteger a planta contra a radiação solar intensa e manter a umidade do solo por mais tempo.
O transplantio das culturas que estão em viveiro deverá ser realizado preferencialmente no período mais fresco do dia, ou seja, a partir das 16 horas, de forma que as plantas não sofram após sua transferência para o campo. 


Transplante de mudas.
                  
Determinadas culturas necessitam de equipamentos adicionais para promover a semeadura dos campos. É o caso das cenouras, cebolas e rabanetes por exemplo. Essas culturas podem e devem ser plantadas com um certo adensamento, afim de garantir uma boa produção por hectare. Porém, o número de plantas por metro quadrado acaba sendo muito alto e se formos colocar as sementes no solo manualmente, certamente teremos muita dificuldade em obter os rendimentos agrícolas adequados. A alternativa, portanto, é usar semeadores e plantadeiras. No caso de cereais como o milho, por exemplo, a semeadura poderá ser feita manualmente caso a área a ser cultivada seja relativamente pequena. Porém, se a intenção é cultivar em grandes espaços, o uso de equipamentos é quase inevitável.
Existem no comércio diversos tipos de semeadeiras e plantadeiras. A escolha poderá ser feita, principalmente em relação ao capital disponível para ser investido. Mais uma vez, levando em consideração a realidade econômica de nossas comunidades agrícolas, vamos nos atentar aos equipamentos mais simples e baratos.


Uso de plantadeira tipo matraca no plantio de feijão no Pólo de Agricultura Natural da Moamba.


Plantadeira alternativa para sementes miúdas como cenouras, rabanetes e outros. Uma vídeo-aula mostrando a construcão desse equipamento pode ser visualizada no endereço https://www.youtube.com/watch?v=cqLOt4TMt0c.


Tratos culturais
(Capítulo 9 do Módulo 2 do Livro do Curso de Agricultura Natural)
Tratos culturais são operações agrícolas que devem ser realizadas durante o período de desenvolvimento das culturas, de forma que a planta possa expressar o máximo de seu potencial de produção. Dentre estas práticas podemos citar: adubação de manutenção, capina, escarificação, desbaste, tutoramento, controle de insetos, cuidados com rega, cuidados no transplantio e amontoa.


Adubação de manutenção
Antes de iniciarmos o plantio ou transplantio das culturas no campo, preparamos o solo de forma a garantir os nutrientes para o seu desenvolvimento através da ativação de sua microbiota, principalmente. No entanto, por vezes estes nutrientes incorporados ao solo durante seu período de preparo não são suficientes para garantir o bom funcionamento do sistema até que as culturas atinjam seus respectivos pontos de colheita, bem como suas produções desejadas. Sendo assim, é importante fazermos a adubação de manutenção das culturas, lembrando sempre que a matéria orgânica incorporada ao solo servirá para manter ativa sua biologia.
Esta operação consiste em colocar compostos orgânicos previamente decompostos ao redor de cada planta, tomando-se o cuidado para não colocá-los sobre a planta, pois isso poderia ocasionar queimaduras devido ao processo de decomposição da matéria orgânica parcialmente decomposta. Essa prática deverá ser realizada quando observarmos que as culturas estão apresentando alguma deficiência e/ou paralisação no seu desenvolvimento.


Capina (sacha)
A capina (sacha) deve ser praticada periodicamente, à medida que observarmos que a vegetação espontânea está se desenvolvendo mais que as culturas principais. O capim retirado do local, poderá ser incorporado novamente ao solo ou mesmo servir como composto para o próximo cultivo.

Escarificação
Com as regas diárias dos cultivos, o solo, quando for de textura média ou argilosa, tende naturalmente a ficar parcialmente compactado em sua superfície, trazendo como consequência a redução da infiltração da água, o impedindo o desenvolvimento adequado das raízes das plantas, bem como absorção de nutrientes. Sendo assim, ao observarmos uma redução no desenvolvimento das culturas, devemos fazer uma leve escarificação, ou seja, revolver a terra com um ancinho ou sacho manual ao redor de cada planta ou linha de plantio, de modo que o solo fique mais fofo e permeável. Durante esta prática, devemos tomar o cuidado para não ocasionar a quebra ou danos às raízes. O uso constante de cobertura morta pode ajudar a evitar a necessidade desse tipo de trato cultural.

Desbaste
O desbaste de plantas, é uma operação agrícola que consiste em arrancar as mudas excedentes que se desenvolvem nos canteiros das hortícolas que foram plantadas diretamente. Um exemplo prático é o caso do plantio de cenoura e beterraba. Durante a semeadura, normalmente colocamos mais de uma semente em um único sítio dentro da linha de plantio com objetivo de garantir a germinação. Com isso, ao germinar, nasce mais de um planta em um único local e assim, faz-se necessário a retirada das mudas excedentes e deixar apenas uma única planta, de forma que a raiz possa se desenvolver adequadamente e a produção seja garantida.

