Biodiversidade, Redes e Interações Agroecológicas
(Capítulos 2 e 3 do Módulo 2 do Livro do Curso de Agricultura Natural)
BIODIVERSIDADE
Um dos pontos fundamentais para realmente compreender
e praticar a Agricultura Natural, sendo ela um método que segue as Leis Naturais, como nos ensina Mokiti Okada, é estarmos
atentos para a biodiversidade de
nossos campos agrícolas. Observe novamente uma mata ou pequena floresta e
perceberá a grande quantidade de espécies vegetais e animais que coexistem
naquele local. A natureza é composta, como já dissemos, de redes de interações,
onde o fluxo de energia entre cada um dos seus componentes é dinâmico. Mas para
isso, é necessária a presença de um grande número de espécies. Vamos ver como a
biodiversidade afeta diretamente o que comemos.
(...)
A biodiversidade pode ser comparada a uma espécie de
apólice de seguros, permitindo que plantas e animais se adaptem às mudanças
climáticas, ataques de parasitas e doenças ou outros imprevistos. Um sistema
biologicamente variado possui anticorpos que lhe permitem reagir contra
organismos perigosos e restabelecer o seu equilíbrio. Um sistema baseado em um
número limitado de variedades, por outro lado, é muito frágil.
(...)
Como nos mostram os registros paleontológicos, na
história do nosso planeta, tudo tem uma origem e um fim, e muitas espécies se
extinguiram em todas as épocas. Mas nunca aconteceu na velocidade assustadora
dos últimos anos, mil vezes superior a épocas passadas, segundo alguns estudiosos.
Em 100 anos, mais de 250.000 variedades de plantas se extinguiram e, segundo as
previsões de Wilson, continuarão a desaparecer num ritmo de três espécies por
hora (algo em torno de 27.000 por ano!) (WILSON, 1992). Durante o verão de
2012, depois de um estudo de muitos anos, a prestigiada Universidade de Exeter
declarou que a Terra está atravessando a sexta grande extinção em massa (a
quinta ocorreu a 65 milhões de anos, onde desapareceram os dinossauros).
Num recente comunicado, a FAO (Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação) alertou que o mundo vive um processo de
extinção de um número sem precedentes de alimentos. Em seu primeiro
levantamento em mais de dez anos sobre biodiversidade no campo agrícola, a FAO
afirmou que os governos devem criar estruturas para preservar essas espécies.
Pelo levantamento feito, há 100 anos o número de espécies vegetais usadas na
alimentação humana era de 10.000 e hoje esse número é de 170. Das cerca de
trinta mil espécies de plantas terrestres comestíveis que ainda se conhecem no
mundo, apenas 30 culturas são responsáveis por 95% das necessidades de energia
para a produção da alimentação humana – com arroz, trigo, milho, painço e sorgo
representando 60% dessas necessidades. (FAO, disponível em http://www.onu.org.br/fao-preservar-variedade-genetica-dos-alimentos-e-fundamental-para-combater-fome-e-desnutricao/).
A mecanização não favorece a diversidade
A
agricultura industrial, por sua natureza, precisa de uniformidade e alta
produtividade (produzir cada vez mais no menor espaço de terra possível), isto
é, de monoculturas. A partir dos anos 50, a produção agrícola começou a
depender, cada vez mais, de um pequeno número de espécies e variedades,
selecionadas para responder às necessidades do mercado global, sem considerar
os vínculos com o território, mas capazes de serem produzidas no maior número
possível de ambientes e climas, com uma boa resistência a manuseio e
transporte, e com um sabor uniforme e padronizado. Por exemplo,
das milhares de variedades de maçãs selecionadas por agricultores, apenas
quatro variedades comerciais representam 90% do mercado global.
Do ponto de vista da Agricultura Natural, a variedade
biológica de espécies de vegetais e animais representa um grande potencial para
o futuro dos nossos campos agrícolas. Mokiti Okada nos ensina que devemos
observar com muita atenção os alimentos que nascem naturalmente em uma
determinada região, quando diz que “apesar
de existir algumas diferenças, dependendo do clima e das características da região,
todos os alimentos são produzidos de maneira adequada às pessoas aí nascidas.” e
ainda “está de acordo com as Leis da
Natureza o homem alimentar-se de produtos da safra e da terra em que nasceu e
cresceu”. As variedades definidas como autóctones
ou locais são o resultado de uma
seleção (natural ou auxiliada pelo homem) em áreas específicas. Todas estas
variedades caracterizam-se por uma boa adaptação às condições ambientais da
própria região e têm, normalmente, menor necessidade de recursos externos, como
água por exemplo. São mais rústicas do que a maioria das variedades “padrão” e
mais resistentes ao stress ambiental.
A sua capacidade de obter melhores resultados em suas regiões de origem (como
desertos, cerrados ou montanhas) representa um importante recurso agrícola e
uma ferramenta fundamental para a soberania alimentar. Não é por acaso que
estas variedades têm um forte vínculo com a cultura das comunidades locais
(hábitos, receitas, conhecimentos, dialetos, etc.).
Algumas definições úteis
Como forma de auxiliar a compreensão do que virá a
seguir no nosso curso e também para ajudar a sedimentar as informações até aqui
expostas, vamos mostrar rapidamente algumas definições de termos importantes.
Ecossistema
Um ecossistema é um conjunto de organismos
vegetais e animais, incluindo o homem, interagindo entre si e com o ambiente
que os rodeia. Os ecossistemas incluem, por exemplo, lagoas, rios, florestas,
cerrados e savanas. Cada ecossistema procura manter o seu equilíbrio. Se esse
equilíbrio for perturbado, o ecossistema tentará a todo custo restaurá-lo,
mesmo que isso traga algum prejuízo para o homem, num determinado momento. Por
exemplo, quando abrimos campos para agricultura intensiva, retirando do local a
vegetação nativa ai existente, logo percebemos a natureza agindo de forma a
tentar reestabelecer o equilíbrio original com o aparecimento quase imediato de
“ervas invasoras” (o irônico é que do ponto de vista do ecossistema original, invasoras são as culturas introduzidas
pelo homem). Nesse ponto o ser humano terá dois caminhos a seguir: ou trabalha contra ou com a natureza. Mas
isso vamos discutir posteriormente.
Seminatural
Um ambiente seminatural tem características
semelhantes a um ambiente natural, como a composição de espécies e processos biológicos,
mas que depende da intervenção humana (como corte ou poda) para que se mantenha
neste estado. Por exemplo, as machambas da
Agricultura Natural em Moçambique constituem uma grande variedade de espécies
vegetais cultivadas e espontâneas, além de normalmente muitas variedades de
pássaros e insetos que coabitam e cooperam entre si no restabelecimento do
equilíbrio original, desta vez com a presença do homem agricultor.
Espécies
Uma espécie é um conjunto de organismos que podem
intercruzar e produzir descendentes. Cada espécie é geneticamente diferente das
outras e bem reconhecível, graças a características morfológicas específicas
(forma e cor das flores, frutos, folhas, no caso de plantas; ovo, penas,
chifres, pelo, etc. no caso de animais). Ao longo dos séculos, os indivíduos de
uma espécie diferenciaram-se para se adaptarem aos diversos ambientes. Por
exemplo, o gado das regiões mais agrestes desenvolveu patas mais curtas e
robustas, pelo mais espesso e são relativamente menores para pastar em terrenos
mais hostis. As plantas dos climas mais áridos desenvolveram a capacidade de
dar frutos com escassez de água e assim por diante.
(...)
Variedade cultivada (cultivar)
Uma variedade (ou cultivar) é um conjunto de plantas
cultivadas, distinguíveis claramente por suas características morfológicas,
fisiológicas, químicas e qualitativas. A variedade é estável, conservando suas características também ao se reproduzir
(através de sementes ou vegetativamente, como por estacas ou mudas).
(...)
Ecótipo (população vegetal)
O ecótipo é uma população pertencente a uma espécie
(geralmente reproduzidos por sementes) que se adaptou geneticamente a um
território específico, geralmente de extensão limitada. Esta definição é
semelhante à definição de variedade (cultivar) autóctone. A diferença é que o
ecótipo não tem uma identidade genética precisa, estável e definida, e não faz
parte de uma classificação ou registro oficial. Ainda assim, é muito importante
para a proteção da biodiversidade cultivada.
Plantas híbridas
Os agricultores sempre selecionaram plantas
(observando atentamente os campos que dão as melhores safras ou as plantas que
dão os frutos maiores) ou realizam cruzamentos
entre variedades da mesma espécie para obter plantas com características
melhores. Plantas híbridas são variedades ou ecótipos que derivam da combinação
de material genético de diversas espécies. A hibridação pode acontecer
naturalmente ou ser feita pelo homem (o chamado melhoramento genético).