Tutoramento
Algumas hortícolas crescem muito, mas têm os caules finos e que se quebram ou dobram com facilidade, principalmente quando estão produzindo. Caindo, ficam encostados ao solo úmido e suas folhas apodrecem, prejudicando a planta e a sua produção. Além disso, nessa condição dificultam muito a colheita dos frutos, como por exemplo os tomateiros. Para evitar que isso aconteça, devemos fazer o tutoramento ou estaqueamento das plantas, principalmente com bambus ou estacas de caniço, por exemplo. Estas estacas, poderão servir como suportes de sustentação da planta, como é o caso do tomate e feijão verde.
Outra forma de fazer o tutoramento, é colocar nos limites do canteiro um tronco de madeira de aproximadamente 1 metro de altura, esticar um arame por cima e em seguida, colocar em cada planta uma linha de algodão que possa servir como tutor, sendo a linha amarrada ao pé da planta até o arame que está esticado acima, de forma que a planta permaneça sustentada.


Tutoramento usando estacas e arames.


Controle de insetos
Na agricultura natural, o controle do ataque de insetos deve ser feito através do estabelecimento do equilíbrio ecológico em todo o sistema. Neste sentido, devemos trabalhar com os conceitos de manejo ecológico do solo, que permitem estabelecer uma produção agrícola, onde a biodiversidade, as interações do solo com as culturas e o clima sejam levadas em consideração para o sucesso da produção natural e assim, as plantas atingirem seu máximo potencial de desenvolvimento.
O inseto não deve ser encarado como um agente prejudicial ao sistema, mas sim como parte integrante de todo o sistema produtivo. Se um ataque de insetos está ocorrendo em sua produção agrícola é para mostrar que algo na sua forma de manejar o solo não está de acordo com às Leis da Natureza.
Ao desbravar uma área para o plantio de culturas, sem querer, acabamos por gerar desequilíbrios ao sistema, acarretando em destruição dos abrigos dos inimigos naturais e exposição do solo a condições adversas, gerando, consequentemente, a predominância de uma determinada população de inseto que acaba tornando-se “praga”.
Neste sentido, o estabelecimento de aceiros e faixas de vegetação nativa entre os canteiros produtivos, o respeito à melhor época de cultivo e a aptidão do solo com a cultura,  torna-se fundamental para a manutenção do equilíbrio natural entre os cultivos e com isso, manter o sucesso da produção agrícola.

Cuidados com a rega
A necessidade de água das culturas varia de espécie para espécie, existindo culturas que sobrevivem em condições de sequeiro e outras que necessitam de áreas inundadas para se desenvolverem adequadamente. As condições de sequeiro são estabelecidas após o pegamento da cultura no campo e um exemplo prático são as culturas de manga, caju, massala, maphilwa, canhueiro e mafureira, que após estabelecidas no campo, praticamente sobrevivem com a absorção da água subterrânea.
Já o arroz e agrião, são exemplos de culturas que se desenvolvem em locais inundados, sendo portanto, mais proprícios para serem produzidos em solos argilosos, que conseguem reter maiores quantidades de água.
Sendo assim, respeitando-se as condições inerentes de cada cultura, podemos definir alguns cuidados com a rega. Ela deve ser feita preferencialmente, no período da manhã até no máximo 8 horas e no final do dia a partir das 16 horas. Devemos tomar cuidado para não jogar jatos fortes da água sobre o solo, bem como sobre as plantas, pois do contrário podemos criar camadas duras na superfície do solo e ainda quebrar as plantas. Isto geralmente acontece quando é utilizado mangueiras ou baldes para realizar a rega. Portanto, uma prática simples para quem utiliza mangueiras, é colocar o dedo na ponta da mangueira, de forma a reduzir o impacto da água e regar a sua horta como se fosse uma chuva fina.

Amontoa

Essa prática agrícola deve ser realizada em algumas culturas, principalmente aquelas que objetivamos colher os bulbos e/ou raízes, como é o caso do amendoim, a batata-doce, batata-rena, beterraba, cebola, cenoura, rabanete, entre outros. Muitas destas culturas, antes mesmo de atingir sua produção, começam a sair para fora do solo e com isso, sofrem com ressecamento e reduzem seu desenvolvimento. Portanto, faz-se necessário a operação de amontoa, que se refere a junção de mais terra ao redor da base do caule da planta, de forma que a terra cubra a parte da raiz que está saindo para fora e garanta melhor produção.

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