A maioria dos híbridos comerciais, criados para
atender às exigências do mercado, são protegidos por patentes. Isto não impede que os agricultores comprem e cultivem as
sementes. A patente significa apenas que uma parte do preço pago (royalty) será
destinada ao detentor da patente (que pode ser público ou privado). Mas há algo
que os agricultores não podem fazer ao cultivar híbridos comerciais: não podem
coletar e guardar as sementes de sua colheita para uso numa safra futura. O que
acontece com os híbridos comerciais? A primeira geração de sementes compradas
(chamadas F1) será melhor que os “pais” da qual deriva por cruzamento, tendo,
portanto, as características desejadas em termos de produção e/ou vegetação.
Mas se os agricultores guardarem a semente F1 para produzir uma segunda geração
(F2), ela será uma mistura de características, quase sempre piores que a
anterior. Portanto, os agricultores precisam comprar novas sementes todos os
anos.
Híbridos animais
Um híbrido animal é o resultado de um cruzamento entre
animais de espécies diferentes, mas com uma afinidade
estrutural e genética suficiente entre os cromossomos das duas espécies. Um
exemplo de animal híbrido é a mula, resultado do cruzamento de um jumento com
uma égua, ou bardoto, resultado do cruzamento de uma jumenta com um cavalo. As
crias destes cruzamentos são geralmente estéreis. Quando os híbridos vêm de
raças ou populações diferentes da mesma espécie, são chamados interespecíficos
ou, mais comumente, mestiços.
Organismos geneticamente modificados
e organismos transgênicos
Um
organismo geneticamente modificado (OGM) é todo aquele que foi submetido a
técnicas laboratoriais que, de alguma forma, modificaram seu genoma, enquanto
que um organismo transgênico foi submetido a técnica específica de inserção de
um trecho de DNA de outra espécie. Assim, o transgênico é um tipo de OGM, mas
nem todo OGM é um transgênico. Devido a relação existente entre esses termos,
frequentemente, eles são utilizados de forma equivocada como sinônimos.
Para
ficar um pouco mais claro, os organismos geneticamente modificados são todos
aqueles oriundos, por exemplo, dos cruzamentos entre plantas diferentes com o
objetivo de se produzirem plantas melhoradas, isto é, com maior poder de
produção agrícola. Já no caso dos organismos transgênicos os cientistas
conseguiram modificar o código genético de determinadas espécies de
plantas e animais introduzindo na cadeia de DNA os genes de espécies
completamente diferentes, inclusive de reinos diferentes.
(...)
REDES E INTERAÇÕES AGROECOLÓGICAS
A biodiversidade das machambas
Grande parte do nosso trabalho com a Agricultura
Natural, em particular em Moçambique, baseia-se no estabelecimento da
biodiversidade nas machambas. Nos nossos modelos, atualmente em pleno
funcionamento, é comum encontrarmos dezenas de espécies vegetais, além de
muitas variedades de várias dessas espécies. Por exemplo, ao cultivar alfaces
procuramos sempre introduzir nos canteiros muitas variedades dessa planta,
selecionadas ao longo dos anos de experiência com as condições climáticas e de
solo onde nossos campos se encontram. Além disso, também damos enorme
importância para as culturas locais, muito melhor adaptadas na verdade, que as
culturas instaladas. Exemplos são as plantas da família dos amarantos (tsec), o
feijão-nhemba (feijão-de-corda), chiquepo (nhame africano), mapira (sorgo) e
outras. E além disso, também procuramos manter espaços estratégicos dentro
das machambas destinados ao “cultivo” de vegetação espontânea. Portanto, se
considerarmos todas as espécies vegetais presentes em nossos campos, esse
número certamente chagará à casa das centenas. Além disso, a presença de um
grande número de plantas diferentes, sem esquecer das árvores, favorece
enormemente o aparecimento e instalação de muitos animais, notadamente insetos
e pássaros, que têm um papel fundamental na manutenção do equilíbrio ecológico
dos ecossistemas instalados.
Biodiversidade das machambas da Agricultura Natural em
Moçambique. Polo de Agricultura Natural da Moamba.
Redes de conexão da vida
Pelo exemplo anterior, dá para notar claramente que
tudo na natureza, de uma forma ou de outra, está
conectado. O sucesso do trabalho agrícola, em particular da Agricultura
Natural ou ainda qualquer outro sistema agrícola que valorize a vida, está em
ser capaz de reconhecer e ajudar o estabelecimento das redes de conexão
entre os vários integrantes de um sistema. Por outro lado, o ponto fraco de
todo e qualquer sistema de produção agrícola convencional está justamente na
falta de capacidade de reconhecer a importância dessas redes de conexão, e
consequentemente, na ausência de ações que as favoreçam. Contudo, como já deve
ter-se notado até aqui, a natureza possui seus próprios mecanismos para
devolver ao sistema o seu equilíbrio original.
“Nas
colheitas, um efeito atemorizador pode ser observado através da proliferação de
insetos, que aparecem para consumir as
toxinas das plantas. Os agricultores, não compreendendo essa razão, empregam os mais variados tipos de
fertilizantes químicos que, por sua vez, produzem mais e mais toxinas e insetos
nocivos.
Á medida que diferentes
fertilizantes químicos são utilizados, aparecem diferentes tipos de insetos.
Para combater as pragas, então, os agricultores empregam inseticidas venenosos,
que produzem insetos de natureza ainda mais nociva. Essa tendência é evidente
de ano para ano, à semelhança do que ocorre com a variedade e o número de
doenças humanas, que aumentam à medida que são usadas drogas mais fortes.
Por uma lei da Natureza, à medida
que as plantas absorvem os fertilizantes que lhes são tóxicos, aparecem
espontaneamente germes e insetos nocivos. De acordo com a mesma lei, as toxinas
devem ser eliminadas. E, para isso, a Natureza dispõe de seus próprios meios.
Os insetos porém, não ingerem somente as toxinas, mas também uma parte das
plantas, que então adoecem e morrem.
O mundo físico é governado por leis
autorreguladoras. Onde quer que se acumulem produtos estranhos e prejudiciais,
produzir-se-á automaticamente uma atividade corretiva para eliminá-los.
Consequentemente, quando os seres humanos prejudicam o equilíbrio da Natureza
com drogas artificiais, produzem-se atividades purificadoras, de acordo com a
lei natural.”
Mokiti Okada
Mokiti Okada também é muito claro quando nos orienta
sobre os efeitos negativos de não se observar certas leis fundamentais da
natureza. Em outras palavras, vale aqui também a descrição da Terceira Lei de
Isaac Newton (1643-1727), ou comumente chamada de Princípio da Ação e Reação, que diz que “a toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade”.
Ao promover o desequilíbrio natural, o ser humano precisa ter em conta que a
natureza tentará, por seus próprios caminhos, reestabelecer esse equilíbrio.
Quanto mais agressivos formos em relação a ela, maior será sua ação contrária.
Se empregarmos venenos cada vez mais fortes, as pragas acabam por se tornar
cada vez mais resistentes, ou mais fortes,
em relação aos diversos princípios ativos contidos nas formulações dos mais
diversos defensivos químicos (o termo agrotóxico é politicamente incorreto para
quem defende o uso de tais substâncias).
Também a destruição do habitat de várias espécies
animais acaba por provocar danos gigantescos aos campos agrícolas, na medida em
que o equilíbrio ecológico entre as espécies animais é rompido. Quando isso
acontece em decorrência da ação predatória dos seres humanos, começamos a
sentir a reação da natureza quase que imediatamente.
No início do nosso trabalho com a Agricultura Natural
no distrito da Moamba, em Moçambique, dispúnhamos de uma área de sete hectares
sem praticamente nenhuma árvore e com todo o solo coberto quase exclusivamente
com um só tipo de capim, comumente conhecido como capim sul-africano. Esse
terreno está inserido num projeto agrícola familiar, que conta com uma área
total de aproximadamente 460 hectares, onde cerca de 160 famílias de
agricultores tentam desenvolver seu trabalho com a terra. Começamos a tentar
montar um sistema simplificado de manejo agrícola, denominado machamba-mandala,
onde optamos por uma configuração circular dos nossos canteiros. Começamos por
plantar corredores de feijão-boer (feijão-guandu) para servirem de barreiras de
ventos, construímos um sistema de distribuição de água composto de pequenos
tanques espalhados pela área e interconectados por canais escavados no solo,
criando corredores úmidos, plantamos
dezenas de sementes de hortícolas e
outros tipos de vegetais, promovemos o plantio de centenas de mudas de árvores
frutíferas e de sombra, etc. Com uma certa dose de dificuldade, conseguimos
avançar com o trabalho no primeiro ano, ressaltando que em nenhum momento
apelamos para o uso de qualquer tipo de fertilizante químico. Toda a adubação foi
promovida com o uso de composto vegetal obtido, na grande maioria das vezes, de
materiais oriundos dos próprios terrenos e também das culturas de preparação, como o caso de algumas leguminosas.
Após pouco mais de seis meses de trabalho, já tínhamos
uma espécie de núcleo ecológico na nossa machamba, ou seja, já havia iniciado o
estabelecimento de um pequeno ecossistema equilibrado e isso permitiu que
conseguíssemos colher os primeiros resultados do nosso trabalho até ali.
Animados com essa primeira fase, partimos para a ampliação dos campos e uma
área de aproximadamente 3.000 metros quadrados, adjacente à nossa primeira mandala, o qual foi preparada para o
plantio de feijão e milho. Naquela altura já estávamos no mês de outubro,
aguardando, portanto, o início das chuvas na região. Como forma de auxiliar o
trabalho, instalamos alguns aspersores e iniciamos o cultivo um pouco antes da
chegada do período chuvoso. Não demorou para que nossas sementes germinassem e
logo as plantas estavam vistosas e bonitas. Foi quando, numa única noite,
sofremos o ataque de coelhos que devastaram toda essa segunda área.
O primeiro impulso da nossa equipe de trabalhadores
foi tentar ir atrás dos animais, instalando armadilhas. No entanto, uma rápida
inspeção no entorno de nossa área, alertou-nos para uma triste realidade. Como
estávamos ainda no período da seca, tudo o que se podia ver eram grandes
extensões de terra sem praticamente nenhum tipo de vegetação verde, quase
nenhuma árvore e muito solo queimado, já que nessa época é comum as pessoas
colocarem fogo nos matos, muitas vezes como forma de caçar alguns roedores
típicos da região. Essa prática quase sempre provoca incêndios descontrolados
que por vezes destroem a vegetação seca de centenas de hectares de uma só vez.
O único lugar, naquele período, que dispunha de vegetação verde, formando uma
espécie de oásis, era justamente o nosso terreno. Vamos entrar em maiores
detalhes sobre o nosso manejo mais adiante, mas por hora é suficiente dizer que
o nosso terreno podia ser comparado a uma espécie de refúgio não só aos
coelhos, mas também a um grande número de outras espécies de animais. Nossa
equipe de trabalhadores locais teve que se adaptar rapidamente a uma nova
filosofia de trabalho, onde aprenderam a importância das relações entre as
diversas formas de vida. E por algum fato que ainda nos é misterioso, à medida
que nosso núcleo ecológico, na forma
da mandala, ia sendo estruturado, os ataques de pragas iam diminuindo. Os
coelhos, por exemplo, até passeiam pela área, mas quase nunca tocam em qualquer
planta que seja, mesmo aquelas das mesmas espécies das quais eles se alimentam
em outras áreas do terreno.
A criação de
zonas úmidas, através dos pequenos tanques e canais de escoamento de água,
atraiu uma grande quantidade de pequenos animais, como algumas baratinhas e
coleópteros, além de muitos sapos e rãs. Estes últimos nos auxiliam muito no
controle de outros insetos, como os gafanhotos. Por outro lado, a presença
desse grande número de sapos e rãs também atraiu um bom número de serpentes que
acabaram por ajudar a controlar a população de ratos silvestres, que no início
dos nossos trabalhos foram responsáveis por comer a maior parte da nossa
produção de batata-doce.
Com o plantio de flores e a manutenção de áreas com
vegetação espontânea, que também produzem florações ao longo de todo o ano,
temos uma infinidades de insetos polinizadores presentes no nosso sistema. Só
abelhas, na última verificação feita, encontramos cinco espécies numa área de
pouco mais de 5.000 metros quadrados.
Zona úmida numa das machambas do Pólo de Agricultura
Natural da Moamba.
Como no exemplo descrito no item anterior, também
nesse nosso terreno da Moamba, a presença de insetos atraiu um grande número de
pássaros que passaram, inclusive, a construir seus ninhos dentro das áreas de
cultivo. Esses pássaros ajudam no controle de insetos, principalmente
gafanhotos, e acabaram por atrair também um grande número de aves maiores, que
passaram a frequentar nossos campos. Essas aves maiores, gaviões e falcões,
também se alimentam de cobras, e isso ajuda a controlar a população dessas
últimas.
Os insetos polinizadores são fundamentais para
garantir nossas produções agrícolas, na medida em que fecundam as flores ao
coletar o pólen. Com isso, nosso campo se tornou um verdadeiro caldeirão de
vida. Ainda temos muitos ataques de gafanhotos e outros insetos predadores. Mas
como nossos campos são organizados
segundo uma lógica natural, ou seja, na medida do possível procuramos misturar o máximo possível nossas
culturas, esses insetos não conseguem ser suficientemente rápidos para
ocasionar danos realmente mais sérios. Isso dá mais tempo para os pássaros, por
exemplo, conseguirem ser eficientes no controle das populações daqueles insetos
predadores.
Interações agroecológicas
Conseguir
reconhecer a existência e importância das redes
de conexão da vida em nossos campos será muito útil para nos ajudar a
compreender e usufruir das interações
agroecológicas. Já vimos um exemplo quando mencionamos a importância dos
insetos polinizadores, responsáveis por garantir a frutificação da maior parte
de nossas culturas. Aliás, um fenômeno que tem atraído a atenção da comunidade
científica em todo o mundo é o desaparecimento, já total em muitas regiões, das
abelhas. Hoje, sabemos que as abelhas são responsáveis pela polinização de mais
de 70% das espécies vegetais cultivadas para a produção de alimentos na
atualidade. Se elas continuarem a desaparecer na velocidade em que estão, em
breve poderemos ter um verdadeiro colapso na produção de alimentos. As causas
desse desaparecimento ainda estão sendo discutidas, mas já parece haver um
consenso que, seja ela qual for, a causa original parece estar no desequilíbrio
ambiental.
Uma
interação agroecológica interessante pode ser promovida pelos agricultores
simplesmente plantando o maior número possível de flores. Principalmente as
espécies nativas de uma determinada região, ou ainda aquelas que se adaptem ao
ponto de não necessitarem de cuidados especiais. Um campo florido, ao longo de
todo o ano, certamente trará enormes benefícios aos agricultores, inclusive com
o estabelecimento de um local ainda mais aprazível de se viver e trabalhar. O
plantio de girassol nas bordas de terrenos e talhões, como forma de
demarcá-los, é muito útil em termos de fornecimento de pólen a inúmeras espécies
de abelhas e também como alimento adicional para pássaros.
Campo de girassol no Pólo de Agricultura Natural da
Moamba.
Outra
interação agroecológica interessante e que merecerá, inclusive, uma discussão
mais aprofundada, é o plantio de árvores. Árvores são importantes tanto para a
produção de sombra, quanto o são, por exemplo, para a produção de frutos e
madeira. Além disso, seu sistema radicular também mobiliza nutrientes presentes
em camadas mais profundas do solo que, de outra forma, as culturas agrícolas,
principalmente hortícolas, não teriam
acesso.
Vegetação nativa
Nesse
ponto será importante atentarmos um pouco para a importância da vegetação
nativa de uma determinada região, muitas vezes aparecendo nos nossos campos de
forma espontânea.
“Nos solos tropicais, sabe-se que a
enorme biodiversidade é a base de sua produtividade. Toda modificação que
ocorre no solo, melhora ou piora outras sucessões vegetais. A natureza lança
mão das plantas nativas, para corrigir deficiências ou excessos minerais,
compactações, capas endurecidas ou águas estagnadas; enfim ela tenta
restabelecer sua condição ótima de maior produtividade. E todos sabem que um
solo abandonado sob a vegetação nativa, a capoeira, se refaz completamente,
tanto física quanto quimicamente. De onde vêm os nutrientes? Qual o segredo? O
que fazem as plantas nativas que chamamos de “invasoras”? Sabe-se que são indicadoras, específicas para a
situação que devem corrigir. E, portanto, são também saneadoras.”
Ana Primavesi
Toda planta que invade os nossos
campos estão, na verdade, nos indicando algo. Ainda se conhece muito pouco
dessas interações e por isso, o trabalho dos agricultores, principalmente
camponeses, em todo o mundo é fundamental para que se colham o máximo possível
de informações. Ana Primavesi deu-nos um legado importante, através do seu
livro “Cartilha do Solo”. Nele, ela
resume algumas das interações mais interessantes na prática da Agricultura Natural,
e passaremos a discuti-las a seguir. Antes, porém, será necessário lançarmos
uma vista de olhos numa outra questão que também gera muita discussão e dúvidas
na cabeça da maioria dos agricultores em todo o mundo: por que o mato, nativo, parece crescer muito mais rápido e
eficientemente, que nossas culturas?”
Vamos começar explicando isso da
seguinte forma. Todas as plantas realizam a fotossíntese,
o processo através do qual os vegetais clorofilados (folhas verdes) são capazes de absorver a luz do sol
e transformá-la, em última instância, em matéria verde, biomassa. Contudo, esse
processo fotossintético pode ser conduzido no interior das plantas por dois caminhos metabólicos diferentes.
Dependendo basicamente da região de origem de uma determinada espécie vegetal,
esses caminhos metabólicos podem seguir o chamado Ciclo de Calvin (C-3) ou o chamado Ciclo de Kranz (C-4). Não vamos entrar em detalhes bioquímicos
nesse texto, mas por hora vamos apenas considerar as limitações de cada um
desses caminhos. O Ciclo de Calvin, C-3, é próprio das plantas de clima mais
frio, temperado, onde elas necessitam de quantidades mais elevadas de CO2
do ar para realizarem a fotossíntese, algo em torno de 1 a 3%. Já as plantas do
ciclo C-4 necessitam para a fotossíntese somente 0,1 a 0,5% de CO2
no ar.
Um
dos grandes problemas de cultivos em regiões de clima mais quente, como as
tropicais e subtropicais, é que, das 15 plantas de cultura mais usadas, 12 são
do mecanismos de fotossíntese C-3. Como essas plantas necessitam de quantidades
maiores de CO2 precisam “trabalhar” com os estômatos
completamente abertos, perdendo assim muita água. Como mecanismo de defesa,
essas plantas acabam por fechar seus estômatos
(estruturas nas folhas responsáveis pelas trocas gasosas) durante as horas mais
quentes do dia, interrompendo, assim, a fotossíntese e a produção de biomassa.
Em contrapartida, as plantas de mecanismo C-4, muito melhor adaptadas ao clima
quente, conseguem promover a fotossíntese mesmo com os estômatos quase
fechados, isto é, mesmo durante as horas mais quentes do dia, não param de
produzir biomassa normalmente, continuando a crescer e produzir.
É por
isso que o mato nativo das regiões mais quentes cresce muito mais rápido que
culturas como as alfaces, tomates, batatas, etc. Além desse mecanismo C-4, as
plantas nativas também acabam por usar substâncias alelopáticas como a scopoletina,
cumarina, vanilina e outras, bem como exsudatos radiculares para defender e
assegurar seu espaço. Esse conjunto de fatores de competição pode afetar
seriamente o rendimento das culturas, especialmente em campos sob
irrigação.
Além
desse efeito negativo da alelopatia, também existe a alelopatia positiva como no caso do picão-preto (Bidens pilosa) ou o mastruz (Lepidium virginicum), que possuem exsudatos
radiculares que estimulam, por exemplo, o crescimento do milho.
Quando
uma única espécie de planta nativa (segetal) aumenta muito em uma cultura, esta
pode acabar se tornando hospedeira de nematóides
e outras “pragas”. Por outro lado, se houver grande diversidade de plantas
segetais, esses nematóides e pragas ajudam a manter o equilíbrio dos organismos
do solo e diminuem a possibilidade da cultura ser parasitada. Um exemplo muito
interessante, verificado na literatura e nos resultados de campo, é quando o
alho é plantado sozinho, limpo de invasoras, ele pode ser seriamente afetado
por Melodoygine incognita, um
nematóide. Mas quando ele cresce em conjunto com uma população média de
tiriricão ou junquinho (Cyperus sculentus),
os nematóides podem até existir no solo, mas não afetam o seu crescimento.
Portanto, antes de sair retirando tudo o quanto for plantas invasoras dos
canteiros numa machamba, é bom estar atento para possíveis efeitos positivos
que muitas dessas plantas podem nos trazer. É equivocado o conceito de competição por nutrientes que muitos
agricultores e agrônomos acreditam existir entre as culturas e as plantas
invasoras. Claro que o sistema precisa estar num perfeito equilíbrio para que
tudo dê certo. Por sua vez, a explosão demográfica de plantas invasoras já é
indício mais que suficiente para se afirmar que o sistema como um todo já está
desequilibrado. Por isso não é muito inteligente o uso sistemático de
herbicidas, por exemplo.
O descanso de um solo por algum tempo, embora não seja
o ideal em termos de produção agrícola, pode ser fundamental para o controle
dos segetais. Depois de alguns anos, as invasoras não podem mais competir com a
vegetação nativa, que se assenta. Mas quando essa vegetação é novamente roçada
e plantada não consegue resistir ao preparo do solo e, eventualmente, aos
insumos. Nesse momento aparecerão as plantas invasoras saneadoras das condições
desfavoráveis criadas no solo cultivado convencionalmente. Mokiti Okada é bem
claro quando afirma que um solo precisa estar trabalhando constantemente e que,
quanto mais o fizer, mais estará apto para produzir alimentos. No entanto, ele
também ressalta a importância de se observar as leis da natureza e isso quer
dizer, em outras palavras, conhecer alguns dos seus mecanismos e sermos capazes
de reproduzi-los em nossos campos agrícolas. Eventualmente teremos de tomar a
difícil decisão de deixar uma determinada área “descansando” por alguns anos,
em virtude de infestações de ervas invasoras de difícil controle, e se isso
realmente ocorrer, devemos aproveitar todas as lições tiradas desse evento e
não repetir os mesmos erros no futuro.
Cultivos consorciados e controle de
invasoras
Podemos
usar cultivos simultâneos, também chamados cultivos
consorciados, não só para melhor aproveitar nosso terreno como também para
garantir melhores chances de nossas culturas se desenvolverem mais
adequadamente. Um dos consórcios mais antigo é o de
milhão-feijão-mandioca-abóbora, usado desde antigamente. É sabido que esse tipo
de consórcio é muito menos atacado por plantas invasoras. As abóboras impedem
muitas ervas invasoras que normalmente aparecem no milho, por exemplo, pois não
só conseguem cobrir os solos com suas folhas, como também possuem efeito
alelopático sobre muitas dessas plantas.
A cobertura
do solo, como o mulch, quando atinge
de 5 a 6 cm de espessura, controla as invasoras. A função do mulch de capim, por exemplo,
assemelha-se à das lonas-plásticas, porém sem produzirem os mesmos resíduos
não-biodegradáveis que estas. Quando bem feito e mantido, diminui consideravelmente
a necessidade de sacha (capina) e
outros tratos culturais.
Canteiros sendo preparados com cobertura
de capim no Pólo de Agricultura Natural da Moamba, Moçambique.
Cultivos alelopáticos e sinérgicos
A
seguir, vamos dar alguns exemplos de culturas alelopáticas, ou seja, que não se
gostam e, portanto, devem ser evitadas, e também de algumas culturas amigas, cujo cultivo em comum pode ser
bem interessante.
Tabela 1: Plantas com efeitos
alelopáticos.
Trigo-mourisco
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x
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Trigo
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Sorgo (mapira)
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x
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Trigo
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Sorgo (mapira)
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x
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Sorgo (mapira)
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Sorgo (mapira)
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x
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Gergelim
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Girassol
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x
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Tomate, fumo, batata
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Leguminosas
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x
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Alho, cebola, tomate
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Funcho (erva-doce)
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x
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Todas as hortaliças
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Repolho, brócolis e couve-flor
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x
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Tomate
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Ervilhas
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x
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Nabo, rabanete
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Camomila
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x
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Hortelã
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Nabo-forrageiro, Alfafa
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x
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Mostarda
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Todos os capins
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x
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Colza, canola
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Aveia preta, centeio
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x
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Capins
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Cereais
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x
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Trevo-doce
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Repolho
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x
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Repolho
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Gladíolos
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x
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Arroz
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Papoula
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x
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Cevada
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Aveia branca
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x
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Milho, beterraba
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Abóbora
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x
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Girassol
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Fonte: PRIMAVESI, Cartilha do Solo.
Tabela 2: Cultivos sinérgicos
(plantas amigas).
Tomate
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=
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Cravo-de-defunto
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Ervilhaca
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=
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Todos os cereais
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Batata
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=
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Amarantos
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Cenoura
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=
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Cebola, milho, soja,
alface
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Tremoço
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=
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Videira
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Feijão
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=
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Morango, espinafre
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Leguminosas
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=
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Todos os cereais,
inhame, mamona, mandioca, batata, girassol, pepino e repolho
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Girassol
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=
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Pepino
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Trigo, linho
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=
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Milho, leguminosas
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Repolho
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=
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Beterraba, cenoura
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Milho
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=
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Abóbora, feijão,
mandioca
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Nabo forrageiro, aveia preta
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=
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Feijão
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Alho
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=
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Roseiras
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Fonte: PRIMAVESI, Cartilha do Solo.
Plantas indicadoras
Podemos
usar muitas plantas nativas e espontâneas para nos indicar situações bem
específicas de nosso solo como por exemplo sua acidez, deficiências em termos
de algum nutriente ou mesmo excesso de algum elemento químico. Também podem nos
trazer alguma informação sobre o histórico recente de algum terreno como
queimadas frequentes ao longo dos anos e outros.